CONTAS POR ACERTAR
Compreendo a frustração de Peseiro pela forma como saiu do Sporting. Mas a culpa não foi dos adeptos
Redação Leonino
Texto
11 de Janeiro 2021, 10:30

Na edição de domingo do jornal ‘Record’, o ex-treinador do Sporting José Peseiro diz, a dado momento, que tanto a sua saída quanto a de Marcel Keizer ficaram a dever-se a supostas pressões dos adeptos junto da administração da SAD. Bom, esta é a leitura mais simpática que faço, porque nas palavras dele ‘o presidente do Sporting já mandou treinadores embora porque as claques não estavam satisfeitas com ele. Naquela altura, uma das razões [para o despedimento dele e de Keizer um ano depois] foi essa’.

Compreendo a frustração de Peseiro pela forma como saiu do Sporting. Afinal, ao fim de 8 jogos seguia a dois pontos do 1º classificado e já tinha ido à Luz (empate) e a Braga (derrota). Mas creio que se ele olhar de forma retrospetiva e honesta para o quadro, em vez de ver ali contas por acertar, observará um desenho no qual a equipa estava em óbvio défice, como a derrota em Portimão (2-4) mostrou, e a ‘vergonha’ de perder em Alvalade com o Estoril, para a Taça da Liga, concluiu.

Peseiro não sabe, ou se calhar quer ignorar, que nunca foi o treinador de Frederico Varandas, apesar das palavras ditas durante a campanha eleitoral. Quando Varandas avançou na corrida presidencial, fê-lo com toda a estrutura já na cabeça. E quem figurava nos seus planos como treinador era Marcel Keizer. Por isso, mal foi eleito, o futuro de Peseiro ficou à distância de uma ‘desculpa’, que neste caso se chamou ‘derrota frente ao Estoril’, só não tendo o nome de ‘derrota frente ao Portimonense’ porque nessa altura o clube árabe onde estava o holandês pedia 500 mil euros para o deixar sair (verba que duas semanas depois Varandas aceitou pagar). Portanto, não vou negar que o atual presidente leonino tenha referido a Peseiro estar a sofrer pressões dos adeptos para o mandar embora. Se Peseiro o diz de forma tão aberta e frontal, provavelmente isso terá sido falado. Mas ao fim de tantos anos de futebol (e dispensas de vários clubes), Peseiro de certeza que sabe distinguir uma desculpa de uma verdade. Acredite, José Peseiro, a maioria dos adeptos nunca aceitou o seu regresso a Alvalade, porque há locais aos quais não devemos regressar depois de provocarmos tão más recordações; a maioria dos adeptos ficou muito feliz com a sua saída. Mas na verdade acabaram apenas por servir de argumento fácil para Varandas tomar a decisão que tinha na cabeça ainda enquanto candidato. Aliás, ele foi dos primeiros a telefonar a Sousa Cintra, dando conta ao ex-presidente da Comissão de Gestão do seu desagrado pelo facto de estar a contratar um treinador, em vez de nomear um interino até às eleições.

Peseiro enquadra a pressão das claques quando atribui parte do atual 1º lugar à ausência de público nas bancadas. Não é sequer original. Já ouvi essa versão inúmeras vezes. Quase sempre dita por pessoas que só podem desconhecer o ambiente que se vive durante um jogo em Alvalade. É que os assobios à equipa raramente surgem da Superior Sul, onde se encontram as claques. Os mais impacientes e de assobio fácil, encontram-se na bancada central por baixo da Tribuna Presidencial. Como o sei? É lá que vejo quase todos os jogos. É para esse sector que adquiro bilhete porque as Gamebox não se vendem para esse local, a não ser a detentores de lugares de Leão. Ali não há claques, mas apenas Sócios e adeptos, alguns pouco pacientes e capazes de contagiar os que lhes estão mais próximos. No sector das claques a contestação que se fez sentir em 18/19 e 19/20 foi a Varandas, nunca à equipa. Mas, enfim, só posso desejar que os defensores desta ideia absurda continuem a dizer tais disparates, desde que isso os deixe felizes…

  Comentários