BASTIDORES DO TÍTULO DE 2000 CONTADOS PELO ‘CABELEIREIRO’ E ‘DJ’
Nuno Santos, ex-guarda-redes em Alvalade, recordou o dia em que a pendura tirou a camisola para mostrar o peito aos jogadores e como o ´Grande’ (Schmeichel) se impunha a todos. Exclusivo Leonino
Redação Leonino
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25 de Fevereiro 2021, 17:00

O Leonino esteve à conversa com Nuno Santos, ex-guarda-redes do Sporting, que fazia parte do plantel verde e branco na época do mítico campeonato de 1999/2000. O guardião lembrou os momentos mais importantes e que, na sua opinião, levaram os leões ao título. A palavra de ordem foi apenas uma: união. 

“Um dos grandes segredos foi essa união e todas as coisas que fazíamos em segredo dos deuses”

“Relembro-que que tínhamos uma união enorme. Os jogos eram ao domingo e nós, à sexta-feira, fazíamos os banhos e massagens. O ‘manca’, o Paulinho, ia buscar as chamuças com as cervejas e nós íamos para os banhos de imersão ali a confraternizar. Pode não parecer, mas esses momentos também faziam com que nos uníssemos cada vez mais e com que o grupo se conhecesse cada vez melhor. Um dos grandes segredos foi essa união e todas as coisas que fazíamos em segredo dos deuses. Era algo como se estivesse no nosso regulamente interno, todos os jogadores tinham de estar presentes para perceberem um bocado a mística de uma equipa campeã”, começou por explicar, contando, de seguida, alguns episódios que ainda hoje lhe enchem a memória.

“A história mais marcante, nesse ano, foi seguramente quando estávamos a sair de Vidal Pinheiro, onde tínhamos imensas pessoas no meio da estrada. Lembro-me de um episódio em particular, em que estava um casal numa mota, enquanto víamos do autocarro, e a rapariga, que vinha à pendura, tira a camisola para mostrar os peitos ao pessoal do Sporting (risos). Lembro-me porque ela tinha lá escrito o número de telemóvel, e começámos todos a rir no autocarro, porque não era uma situação normal”, recordou, lembrando ainda a chegada ao velhinho Alvalade.

“Depois, quando chegámos ao Estádio, uns foram para a Praça do Comércio, outros para o Estádio onde estavam 70 mil pessoas. Lembro-me de lá estar o Jorge Gabriel, que era o speaker da altura, a pedir aos adeptos para terem calma e não invadirem o campo, porque os jogadores iam entrar, para tudo ser pacífico. O Schmeichel foi o primeiro a entrar, depois fui eu e lembro-me de começar a ouvir um assobio descomunal e pensar: “Mas o que é isto?”. Tinha sido a bancada a ceder, a festa acabou logo aí e os adeptos invadiram o campo, retiraram bocados do relvado, redes das balizas, tudo”, relembrou. 

“Treinar com o Schmeichel é algo que marca para o resto da vida”

Nuno Santos não poderia deixar de recordar alguém muito importante para o seu percurso: Peter Schmeichel. “Fiz a pré-época, nesse ano, com o Nelson e o Schmeichel. No primeiro dia, o de apresentação, fui logo ter com ele, para lhe dizer que era um enorme gosto poder aprender com ele, com o melhor do mundo. Lembro-me de algumas situações do balneário, porque eu era dos que estava há mais tempo no Clube, mas também o ‘cabeleireiro’ do pessoal todo, além do DJ de Kizomba para alegrar a equipa”, explicou, antes de passar às histórias com o ‘Grande’, como lhe chama.

“Treinar com o Schmeichel é algo que marca para o resto da vida. Era praticamente o braço direito dele, porque era eu quem lhe traduzia as coisas, porque era quem falava inglês fluente. Acima de tudo, aprendi imenso, é uma pessoa muito aberta, muito dedicada ao trabalho, bastante rigoroso e fez-me entender que, na vida, as coisas custam imenso e só com trabalho lá chegamos”, sublinhou.

Ao contrário do que muitos possam pensar, devido à sua postura ameaçadora entre os postes, também Schmeichel era o entusiasta de muitos episódios caricatos entre o grupo.

“Com o ‘Grande’ tive vários episódios. No dia em fomos campeões e estávamos a festejar no Estádio, só me lembro dele a afastar tudo e todos por causa dos filhos, com os adeptos a tombarem no chão”, contou, falando também dos seus momentos mais característicos antes de cada encontro.

“Antes dos jogos, os jogadores criavam aquela rodinha com ele todo nu, porque ainda não estava equipado e ouvíamos o Inácio a dizer: “Peter, então? Despacha-te”, e ele só respondia: “Calma, já viste algum jogo começar sem guarda-redes?”. A verdade é que o grito dele fazia tremer, mas motivava muito, já sabíamos que eram momentos que aconteciam todos os jogos”, recordou.

“Éramos apertados por todo o lado”

Além disso, Nuno Santos partilhou as suas experiências no que toca a clássicos, de forma a antever aquele que o Sporting enfrenta já este sábado, referindo que, atualmente, as coisas mudaram bastante.

“Os clássicos, antigamente, eram muito diferentes do que são agora. Lembro-me de jogarmos nas Antas e estar no autocarro, até perto da hora do jogo… era um inferno. Éramos apertados por todo o lado, porque era algo que fazia parte do ADN do Porto. Era uma forma de nos melindrarem para entrarmos dentro de campo com medo, porque também acontecia no túnel. Hoje em dia já não, mas claro que são jogos com muita responsabilidade e que fazem com que os verdadeiros homens apareçam e consigam sobressair”, relembrou.

“Chegou a vez destes jovens darem uma alegria aos mais ‘cotas’”

Sobre este sábado, o ex-leão foi claro: “O título está encaminhado, mas não garantido”.

“Certamente o Sporting vai dar uma boa resposta, num clássico que poderá decidir muita coisa. Têm estado muitíssimo bem, com os pés bem assentes na terra, com um treinador que sabe aquilo que quer e é o melhor para o Clube, que está a viver um momento único, muito à custa dos jovens jogadores que estão a despontar, que sentem o símbolo. É dar continuidade, serem humildades como têm sido até agora e certamente que vão deixar a sua marca no Clube, tal como nós deixámos em 1999/200. Chegou a vez destes jovens darem uma alegria aos mais ‘cotas’, pois quem é do Sporting já sofre há bastante tempo. O título está encaminhado, mas não garantido. Os jogos só acabam quando o árbitro apita, nunca vi uma equipa ganhar antes de ele ser jogado, portanto, é continuar a fazer o seu trabalhinho”, terminou.

Começa assim o nosso pré-Clássico em no Leonino, no qual também realizámos uma entrevista com Edmílson Pimenta (VER AQUI).

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