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DOIS HOMENS E UM DESTINO
Prefiro quem assuma o que faz do que alguns que hipócrita e cinicamente se armam em impolutos e depois contam com o parceiro para fazer as patifarias por eles…
27 Nov 2020, 15:22

Esta semana, para além das fatalidades que, pelas circunstâncias da vida, ocorrem diariamente e das que por hora nos fazem questão de informar, de forma mecânica, quanto ao Covid 19, assinalo as tristes notícias do desaparecimento de Reinaldo Teles e Diego Maradona.

Enquanto sócio do Sporting CP, verifiquei, ao longo de três décadas, os dirigentes do núcleo duro de Pinto da Costa no FC Porto, a estarem intimamente ligados a um percurso de retumbantes vitórias, muitas das quais, nos deixam dúvidas. A forma como supostamente eram obtidas e os métodos utilizados, no meu entender, prejudicaram, e muito, o Sporting CP.

Na primeira fase do nosso trajecto no Conselho Directivo do Clube, é público, houve um choque imediato que durou alguns anos. A partir de 2016 houve uma aproximação institucional e um reatar paulatino de relações. Foi nessa altura que tive ocasião de conhecer alguns dos históricos dirigentes do FC Porto. Reinaldo Teles era de uma simpatia e cordialidade cativantes. Alguém que tinha o peso da experiência, da sabedoria e emanava respeito. Respeitava e fazia-se respeitar. Guardo dele enquanto pessoa uma boa imagem e com sinceridade lamento que nos tenha deixado.

Ainda quanto aos dirigentes do FC Porto, não comungo da tese simplista de quem os apelida de bandidos. Sobre isto dizer que há bandidos com classe e outros sem classe alguma. Prefiro quem assuma o que faz do que alguns que hipócrita e cinicamente se armam em impolutos e depois contam com o parceiro para fazer as patifarias por eles…

Pela idade que tenho, os meus ídolos futebolísticos são Diego Maradona e Paulo Futre. Quando temos 12/13 anos, bebemos tudo sobre futebol e o expoente máximo de uma época fantástica de talentos tinha em Diego Maradona, o seu maior génio. Felizmente que, para o bem do futebol e dos seus protagonistas, as regras que a FIFA e o International Board, impuseram quanto à arbitragem mudaram e muito, para melhor.

Quem assistir aos jogos dos campeonatos europeus, nomeadamente o italiano, da década de oitenta, fica horrorizado com os crimes contra os virtuosos do futebol. As sucessivas entradas a matar, às pernas, sem dó nem piedade, aos melhores jogadores do Mundo, em especial a Maradona, dariam aos dias de hoje para expulsar uma equipa inteira. Vi jogos de Maradona em que só à quinta ou sexta falta violenta, que no futebol actual, dariam expulsão directa, saía finalmente um cartão amarelo. A minha admiração por Maradona também vem daí. Um valente. Um bravo. Sendo um jogador com uma compleição física baixa, tinha uma capacidade de superar a dor e a violência com que o agrediam. Levantava-se até à exaustão. Foi sempre igual a si próprio. Jogo após jogo, benzia-se antes de entrar em campo, como os toureiros antes de lidarem os toiros, esperando sair do campo de “batalha” vivo. A forma como defendia os mais fracos e uma cidade pobre como Nápoles, contra os ricos de Milão e Turim, fez dele um paladino dos desfavorecidos e do Povo. Com dois ou três jogadores acima da média e uma restante equipa de operários, Maradona trouxe praticamente sozinho a glória a uma região que ainda hoje o adora e venera.

Os futebolistas acabavam a carreira cedo pelo massacre a que eram fisicamente sujeitos. Van Basten, Klinsmann, Lineker entre tantos outros. Estarão certamente recordados das soberbas exibições feitas por Paulo Futre em Madrid e como tinha de voar para não lhe arrancarem a perna. Quando se transferiu para Itália, na modesta Reggiana, logo no primeiro jogo deslumbrou, mas não se livrou de uma entrada gravíssima e de largos meses fora dos relvados.

Sou completamente contra as drogas. Em momento algum irei defender a despenalização do consumo. No caso de Maradona, consigo perceber as suas atitudes e ter caído no vício. Se olharmos para aquele contexto e a forma como o futebol funcionava nos anos oitenta e também nos noventa talvez consigamos compreender certos comportamentos e aditivos.  Daí que não gosto que o gozem ou critiquem por esse facto. Está ali um ser humano que nos merece todo o respeito e por aquilo que representou como atleta e campeão, a minha admiração.

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