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RELAÇÕES PERIGOSAS
O Presidente do SLB anunciou, em chamadas telefónicas, apertões a juízes, curiosamente seus anteriores adversários em eleições para a Direcção.
13 Jul 2020, 09:00

(Antes de mais e como ponto prévio, uma nota de pesar pela morte da jovem basquetebolista Ana Oliveira. Se todas as mortes são tristes, o desaparecimento súbito e imprevisto de uma adolescente de 18 anos assume sempre contornos de tragédia. Aos familiares da atleta, resta-nos endereçar o sentido pesar e o agradecimento pelo tempo – seis anos – que dedicou ao Sporting Clube de Portugal. Por cada leão que cair, outro se levantará. Sempre.

Por outro lado, espero para ver se a contratação de Paim avança e em que termos. Sou das que acha que toda a gente merece uma segunda oportunidade – não deixando de assinalar que, no caso concreto, a concretizar-se, não seria a segunda mas perto da vigésima. Contudo, não posso deixar de registar que, a ser assim, a mesma ocorre quer após um pedido de sacrifício aos trabalhadores do Sporting Clube de Portugal, quer após despedimentos de outros – ou, se preferirem, não renovações de contratos a termo – em qualquer dos casos justificados com contenção de custos. As segundas – ou vigésimas – oportunidades dão-se depois de termos tratado bem dos nossos e assegurado a manutenção de quem está. Dito isto, venha quem vier por bem e vão de uma vez aqueles que não ficam, sequer, felizes com as vitórias do seu próprio Clube.)

Ganhámos. A exibição não terá sido brilhante, com exclusão de Wendel e, claro, Jovane, mas serviu o objectivo: ganhar.

Sempre gostei de pensar que o mérito era o bastante para se ter êxito, ainda que este tivesse necessariamente de ser precedido de esforço, devoção e dedicação. Até há cerca de dois anos, altura em que me foi dito que não voltaria a ver o futebol da mesma forma ingénua com que o encarava até então, acreditei durante mais de 30 anos que os jogos se resolviam em campo, em função do desempenho e, claro, de alguma sorte. Hoje percebo que há muito mais movimentações do que as que decorrem à nossa frente no relvado e, se não resolvem campeonatos, pelo menos ajudam a eliminar adversários.

Não vou, sequer, discutir a legalidade da conduta daqueles que, não se bastando com tudo o mais, prometem prémios aos que jogam com os rivais directos, o que, em larga medida, explica verdadeiras batalhas campais com clubes que, na jornada anterior, mal se arrastavam. Ao contrário do que já vi muitos defenderem, não consigo achar legítimas estas manobras e mantenho que o único incentivo que os jogadores devem – e podem – receber é aquele que é pago pelo seu próprio clube. Tudo o demais assemelha-se a querer ganhar por debaixo da mesa o que não se consegue à luz do dia.

A verdade, porém, é que as manobras de bastidores, para além da movimentação de peças nos diversos tabuleiros, entre Conselhos de Disciplina e outros órgãos, começaram a ver a luz do dia, mais por demérito dos seus protagonistas do que por iniciativa jurisdicional.

Enquanto muitos discutem a transferência de Jesus para o Benfica, cuja aproximação se terá iniciado num, pelo menos à data, estranhíssimo acordo ocorrido no Juízo do Trabalho do Barreiro, opto por me centrar no que a Revista Visão trouxe à luz a semana passada sobre as relações entre Luís Filipe Vieira e alguma magistratura. A fazer fé no que ali se descreve, o Presidente do Sport Lisboa e Benfica anunciou, em chamadas telefónicas, apertões a juízes, curiosamente seus anteriores adversários em eleições para a Direcção e em relação aos quais, tal como sucedeu com Jesus, a zanga ter-se-á esbatido após promessas de lugares (nuns casos de eventuais regressos a um cargo onde já se fora feliz e, noutros, de ingressos em cargos criados para o efeito). E, se tal sucedeu, como se diz na Revista Visão, em processos avulsos, onde se discutia cerca de um milhão, a dúvida de que o mesmo – ou pior – possa ter sucedido em negócios de montante muito superior é mais do que legítima. Quem afirma despudoradamente que aperta juízes, independentemente da sorte que o processo judicial venha a merecer, num processo que, para si, tem importância diminuta, terá um comportamento diamentralmente oposto quando o tema é muito mais relevante?

É aqui que bate o ponto. Olhando para tudo em perspectiva, analisando mais friamente algumas alianças que, à data, nos pareceram estranhas e vendo a movimentação, seja de peões, seja de damas, podemos ter alguma confiança que os diversos campeonatos ganhos pelos encarnados, alguns directamente à nossa custa, o foram licitamente?

*A autora não escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico

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