summary_large_image
O HOMEM QUE SABE DEMAIS…
Como se usa fazer às raposas, uma das coisas que se deve ponderar é fazê-lo sair da toca. Ou, então, manter-se nela, mas tratar de marcar uma Assembleia Geral.
Imagem de destaque27 Jul 2020, 09:00

(No artigo anterior, usei uma citação de um dos meus filmes para ilustrar porque motivo não concordava com os termos da renumeração, aludindo a que um homem sensato sabe o momento para ser audaz e o tempo de ser sensato. Acrescento agora que me parece ter findado o tempo da complacência e iniciado o momento de se agir. Basta. Basta de negócios estranhos. Basta de desaparecimentos nas derrotas e de aproveitamento das –poucas- vitórias. Basta de soberba, de incompetência e de decisões surreais. Basta.)

 

Tem-se sempre falado nos êxitos do primeiro ano de Varandas sem se ter, a maior parte das vezes, presente que a equipa já vinha da Direcção anterior e que Cintra – goste-se ou não do homem- conseguiu repescar uns elementos da mesma, ao mesmo tempo que, é certo, fez negócios desastrados. Como foi hoje notícia, um desses, para além de após o regresso ter sido um enorme jogador, continua a trazer dinheiro para o Clube. Como adepta discordei muitas vezes de Cintra mas achei bastante injusto que Varandas tivesse reclamado para si louros alheios. Diga-se o que se disser, as suas lágrimas de então, noticiadas um pouco por todo o lado, assentaram em esforço alheios[1].

Por outro lado,  nos momentos iniciais desta Direcção ter começado a decidir os destinos da nação sportinguista, foi-nos prometido que o êxito no futebol era “fácil”. Bem sei que já aludi a esta frase e que corro o risco de me tornar repetitiva mas a verdade é que, ab initio, a dita afirmação me intrigou, quer pela soberba demonstrada, quer pela ingenuidade[2].

Centrando-nos no futebol (mas podendo-se falar das modalidades…), o que é certo é que a época foi uma total desgraça, persistindo o Sporting Clube de Portugal em ser um sítio de passagem de pouca permanência de atletas, alguns deles pagos a peso de ouro e com outras vocações muito mais evidentes do que saber chutar uma bola, e de treinadores. Por exemplo, não fui das que acharam um rasgo de génio ir-se buscar um treinador que, na realidade, ainda não o é, por um montante astronómico ao Sporting Clube de Braga. Sou, contudo, das que acha que, agora que cá está, será de lhe dar oportunidade de mostrar o que vale e que, seguramente, não pode ser só aquilo que se tem visto nos últimos jogos[3].  A não ser assim, então permanece por explicar o racional de um negócio que, a ser pago (o que, por motivos que me parecem de duvidosa legalidade, parece não ter sucedido), traria à sucursal do Benfica uma vantagem financeira assinalável.  Tudo, no mesmo transe em que se despacharam jogadores e trabalhadores, sempre sob a justificação de que “não havia dinheiro” e se perdem oportunidades de, entre outras, rentabilizar a marca.

Desta época terão, forçosamente, de se tirar algumas conclusões, sendo que, para o efeito, o que tem que ser priorizado não é a sobrevivência desta direcção mas, como se afigura evidente, a da instituição. Confesso que assisto às parcas comunicações da Direcção com o mesmo estado de espírito com que via as do Ministro da Propaganda do Iraque, Mohammad Said al-Sahaf, o qual proclamava as (inexistentes) vitórias sobre os Estados Unidos[4]. Mas, entre o que é dito, registo sobretudo o que não é dito. Entre as omissões avulta, por exemplo, a teimosia na contratação de um jogador que já chumbou os exames médicos uma vez, a falta de explicações sobre a renumeração de sócios ou o que se pretende fazer após o total fracasso dos famosos power points de Miguel Cal quanto às gamebox.

