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TU NUNCA VAIS ACABAR
Não há muito tempo que se ouvia, alegre e intrinsecamente sentido, pelas bancadas de Alvalade que o Sporting ia vencer (podem crer!) porque a força era brutal.
18 Jan 2020, 10:00

Não há muito tempo que se ouvia, alegre e intrinsecamente sentido, pelas bancadas de Alvalade que o Sporting ia vencer (podem crer!) porque a força era brutal. Quem lá parava, sabia. Sentia. Não estranhem os leitores pelo tempo verbal usado. Creio não ser necessário perder tempo com análises ao estado da nação, o que nos leva directamente ao maior fracasso do actual Conselho Directivo e que, vejam bem a ironia do destino, havia sido o mote da campanha da lista vencedora das eleições de Setembro de 2018: unir o Sporting.

A tarefa era verdadeiramente hercúlea, não apenas pela clara divisão que existia – que se agudizou com o passar do tempo – na família sportinguista, como pelo legado desportivo deixado precisamente na época que terminou no Verão quente do referido ano, com o Sporting a sagrar-se campeão nacional na esmagadora maioria das modalidades em que participa ao mais alto nível, com a excepção no caricaturado futebol português. Aliás, para nova curiosidade, era precisamente o futebol que seria fácil de gerir.

Tenho recordado algumas vezes uma velha história de um camarada que, em conversa com o então presidente do Sporting – já lá vão uns largos anos, não vale a pena o exercício de memória de quem será –, a propósito do equilíbrio entre a função dos jornalistas e o interesse dos dirigentes e dos clubes, atirou: “Presidente, pode ter a certeza que depois de deixar o cargo, nós continuaremos aqui. Virá outro, a seguir outro, e nós continuaremos aqui”. Exactamente o que acontece com os adeptos. Os dirigentes vão passando e a verdadeira razão da existência dos clubes fica. Para sempre. Uns com mais memória do que outros, mas fieis às suas origens porque, como todos saberão, pode mudar-se tudo na vida menos de clube.

Acredito que uma parte da família sportinguista se sinta desanimada, insatisfeita, frustrada, tão radicalmente desapontada que decidiu até cortar o mal pela raiz, deixando de pagar quotas, renovar Gameboxes ou comprar merchandising. Não passam a ser menos sportinguistas por isso. Cada um lida com a desilusão como acha que deve (lidar), como se considerássemos que para revelar o sofrimento da perda de alguém tivéssemos obrigatoriamente de chorar. Neste particular, os suecos estavam desgraçados – mostrar de forma tão exposta o sofrimento, num funeral, por exemplo, não é coisa que um sueco encare da mesma forma que um latino…

No entanto, nada há a temer. O Sporting nunca vai acabar e mesmo que seja necessário esperar até 2022 – nova curiosidade, ano do centenário do Jornal Sporting, que tive a honra e orgulho de dirigir durante dois anos e meio –, para escolher novo destino para o nosso Clube, que assim seja. Para a história, ficará o trabalho desenvolvido pelos órgãos sociais, que a família julgará, com novas e naturais divisões.

Em 113 anos de história, o Sporting já passou, certamente, por momentos bem mais periclitantes do que este. Direcções desalinhadas com os interesses do Clube e, consequentemente, contra as expectativas da sua massa adepta. Presidentes com decisões, no mínimo, dúbias em relação ao que de melhor esperamos de quem dirige os destinos do nosso amor. Chegámos aqui. A um momento em que nem era preciso um salvador, bastando alguém que entendesse o Clube, com todas as suas excentricidades e particularidades que definem a identidade comum.

Sendo esta vertente “política” mais acessória na minha relação com o Sporting, nesta coluna poderão ler mais sobre modalidades. Sempre foi assim que vi o nosso Clube e o seu ecletismo o que mais me atraiu. Nomearia todas, se pudesse, mas não quero abusar da paciência alheia. É sempre importante quando há um leão rampante branco sobre um fundo verde a competir, para ser o melhor.

Pedro Figueiredo escreve sob o anterior acordo ortográfico

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