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i-TIRO NO PÉ
Pessoalmente, sou contra a ideia “um sócio, um voto”, porque acredito que a fidelidade, aqueles que nunca abandonam o Sporting, deve ser recompensada.
07 Ago 2020, 14:00

Não sou, na teoria, contra o voto electrónico. Mas vou votar contra a proposta do CD que pretende alterar os Estatutos do clube apenas neste ponto. Passo a explicar porquê.

Os Estatutos do Sporting Clube de Portugal precisam de ser revistos em vários pontos.

Absolutamente fundamental e urgente é instituir a segunda volta nas eleições para o Conselho Directivo e MAG, caso nenhuma lista obtenha na primeira volta uma maioria absoluta de cinquenta por cento mais um voto. E isto é muito fácil de entender. Com a atual fragmentação e divisão entre sócios, com a previsível proliferação de listas e candidatos que se vão continuar a apresentar nos próximos actos eleitorais, sem segunda volta arriscamo-nos a ver uma Direcção eleita por vinte ou trinta por cento dos votos. E isso causaria ainda mais instabilidade, com a maioria de sócios que não votou nas listas eleitas a ser, potencialmente, “oposição” desde o início. Ora, o que o Sporting tem tido em excesso é, exactamente, instabilidade, pelo que não precisa de mais. Não se entende, nem compreende, assim, como Frederico Varandas, na já célebre – pelas piores razões – entrevista ao jornal Record, afirmou que “urgente” era o i-Voting, desvalorizando e desclassificando esta questão da segunda volta. Mas o i-Voting é urgente, porquê?

Outra alteração estatutária que me parece fundamental e urgente – muito mais “urgente” que o i-Voting – é voltar a aplicar o método de Hondt nas eleições para o Conselho Fiscal e Disciplinar. Trocando isto por miúdos, esta questão do método de Hondt significa que o CD e a MAG podem continuar a ser eleitos por lista única, mas o Conselho Fiscal e Disciplinar, pelas suas funções específicas e necessidade acrescida de independência face aos outros Orgãos Sociais, deve integrar elementos de todas as listas que se apresentaram a eleições, na proporção da votação obtida.

Outra questão ainda que deve ser discutida e decidida pelos sócios em sede de revisão de Estatutos é a do número de votos por antiguidade. Pessoalmente, sou contra a ideia “um sócio, um voto”, porque acredito que a fidelidade, aqueles que nunca abandonam o Sporting, deve ser recompensada. Mas também me parece que a actual grande diferença no número de votos deve ser esbatida, diminuída. Seja como for, independentemente da opinião de cada um, as diversas propostas devem ser apresentadas aos sócios e estes, e só estes, podem e devem decidir.

Há ainda outras questões que entendo que devem ser propostas e discutidas em qualquer iniciativa de alteração de Estatutos que venha a ser posta em discussão e votação pelos sócios, como a separação das funções de Presidente do Clube e de CEO e gestor da SAD e do futebol profissional.

Mas aqui, mais uma vez, têm de ser os sócios a decidir.

Restringir a discussão da revisão dos Estatutos à questão do voto electrónico é uma oportunidade desperdiçada (mais uma) de fazer bem as coisas, uma desnecessidade, mais um erro destes órgãos sociais. Até porque, assim como se apresenta, esta iniciativa está condenada ao fracasso. Vai ser chumbada pelos sócios. Estes órgãos sociais não merecem a confiança da maioria dos sócios. Fazer finca-pé numa questão tão pouco importante como o voto electrónico, deixando de lado, premeditadamente, a discussão de questões estatutárias bem mais urgentes, como a segunda volta, parece suspeito, suscita dúvidas e perplexidades, gera desconfiança sobre a bondade dos objectivos. E isto não é um processo de intenções da minha parte. Isto é conhecer e saber ler o sentimento que é cada vez mais transversal ao Universo dos sócios do Sporting.

Se os actuais Órgãos Sociais estão fechados sobre si mesmos e não conseguem fazer esta auscultação e este diagnóstico sobre o universo sportinguista, isso significa apenas que estão cada vez mais isolados, perdidos e a navegar à vista.

Por tudo isto, se for apenas colocado à discussão e votação dos sócios o voto electrónico, sei bem como voto: “Não”.

 

PS: Entretanto, foi hoje divulgada pela comunicação social uma proposta de revisão alargada dos Estatutos, com um projeto liderado por Miguel Poiares Maduro. Já conhecia o texto preliminar desta proposta que, além de alguns dos pontos que refiro acima, institui também diversos princípios de publicidade, transparência e prova de idoneidade dos titulares dos Órgãos Sociais do Sporting. Concordo genericamente com as propostas de Miguel Poiares Maduro, apesar de acreditar que a proposta pode ser ainda melhorada, e serei provavelmente um subscritor da mesma.

 

PS 2: as minhas crónicas no Leonino também vão de “férias”, acompanhando o autor. Estarão de volta a este espaço na última semana de Agosto. Boas férias a todos os leitores que ainda vão usufruir delas, bom regresso ao trabalho aos que já as gozaram.

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