summary_large_image
SEGUIR EM FRENTE
Esta é a minha última crónica no Leonino por entender que deve, aqui e agora, fechar-se este ciclo da minha ligação mais mediática ao Sporting.
Imagem de destaque30 Mai 2020, 09:00

Há momentos que marcam as nossas vidas, sejam eles ao nível pessoal ou profissional e o dia 31 de Outubro de 2018 foi um deles. Damos tanto de nós nos trabalhos que temos que, muitas vezes, esses dois níveis entrelaçam-se como a hera que cresce nas paredes das casas, confundindo-se como um só, parecendo que a planta trepadeira já faz parte da construção.

Foi nessa quarta-feira, véspera de finados que, já decorriam talvez uns 10 minutos do encontro para a Taça da Liga entre o Sporting e o Estoril – que perdemos e que levou ao despedimento de José Peseiro –, recebi um telefonema de um membro do Conselho Directivo (CD) a informar-me que aquela edição do Jornal Sporting que estávamos a fechar seria a última que faríamos. Assim, a frio.

Custou-me, particularmente, pela equipa que tínhamos formado e que respondia por um trabalho que me deixava orgulhoso, não apenas como Sportinguista mas também como jornalista e responsável editorial do mais antigo jornal de clubes do Mundo. Fomos todos dispensados com uma avaliação de desempenho do CD de “notável” e não creio que o tenham feito apenas por simpatia.

Esta é a minha última crónica no Leonino por entender que deve, aqui e agora, fechar-se este ciclo da minha ligação mais mediática ao Sporting. Continuarei, como sempre tem sido desde que me conheço, com o meu amor intacto pelo Clube porque nunca confundi pessoas com instituições e se alguma vez vos pareceu excessivas as críticas que fiz foi porque é de quem e daquilo que mais amamos que exigimos o máximo. Para além de não lidar muito bem com injustiças, apesar de saber que estão sempre ao virar da esquina, por vezes na nossa própria casa. O resto é-nos mais ou menos indiferente.

Sigo em frente deixando uma ideia do que gostaria que fosse o Sporting, que para muitos pode ser mais romântica do que propriamente realista. No entanto, é precisamente quando perdemos a capacidade de sonhar e de lutar pelos nossos sonhos que nos poderemos considerar a meio caminho da perdição.

A pedra de toque para se minimizar a crispada divisão entre a família leonina é percebermos que as críticas – sejam elas mais duras ou mais suaves, mas sempre sem recurso ao insulto – fazem parte de um processo construtivo que aponta para uma melhor capacidade de se chegar ao sucesso, o que no nosso caso é medido pela glória desportiva. Criticar Frederico Varandas, Rogério Alves, Baltazar Pinto e as respectivas equipas não tem de ser visto como ataques pessoais porque todos são humanos, com diversas dimensões e nas quais o sucesso é medido de formas diferentes. Considerá-los dirigentes incompetentes não significa que estejamos a colocar em causa as suas condições de médico, advogado e juiz, respectivamente. Falham, apenas e só, na condição de dirigentes. Aceitar o erro e querer fazer melhor é uma das chaves do sucesso, mas para isso é preciso saber ouvir.

Parece-me da mais elementar justiça que os Sócios tenham todo o direito a sentirem-se defraudados pelas promessas não cumpridas, até porque cabe aos dirigentes gerirem as expectativas que eles próprios criam nos adeptos.

Saber lidar com a crítica não é ter a capacidade de ignorar quem as faz e muito menos no que consistem (as críticas), mas interpretá-las e reconhecer se têm ou não fundamento, sabendo contrapor com argumentos válidos na defesa do nosso ponto de vista. Não ter respostas seguras e firmes – e coerentes, muito importante – para as críticas que nos são dirigidas é o atalho mais rápido para o conflito. E há muitas dúvidas que pairam no ar sem resposta que alimentam precisamente a divisão que se vive. Mais ainda do que as diferenças de projecto que cada um pode ter, são as zonas nebulosas que acicatam os espíritos de uma família que sempre foi muito exigente.

Isto leva-me ao ponto seguinte, o de serem os Sportinguistas os seus maiores inimigos, como um dia parece que o presidente do FC Porto disse sobre nós. Sinceramente, prefiro viver a nossa realidade do que a de qualquer outro clube. Apesar de a grande maioria querer ver esta nossa costela permanentemente contestatária como algo negativo e até auto-destrutiva, vejo-a como um espaço de liberdade de pensamento e bastante aversa a unanimismos que cala qualquer oposição. E é possível convivermos todos nestas diferenças, basta lembrarmo-nos que vestimos todos a mesma camisola.

