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OUR WAY
Um dia, Rogério Alves e o órgão a que preside ficar colocado na posição de ter de avaliar o trabalho da sua própria Comissão, o que é absurdo.
Imagem de destaque03 Ago 2020, 10:00

(Com os olhos já postos nas férias, tentei genuinamente terminar esta série de artigos com uma nota positiva sobre esta época. Já não era fácil e esta última semana tornou-se inviável.  Gostava muito de conseguir tecer um elogio mas, entre entrevistas que o não foram, anúncios de (mais…) contratações estranhas, tiros no pé em matéria de comunicação uns atrás dos outros,  um ambiente permanentemente crispado, confesso o meu fracasso. Desejo a Varandas o melhor sucesso porque seria o sucesso do Sporting. Resta saber se o meu desejo é partilhado pelo próprio, já que, aparentemente, não se limita a escolher o caminho mais difícil como opta pelo que garantidamente acarreta maior prejuízo.)

 

Enquanto outros dois clubes rivais  passaram o fim-de-semana a discutir entre si uma taça, no Sporting Clube de Portugal estamos, como se tornou um hábito, entretidos a guerrear uns contra os outros, uns defendendo que a culpa de tudo o que de muito mau ocorreu assenta num passado cada vez mais longínquo e outros propugnando que a solução reside, justamente, neste mesmo passado. Os comuns mortais que ousem discordar de qualquer destas pseudo-soluções são imediatamente tragados por um dos lados da barricada, quando não mesmo por ambos. O caminho do Sporting Clube de Portugal é algo muito próprio, feito mais de autofagias do que de esforço comum, sendo que este Clube tem de ser, de facto, demasiado grandioso para sobreviver a isto. Contudo, mesmo para os que, como eu, mais não desejam do que as coisas corram bem, o caminho que esta Direcção tem seguido é, no mínimo, estranho e a lembrar passados que não se deviam repetir.

A semana, aliás, foi pródiga em episódios insólitos, iniciando-se com uma derrota e, logo de seguida, com uma soit-disant entrevista, sobre as quais há fundadas dúvidas que faça jus ao nome, isto é, que, para começo de conversa, tenha sido uma verdadeira entrevista. Mesmo dando-se o benefício da dúvida sobre se a mesma existiu nos moldes em que nos foi apresentada, o teor das respostas dadas – não se sabe exactamente por quem – é contraditório entre si e, acima de tudo, com o título. Diga-se o que se disser, perfis falsos pagos incluídos, por esta época, ninguém prestou propriamente contas e resta a (triste…) dúvida se alguém deu efectivamente a cara. Acresce a tudo isto que, como é óbvio, contas prestam-se, em primeiríssimo lugar, aos sócios e, como tal e a menos que o plano seja liquidar os verdadeiros órgãos oficiais do Clube, a sede própria seriam estes. Se não a Sporting TV, para o caso de, como parece ter sucedido, não se quer dar a cara, pelo menos o Jornal Sporting (admitindo-se, claro, que este ainda exista…).

A par disto, souberam-se os resultados da Comissão presidida por Rogério Alves a propósito do i-voting, para o caso de alguém poder acreditar que, com aquela composição, sairia resultado diverso. Uma vez mais, mesmo quando não é para se fazer nada, é usual que as Comissões sejam constituídas por pessoas diversas das que constituem os órgãos sociais, principalmente quando se trata do principal garante da legalidade. Note-se que a configuração dada a esta Comissão radica no absurdo de, um dia, Rogério Alves e o órgão a que preside ficar colocado na posição de ter de avaliar o trabalho da sua própria Comissão, o que é absurdo.

De certa forma, é aliás o que já sucederá no âmbito da já anunciada Assembleia Geral para a discussão deste sistema e da consequente alteração estatutária, tornada urgente sabe-se lá porquê, no mesmo transe que se deixa a segunda volta deliberada e conscientemente de fora[1].

Perante o dito anúncio das conclusões – que já se conheciam ainda antes da criação da citada Comissão – um número assinalável de Núcleos manifestou-se contra o dito sistema de votação. Até aqui tudo normal não fosse o Sporting Clube de Portugal o clube em que cada proposta gera, pelo menos, trinta opiniões diferentes. O que causa maior estranheza é a reacção, pelo menos oficiosa, da Direcção, invocando a susceptibilidade de tais condutas gerarem processos disciplinares. E aqui, tal como na urgência da segunda volta por contra-ponto à introdução de um sistema de voto pela internet, resta-me discordar veementemente. Há uma diferença substancial entre a violação dos Estatutos, designadamente por ofensas a membros de órgãos sociais ou a outros sócios, e a liberdade de expressão. Se a primeira pode ser objecto de sanção disciplinar, o que se circunscrever à segunda não pode ser fundamento para qualquer punição. Expressar uma mera discordância ou propor soluções alternativas a algo que não foi, sequer, ainda devidamente explicado no seio do Clube não consubstancia uma infracção disciplinar, como resulta de forma clara dos Estatutos e, já agora, do Regulamento dos Núcleos.  Tentar esmagar um qualquer movimento de oposição ao que se pretende fazer com a táctica do polícia bom (Rogério Alves, que todos recebe, fazendo disso público alarde, para depois decidir como já tinha programado)/ polícia mau (entidade indeterminada mas anunciada sempre via Record) não apenas comporta riscos imensos como é revelador.

Se no que concerne ao fulcro da questão não estou certa sobre quem tem razão, sendo que, por princípio, não confio num sistema montado por quem está no poder, seja quem for, quanto aos processos disciplinares não tenho dúvidas. E, já agora, se o Conselho Fiscal e Disciplinar está, assim, tão desocupado, pode sempre entretecer-se com o que se escreve nas redes sociais. Seria interessante verificar que nem sempre os insultos vêm de onde se espera e, por vezes, até são as nossas quotas que os pagam. Enquanto todos damos uns mergulhos, se calhar, valia a pena pensar-se nisto.

[1]Sendo, assim, mais do que legítima a dúvida sobre a motivação subjacente a não se proceder às ditas alterações estatutárias de uma só assentada em vez de se tentar fazer aprovar já o que não parece consensual e procurar relegar o que poderia pacificar o Clube para as calendas.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

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