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À MULHER DE CÉSAR NÃO BASTA SER, HÁ QUE PARECER
Sérgio Conceição afirmou que foi uma vitória caída do céu e tem razão, pois quer se acredite em justiça divina, karma ou qualquer outra força esotérica, desta vez esteve a favor do Sporting.
Imagem de destaque23 Jan 2021, 11:40

Esta semana a grande polémica foi em torno da Unilabs e os resultados dos testes dos atletas Sporar e Nuno Mendes. Entre diz que disse e muita controvérsia, a novela encerrou de forma muito singela, com a Unilabs a enviar o tão esperado email à DGS, a admitir o seu erro/confusão/falha/seja lá o que tenha sido. Mas, pelo meio, muita complicação à mistura, com prejuízo sempre para o mesmo lado – o Sporting – e com potencial para outro tipo de consequências ainda mais graves que, felizmente, não se vieram a verificar. Mas vamos por partes.

Tudo começou com os jogadores Sporar e Nuno Mendes a acusar positivo num primeiro teste e, posteriormente, já acusaram negativo, vindo o laboratório a assumir que se tratavam de casos de falsos positivos, tendo sido o próprio a admitir que as probabilidades disto acontecer são maiores em indivíduos cuja testagem é frequente. Até aí também nada de estranho pois meros dias antes também se tinha visto acontecer o mesmo com o Presidente Marcelo, que acusou positivo num dos testes que fez, para logo de seguida acusar negativo (com a gravidade de que ainda não sabia do resultado do teste e já andava pelas ruas em campanha eleitoral e aí nem Sérgio Conceição nem ninguém veio clamar por crime público…).

É aqui que estala a confusão quando o próprio director da Unilabs vem a público, não se percebe muito bem a que título, numa publicação que, por sinal, até é afecta aos clubes do Norte, dizer que nada do que foi comunicado pelo Sporting é verdade e que os atletas testaram positivo e nada de falso existia nos resultados.

Horas depois, é desmentido por uma nova publicação que expõe documentos onde é afirmado que os atletas testaram falsos positivos e até a explicação para tal fenómeno.

O problema é que, a esta altura do campeonato o mal já estava feito. Sérgio Conceição já bradava por “aqui D’El Rei” pelo acto criminoso que o Sporting pretendia fazer ao levar a jogo os atletas, a equipa médica do Clube estava posta em causa, a integridade física dos jogadores para competir também e o próprio Sporting estava em cheque pois se usasse os jogadores, era inconsequente, se não os usasse, então admitiria culpa.

Chamada a Unilabs a prestar os devidos esclarecimentos, perante a autoridade de saúde, achou por bem deixar a DGS “pendurada” à espera, pelo tempo que entendeu, até prestar a sua resposta. Olhando para a conjuntura e para a pressão que a DGS tem em cima, foi uma tremenda falta de respeito e brincar com quem trabalha não cooperar de imediato com uma autoridade de saúde, sendo que o próprio laboratório terá uma reputação a manter.

Quando a Unilabs decide responder à DGS, é para chegar-se à conclusão que o corpo clínico do Sporting tinha razão e os atletas poderiam ter sido utilizados. Diz-se poderiam pois quando o laboratório respondeu, o jogo há muito tinha acabado e nem a falta dos jogadores impediu a vitória do Clube.

Sérgio Conceição afirmou que foi uma vitória caída do céu e, em certa medida, tem razão, pois quer se acredite em justiça divina, karma ou qualquer outra força esotérica, desta vez esteve a favor do Sporting e não deixou a injustiça prevalecer.

Quanto à Unilabs, muitas explicações ainda terá de prestar uma vez que é o Parceiro Oficial de Saúde da Liga Portugal, o que significa que é a única entidade certificada para a testagem dos atletas. Com que legitimidade continuará a testar os jogadores do Sporting e até que ponto poderá ser exigido ao Clube que se submeta aos exames por este laboratório, após um acto gravoso que retira qualquer confiança na actuação do mesmo?

A actuação da Unilabs e do seu director deve ser rigorosamente investigada, sob pena de se desvirtuar por completo tanto a verdade desportiva como a integridade das competições.

O Sporting já começou por fazer uma queixa à Ordem dos Médicos, mas muito mais terá de ser feito. Terá de ser exigido à Liga que instaure um inquérito ao caso para perceber o que anda a fazer o seu parceiro de saúde e deverá ser iniciada uma investigação criminal ao abrigo da lei da corrupção no desporto, para retirar qualquer sombra de dúvida sobre a actuação deste laboratório.

Pois, se assim não for, ficará sempre a desconfiança sobre se a actuação terá sido negligente ou culposa e intencional. Seja como for, trouxe vários danos e prejuízos. O Sporting viu-se privado de dois jogadores plenamente capazes de prestar o seu trabalho, os atletas viram-se impedidos de efectivar o seu direito ao trabalho, a reputação do Sporting e seu corpo médico foi posta em causa e até de criminosa a Instituição foi chamada. Agora imaginem se o Porto tivesse ganho…

Da mesma forma, a Liga também foi posta em causa, pois que o parceiro que escolheu e que asseverou que seria o melhor e inequívoco parceiro para cooperar com o futebol causou um mal estar que não se dissipa facilmente, nem mesmo com o principal causador a “fingir-se de morto” à espera que a polémica passe.

Tal não será benéfico para a própria Liga, para os Clubes (que agora, a qualquer resultado positivo, terão motivos para questionar a Unilabs, especialmente perto de jogos importantes ou decisivos) e para o próprio futebol que se esforça para se manter à tona no meio da pandemia. Há milénios que se sabe que à mulher de César, não basta ser séria, tem de parecer séria e é necessário ir até às últimas consequências para que a aparência seja reposta.

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