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E DEPOIS DO ADEUS
É provável que, por esta altura, haja muitas cabeças em Alvalade que perguntar-se-ão o que fazem por ali, quem os abandonou e de quem se terão esquecido.
Imagem de destaque25 Jan 2020, 08:00

É provável que, por esta altura, haja muitas cabeças em Alvalade que perguntar-se-ão o que fazem por ali, quem os abandonou e de quem se terão esquecido.
A Juventude Leonina já decretou, no seu comunicado de quarta-feira, o fim da linha para o actual Conselho Directivo (nada de novo aqui) e até Henrique Monteiro, presidente da extinta Comissão de Fiscalização, na sua página semanal no jornal A Bola, tratou de enviar o primeiro sério aviso ao que poderá ser o último resquício de dignidade dos dirigentes. “A realidade é que ninguém esperava tal miséria ano e meio depois de tanta esperança. Não estará na altura de alguém tomar uma iniciativa?”, escreveu o antigo director do Expresso.
Apesar de elencar uma série de eventos – incluindo resultados desportivos e negócios feitos –, para explicar o que de mal tem corrido à direcção leonina, Henrique Monteiro não chegou a referir um episódio que espelha bem a imagem de que o Sporting goza em certos círculos, de uma absoluta ausência de responsabilidade, no sentido a que os ingleses dão para accountability.
Na terça-feira, surgiu na imprensa, nacional e internacional, a notícia de que o Olympiakos tinha chegado a acordo com o Wolverhampton para a transferência de Daniel Podence por 20 milhões de euros, mais cinco por objectivos. Até aqui, tudo normal, não se desse o caso de, quatro meses antes – Setembro de 2019 –, o Sporting ter aceitado sete milhões de euros pelo final do diferendo que havia começado a 1 de Junho de 2018, data da carta de rescisão unilateral apresentada pelo jogador em Alvalade.
Independentemente da legitimidade que assiste à família leonina de poder fazer, deste negócio das arábias – para todos excepto para o Sporting! –, os julgamentos que entender, naturalmente não poderá pedir satisfação a mais ninguém senão ao presidente e respectivo elenco directivo. Em que medida foram acautelados os interesses do Clube? O que mudou em quatro meses para Podence passar de um valor de sete para 20 milhões? Foram pedidas justificações a alguém?
O silêncio nem sempre é bom sinal. Já em Março de 2019, Gérard Lopez, presidente do Lille, tinha afirmado que: “Não há qualquer hipótese de pagarmos qualquer verba ao Sporting”; pela contratação de Rafael Leão pelo emblema francês. Em Alvalade, ninguém reagiu. Entretanto, a 1 de Agosto de 2019 – cinco meses depois das declarações, no mínimo, provocatórias, de Gerárd Lopez –, o avançado formado em Alcochete assina pelo AC Milan, numa transferência cifrada em 30 milhões de euros. Não acredito que haja um só Sportinguista que se sinta confortável ao ler estas notícias, ciente de que nada poderia ser feito, enfim, a velha teoria que muitos gostam de soltar em certas circunstâncias, da inevitabilidade.
Inevitável parece-me o beco sem saída em que os actuais dirigentes do Sporting se colocaram a si próprios, fruto das suas decisões. Antes de ontem, quinta-feira, noticiou o jornal Record que Silas também já terá o seu futuro decidido, com um adeus no final da época embora, segundo o mesmo artigo, a direcção esteja em querer que a saída possa acontecer ainda antes de Maio.
Portanto, a questão aqui não será tanto como vai desenrolar-se o rumo dos acontecimentos, mas quando será mesmo o ponto final. Depois do adeus, uma nova vida para o Sporting. Uma vida em que, sempre que haja celebração de mais um título nacional, alguém do Conselho Directivo esteja presente e não aconteça. Nunca mais. O que se passou com o tetracampeonato das bravas leoas do râguebi, cuja festa no Jamor, depois de uma vitória por 50-0(!), frente à Agrária, não contou com qualquer dirigente leonino.
Aguardemos para conhecer a análise que o presidente da Mesa da Assembleia Geral fará ao pedido de AG destitutiva, cuja resposta chegará na próxima terça-feira.
Espero, sinceramente, que a manifestação agendada para hoje, pelas 14h30, decorra dentro dos mais rigorosos parâmetros da civilidade. Aliás, como factor-surpresa, ficaria tudo sentado, em silêncio, com eventuais cartazes (trazendo os melhores memes para a rua). Sem gritos ou palavras de ordem. Como escreveu Simone de Beauvoir: “Todo homem que teve amores verdadeiros, revoltas verdadeiras, desejos verdadeiros, e vontades verdadeiras, sabe muito bem que não tem necessidade de nenhuma garantia extrema para ter certeza dos seus objetivos; a certeza provém das próprias forças propulsoras”.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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