“HOUVE UMA GRANDE EVOLUÇÃO NA ACADEMIA DO SPORTING”
Em entrevista à Sporting TV, Filipe Pedro, novo treinador dos sub-23, comentou, entre outros temas, a relevância da Liga Revelação no processo de formação
Redação Leonino
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20 de Agosto 2020, 19:06

Filipe Pedro, novo treinador dos sub-23 dos Leões, afirmou, em declarações ao Jornal Sporting, “estar preparado” para o desafio, pois viveu “um conjunto de experiências” que lhe “permite encarar este desafio com confiança e com a preparação necessária para ter sucesso”.

Este é um regresso a casa, pois o técnico já tinha treinado há alguns anos, vários escalões de formação, desde os sub-15 aos sub-19 e comentou precisamente esse regresso à academia admitindo que existem várias diferenças da sua primeira função enquanto técnico de formação:

“Cresci na função e na maneira de ver e trabalhar. Aqui, adquiri ferramentas que me permitem perceber os diferentes contextos e as diferentes necessidades de cada escalão, uma vez que tive a felicidade de trabalhar em quase todos eles. Fora, consegui vivenciar aquilo que era necessário, a todos os níveis, em contextos profissionais e o que se pretende nas I e II Ligas, que é onde nós queremos inserir os nossos jogadores”.

Já sobre as diferenças na academia, o técnico indicou que “há inúmeras diferenças a apontar, quer em termos de recursos humanos – departamentos novos -, quer em infraestruturas – campos, balneários ou material de trabalho. Neste momento a academia Sporting está dotada de mais pessoas, de mais competência e de mais e melhores condições. Houve, de facto, uma grande evolução num conjunto de coisas que que são fundamentais dar aos nossos jogadores melhores ferramentas para chegarem a diferentes contextos e corresponderem da forma que queremos”.

O técnico comentou também o que a Liga Revelação veio acrescentar à formação:

“De uma forma geral e resumida, uma vez que é uma prova que não tem a condicionante de subir ou descer de divisão, veio aumentar de uma forma exponencial a riqueza tática do jogo dos nossos atletas. Isto porque, como equipa grande que somos, estamos mais habituados a assumir o jogo e a jogar de forma mais ofensiva, jogando contra equipas que se fecham muito, mas neste campeonato todas elas acabam por jogar como nós porque ninguém vai descer nem subir e isso faz com que os jogadores enfrentem situações que não enfrentaram na formação. Isso ajuda-os a crescer no processo defensivo e a experienciar um campeonato mais equilibrado com uma competitividade maior do que aquela a que estavam habituados, e que vai acontecer no futuro, ainda que, sobretudo, nas fases finais de juvenis e juniores as dificuldades também aumentem.”

“O objetivo da equipa sub-23, assim como da B e da sub-19, é potenciar jogadores para chegarem à equipa principal o mais rápido possível. Nesse sentido, essa ligação existirá para podermos continuar a cumprir essa missão e será decidida por nós consoante aquilo que acharmos melhor para cada jogador e dentro de determinado momento.” – prosseguiu o técnico.

O treinador também afirmou que os jogadores podem alternar entre sub-19, sub-23 e equipa B, sempre que se justificar e sempre que exista um maior nível de competição e benefício para o atleta, afirmando que um jogador que jogue num escalão acima e que regresse a um escalão de formação inferior, não pode ser visto como despromoção:

“O jogar abaixo ou jogar acima não existe, à frente de tudo está o Sporting CP e por trás disso há sempre o contexto competitivo que vai possibilitar ao jogador experienciar situações que o vão fazer desenvolver as suas características individuais em termos táticos e técnicos, e é isso que nós pretendemos. Se nós entendermos que numa altura esse jogador deve estar nos sub-19 e a seguir nos sub-23 ou na B, essa via deve estar aberta”.

Sobre a possibilidade de ter que passar essa mesma mensagem aos atletas e as pessoas fora da estrutura da formação Filipe Pedro, comentou o seguinte:

“Valorizando os contextos competitivos. Eu já aqui falei das mais-valias da Liga Revelação, mas também posso enumerar uma série de itens positivos do campeonato de juniores e do Campeonato de Portugal. Por isso, nesse sentido, acho que todos os contextos são ricos e têm as suas características únicas que são positivas para todos os atletas. Depois cabe-nos a nós decidir qual o melhor para o jogador e os jogadores têm de ter consciência que aquilo que nós queremos é que eles evoluam enquanto atletas. Nenhum deles, em momento algum, será prejudicado.”

Relativamente a um modelo centrado no atleta em vez do resultado, o técnico dos sub-23 indicou que esse modelo “não afasta, nem desvia, de todo, das vitórias”:

“O Sporting CP entra sempre para ganhar, e queremos ganhar todos os jogos, mas se, em alguns momentos, tivermos de colocar o processo de formação do jogador à frente, colocaremos. Assim como, em determinados momentos, poderemos colocar o resultado à frente do jogador porque isso também vai fazer com que o atleta evolua individualmente e prepará-lo para o futebol sénior. O nosso processo além de ser claro é equilibrado, também neste sentido. Não podemos ser extremistas, nem somos fundamentalistas, ao ponto de dizermos que só o jogador interessa ou só o resultado interessa. Não. Há momentos e temos de nos gerir consoante esses momentos”.

Com base nestas declarações, o técnico informou que existem dois objetivos “colocar dois jogadores na equipa principal” e “ganhar a Liga Revelação”. No entanto, se tiver que optar por um deles, vai optar por colocar os dois jogadores da equipa A dos Leões.

Contudo, nem sempre é fácil, para os jovens jogadores, chegar à equipa principal e quando questionado do porquê, o treinador concluiu afirmando que “não é uma resposta fácil”:

“Não é uma resposta fácil, na medida em que tem muitas variáveis, mas podemos colocar a pergunta de outra maneira: porque é que alguns lá chegam? Chegam porque a oportunidade e o contexto surgem, muitas vezes, quando menos esperamos. A janela pode abrir-se, por exemplo, para um jogador que se calhar até dá menos nas vistas, por causa da lesão de outro atleta e se o mercado não estiver aberto. Na maior parte das vezes, a janela de oportunidade é fundamental para eles lá chegarem ou não. Neste momento temos uma via muito aberta com a equipa principal, mas por variadíssimas razões a oportunidade pode não surgir. Por isso, é preciso entender que não depende das vontades, nem depende só do jogador – e eles também têm de ter essa noção –, mas é claro que é melhor eles estarem sempre preparados para caso a oportunidade surja”.

Fotografia de Sporting CP

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