A minha participação na 3ª sessão do Sporting Com Rumo teve um foco que considero importante. De nada interessa estarmos a discutir sustentabilidade financeira sem querermos um rumo definido para aquilo que a nossa organização pretende. E foi por isso que sugeri que o nome do painel se chamasse Sucesso Desportivo Sustentável. Isto porque a realidade de uma organização deve adaptar-se ao que os seus donos pretendem. E por donos, no caso do Sporting Clube de Portugal, falo, claro, dos sócios. E aquilo que pretendem deve ser definido e julgado desde o dia em que alguém se candidata a um órgão social até ao dia-a-dia da sua gestão e do mandato que lhe foi atribuído. Uma pessoa não é Presidente. Está como Presidente.
As críticas construtivas de terceiros que comigo contactaram a posteriori focaram-se no pouco que falei sobre a situação financeira e sobre a reestruturação que se atrasa. Pois, não o tendo feito na sessão, entendo poder deixá-lo escrito aqui no Leonino (que, já agora, em cada dia que passa se torna um órgão de comunicação mais credível, mais plural e mais seguido por outros dos seus pares, o que se saúda).
Em primeiro lugar saúdo também o que Agostinho Abade começou por dizer no referido painel – o Sporting está em crise financeira há pelo menos cinquenta anos. Aproveito e reescrevo algo que já tinha apresentado há uns meses, relativamente aos dados oficiais, apurados pelas auditorias das diversas Direções – a auditoria financeira do Engenheiro Godinho Lopes de 2011, as Auditorias de Gestão da Direção a que pertenci e a recente Auditoria (ainda não formalmente apresentada aos sócios) da atual Direção. Já agora, era positivo que fosse comunicado aos sócios o ponto de situação das investigações e das queixas crime e disciplinares que originaram uma divulgação ilegítima de informação extremamente sensível.
Apresento os resultados líquidos consolidados do Grupo Sporting por mandatos e por Presidente:
- Mandato Pedro Santana Lopes / José Roquette: € -32 Milhões (Prejuízo)
- Mandato Dias da Cunha: € -118 milhões (PREJUÍZO)
- Mandato Soares Franco: € -51M (Prejuízo)
- Mandato José Eduardo Bettencourt: € -70M (Prejuízo)
- Mandato Luís Godinho Lopes: € -111M (PREJUÍZO)
- Mandato Bruno de Carvalho: € +1M (Lucro)
Ou seja, pertenci à única Direção que teve um primeiro mandato e 25% de um segundo que apresentou lucro. Isto tendo em conta as Direções eleitas a partir de 1995.
Como disse no debate, existe neste momento a possibilidade de corrigir um erro histórico que conduziu a que, na construção do Estádio José Alvalade e do complexo Alvalade XXI, a dívida bancária do Clube aumentasse mais de 100 milhões de euros face ao plano inicial. Plano esse que, recordo, pretendia que o património não desportivo alimentasse a atividade geral do Clube, principalmente as atividades desportivas não profissionais.
Assim, segundo o que circula nos meios financeiros, a atual Direção prepara-se para adquirir as VMOCs (obrigações obrigatoriamente convertíveis em ações) a valores entre os 15 e os 20 cêntimos e a conseguir uma redução interessante no valor da dívida bancária. Supostamente terá de seguir o modelo que já tinha sido idealizado por Direções anteriores de criar uma entidade empresarial especial para centralizar essa dívida já que a Sporting SAD não pode legalmente adquirir as suas próprias VMOCs. Assim, aquilo que, por razões não muito claras, foi suspenso em 2018, apronta-se a ser contratualizado. Curiosamente, esta situação de stress associado à COVID-19 pode permitir uma concretização de um negócio desejado por mim e por muitos.
Espero que esta situação de reestruturação não origine um regresso aos desequilíbrios financeiros de que os Sportinguistas já estão cheios e que, de facto, a fazerem-se aquisições de jogadores, sejam de qualidade e para setores chave, onde não existam internamente atletas formados localmente.
Por outro lado, julgo poder existir também a oportunidade de recomprar parte do património do projeto Alvalade XXI, em condições porventura interessantes e que, como atrás afirmei, reponha a justeza financeira de um projeto que, importa relembrar, foi aprovado por uma grande maioria de sócios do Sporting Clube de Portugal. Para quem desconhece, o Sporting tem direito de preferência perpétuo em futuras transações desses imóveis. Em 2017 e em 2019 já houve transações, tendo o Sporting sido consultado e rejeitado a recompra.
Fecho o presente artigo louvando a iniciativa do Sporting com Rumo. Tendo já assistido a três painéis, e preparando-me para mais três, fico ciente não só do que se discute nos mesmos, mas na réplica continuada no espaço mediático.
Anibal Jacinto
"Já agora, era positivo que fosse comunicado aos sócios o ponto de situação das investigações e das queixas crime e disciplinares que originaram uma divulgação ilegítima de informação extremamente sensível" Já foi transmitido em AG que o Sporting nada pode fazer em relação á divulgação da auditoria uma vez que não tem meios para investigar tal fuga. Parece-me que nem foi feito qualquer tipo de queixa junto das autoridades. É obvio que se sabe de onde veio tal fuga (do próprio clube) numa clara violação dos estatutos ao divulgar dados privados quer do clube quer dos atletas.
Deixe um comentário
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.