Nunca percebi, por isso, a razão dos órgãos de informação do Clube não reflectirem essas diferentes correntes de opinião. Gostaria, por exemplo, que das próximas eleições no Clube saísse um painel de comentadores (TV) e colunistas (Jornal) formado pelos candidatos derrotados onde, semanalmente, se discutisse a vida do Clube na sua plenitude e não apenas o registo futeboleiro. Sempre me fez confusão os adeptos do Sporting Futebol Clube, que só têm olhos para a equipa principal de futebol, quando são precisamente as restantes modalidades que nos proporcionam a glória que todos ambicionamos, tendo nós um projecto olímpico de fazer inveja a qualquer outro emblema mundial. O que na verdade nos torna tão únicos.

Existem tantas razões de sobra para se fazer uma comunicação pela positiva no Sporting que muitas vezes nos perdemos em minudências que apenas criam ruído num discurso que se quer simples e cristalino. Enquanto dirigi o Jornal Sporting, a nossa equipa teve a felicidade de informar os Sportinguistas das inúmeras conquistas, tendo feito manchetes com modalidades infelizmente muitas vezes tão esquecidas como o atletismo, o andebol, o hóquei em patins, natação e até goalball, quando fomos bicampeões europeus. Os núcleos são, igualmente, outra realidade atirada para segundo plano, quando são eles que mantêm viva a ligação difícil de quem nutre este amor à distância e nos engrandece ainda mais.

Haveria muito mais para dizer, mas não quero abusar da paciência dos leitores. Sigo em frente de consciência tranquila por ter dado o melhor de mim, como pessoa no relacionamento com quem lidei e como profissional da área da comunicação. Continuarei a apoiar o meu Clube como sempre e aproveito para desejar o melhor ao Leonino, projecto que me acolheu nesta importante fase de transição, como comentador num registo mais pessoal.

Duas notas finais. A primeira sobre o desfecho do julgamento de Alcochete, que para não me alongar muito, basta aconselhar a crónica do João Duarte (LER AQUI), ontem, no seu espaço de comentário. Não teria dito melhor. A segunda, um abraço público a Carlos Vieira, em quem deposito as minhas esperanças de que um dia possa recuperar o que de bom o CD do qual fez parte deixou. Foi um trabalho (financeiro) interrompido por variadíssimas razões, mas pergunto muito honestamente: quem fez melhor?

Saudações Leoninas e, acima de tudo, VIVA O SPORTING CLUBE DE PORTUGAL!

*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

  Comentários
Mais Opinião
Pedro Figueiredo
Imagem de destaque
TU NUNCA VAIS ACABAR
Não há muito tempo que se ouvia, alegre e intrinsecamente sentido, pelas bancadas de Alvalade que o Sporting ia vencer (podem crer!) porque a força era brutal.
Pedro Figueiredo
Imagem de destaque
E DEPOIS DO ADEUS
É provável que, por esta altura, haja muitas cabeças em Alvalade que perguntar-se-ão o que fazem por ali, quem os abandonou e de quem se terão esquecido.
Pedro Figueiredo
Imagem de destaque
E AGORA, DR. ROGÉRIO ALVES?
Se desportivamente, no futebol, é este o cenário, politicamente não está melhor.
Pedro Figueiredo
Imagem de destaque
TUDO O QUE #VEMDEDENTRO
Diz o senso comum que grandes amores também podem gerar grandes ódios.
Pedro Figueiredo
Imagem de destaque
AMOR EM TEMPOS DE CÓLERA
Não raras vezes são os mais novos que dão o exemplo aos mais velhos, quanto mais não seja por relembrar os mais esquecidos que, acima de tudo, está o amor ao Sporting.
Pedro Figueiredo
Imagem de destaque
CARTÃO PRETO, CARTÃO BRANCO
De um cartão preto saltamos, felizmente, para um cartão branco. Literal. Atribuído por enorme fair-play ao Dinis, jogador da equipa de benjamins de futsal do Sporting Clube de Portugal.
Pedro Figueiredo
Imagem de destaque
SILAS, O MAU DA FITA
Tendo um órgão de comunicação social sido “desonesto” para com o treinador do Sporting, o mais natural seria o Clube – ou melhor, a SAD – colocar-se ao lado do seu profissional, o que não aconteceu.
Pedro Figueiredo
Imagem de destaque
GLÓRIA OU PERDIÇÃO
É uma jogada de altíssimo risco para o Conselho Directivo do Sporting. Aplica-se aqui a história do lobo: tantas vezes se falou num all-in da direcção leonina, que definitivamente aconteceu.