Enquanto o Clube está dividido entre os que se agarram a um passado que também não nos trouxe grandes vitórias e aqueles que, mostrando idêntico saudosismo, parecem pretender voltar aos tempos da insolvência, há um homem que, tendo a possibilidade de mudar a história, assiste a tudo, impávido e sereno, como se esta fosse a sua melhor hipótese de ser, finalmente, Presidente da Direcção.  Em todos os lados, há um homem que sabe demais, visando tornar-se uma eminência parda. Como se usa fazer às raposas, uma das coisas que se deve ponderar é fazê-lo sair da toca. Ou, então, manter-se nela, mas tratar de marcar uma Assembleia Geral.

 

[1]Por exemplo, aqui: https://www.noticiasaominuto.com/desporto/1259214/sporting-fc-porto-eis-os-onzes-de-leoes-e-dragoes-no-jamor

[2]Na verdade, nunca vimos os rivais proclamarem tal invocada facilidade e bem se compreende porque motivo: não apenas, como é óbvio, não é fácil mesmo para os que jogam em vários cenários tabuleiros (leia-se, tanto no relvado como nos bastidores) como, ainda que o fosse, o que se coloca a mero benefício de raciocínio, afirmá-lo era não reconhecer o trabalho de si próprio, de toda a direcção, jogadores e da equipa técnica.  Não desconheço que a internet está cheia de afirmações infelizes mas devo ser a única a considerar esta a pior de todas.

[3] E o que ora refiro não me faz ficar “feliz da vida” perante o que se passou no Sábado, conceder que alguém o possa dizer impunemente e, menos ainda, aceitar que possamos ter dado azo a que o inerrável Salvador tenha dito o que disse. Se arriscamos tudo (e aqui foi quase tudo, pelo menos em matéria de dinheiro…), é melhor termos a certeza do que estamos a fazer, sob pena de sermos transformados em chacota nacional. Foi o que sucedeu e não são mais promessas de um futuro melhor que atenuam a gravidade.

[4]Do qual, aliás, podemos matar saudades neste site: http://www.welovetheiraqiinformationminister.com/.

*A autora escreve ao abrigo da antigo ortografia

  Comentários
Mais Opinião
Rita Garcia Pereira
Imagem de destaque
PRESO POR TER CÃO E PRESO POR NÃO TER
Afinal, com tantos regulamentos, parece que a Liga se esqueceu de um dos mais evidentes.
Rita Garcia Pereira
Imagem de destaque
NÃO HÁ COINCIDÊNCIAS
Do outro lado da barricada, ao que se sabe, assim que alguém se apresenta a julgar seja o que for, é logo brindado com convites.
Rita Garcia Pereira
Imagem de destaque
A BRUNO O QUE É DE BRUNO E ÀS CLAQUES O QUE É DAS CLAQUES
Um novo ciclo, onde as claques sejam todas construtivas, é urgente porque a festa também há muito que se faz com elas.
Rita Garcia Pereira
Imagem de destaque
QUO VADIS?
O Sporting é grande demais para tantos erros, inclusive de casting, para tanta inércia, para tanta arrogância.
Rita Garcia Pereira
Imagem de destaque
CLUBE DE COMBATE
Ganhar ao Portimonense em casa, com um autogolo, não parece uma proeza que consiga fazer esquecer tudo o resto.
Rita Garcia Pereira
Imagem de destaque
QUANDO OS BONS EXEMPLOS VÊM DO SPORTING… (E OS MAUS DE TODO O LADO)
Parece-me inquestionável que o Sporting tem, genericamente, má imprensa, mesmo no grupo que parece ser, nos dias que correm, o órgão de comunicação oficial do Clube.
Rita Garcia Pereira
Imagem de destaque
PLATA QUE PODE SER OURO
Depois de ontem e no caso do Sporting, está demonstrado que Plata da casa pode ser transformada em ouro. Às vezes, basta acreditar no nosso potencial.
Rita Garcia Pereira
Imagem de destaque
NÃO HÁ ALMOÇOS GRÁTIS…
Foi posto a correr o boato, de que eu ou o meu escritório teríamos qualquer coisa a ver com as cartas de resolução. É completamente falso e não é por ser repetido mil vezes que se torna verdade.