summary_large_image
SILAS, O MAU DA FITA
Tendo um órgão de comunicação social sido “desonesto” para com o treinador do Sporting, o mais natural seria o Clube – ou melhor, a SAD – colocar-se ao lado do seu profissional, o que não aconteceu.
29 Fev 2020, 08:00

Há coisas que realmente parecem só acontecer ao Sporting. A forma como se desenrolou a despedida das competições europeias em Istambul foi dolorosa e, ainda por cima, frente a um adversário técnica e tacticamente bem mais do que acessível aos leões. À hora que discorre esta prosa, a RTP avança que Silas está de saída e que Famalicão deverá ser a sua última paragem no banco leonino.

O mais extraordinário desta passagem do ainda treinador do Sporting por Alvalade é que percebeu-se que Silas tornou-se no mau da fita depois de duas vitórias que abriam as melhores perspectivas – dadas as circunstâncias – para esta fase final da época. Não apenas a vantagem de 3-1 frente ao Basaksehir para a Liga Europa, como o 2-0 frente ao Boavista para a Liga NOS. E este último deixou muita gente no paraíso possível. Com Jovane Cabral e Gonzalo Plata, pela primeira vez, como titulares, bastou o incompetente Nuno Almeida apitar para o início do encontro para se perceber como algumas peças fazem mais diferença do que outras. A diferença de velocidade, no pensamento e na execução, aliadas às qualidades e irreverentes juventudes de ambos, animou as bancadas em ambiente mais desanuviado, em que até “O Mundo Sabe Que” soou diferente, para melhor.

O resultado pecou por escasso, com responsabilidades tripartidas, e tudo parecia bem encaminhado até se chegar à conferência de imprensa após o encontro. O dia já havia sido marcado por uma chamada de 1.ª página do diário desportivo Record a umas declarações de Silas sobre Bruno Fernandes, dando o jornal a entender que o técnico havia colocado em causa o rendimento da actual estrela do Manchester United, nos seus últimos tempos de verde e branca vestida.

Quem tivesse visto, ouvido ou lido na íntegra o que Silas disse, percebia que não tinha sido essa a intenção do técnico. Nem era uma questão de avaliar intenções, pois bastava ter conhecimento das declarações na sua totalidade para se perceber que aquele era um verdadeiro não-assunto. Assim o Record não o entendeu, colocando Silas numa situação que, certamente, nem sequer Bruno Fernandes o veria. Até aqui, o ónus da má interpretação ficaria todo do lado do periódico. No entanto, Silas, no final de todas as perguntas depois da vitória frente ao Boavista, percebendo que nenhum jornalista presente o confrontou com as suas palavras na referida chamada à 1.ª página, sentiu necessidade de ser o próprio a justificar-se, não só negando o sentido que atribuíram às suas palavras, como ainda acusou o jornal de desonestidade.

Tendo um órgão de comunicação social sido “desonesto” para com o treinador do Sporting, o mais natural seria o Clube – ou melhor, a SAD – colocar-se ao lado do seu profissional, o que não aconteceu. Nem antes nem depois das declarações de Silas. Tivesse o Sporting passado em Istambul e tudo teria ficado na mesma, embora a mesma notícia da RTP adiantasse que o fim de linha de Silas seria sempre o final desta época. A eliminação europeia apenas adiantou o desfecho já vaticinado. O que abre uma nova ferida, cuja tradição em Alvalade a torna na eterna chaga: no espaço de quase 18 meses, o Sporting prepara-se para chamar ao comando da equipa principal de futebol o sexto treinador. Durante a campanha eleitoral, o agora presidente do Conselho Directivo afirmou que José Peseiro (1.º) era o seu técnico, mantendo a posição no dia das eleições. No entanto, 53 dias depois, mudou de ideias. Com toda a legitimidade.

Na altura, com uma deslocação aos Açores e logo de seguida outra a Londres, Tiago Fernandes (2.º) assumiu esses dois desafios para, de imediato, dar lugar a Marcel Keizer (3.º). Com a saída do holandês, Leonel Pontes (4.º) segurou as pontas até Silas (5.º) ser resgatado ao emblema da Code City. Seja quem for o senhor que se segue, uma sugestão para nivelar expectativas: mesmo com tempo para preparar a temporada 2020/21, e por maior que seja a crença na assertividade das escolhas, atenção ao que possa ser usado no futuro. Porque se recuarmos a 27 de Junho de 2019, numa entrevista do presidente à Sporting TV, podemos recordar: “Foi o primeiro dia da equipa profissional, mas esta época começou a ser trabalhada há muitos meses, com rigor, seriedade, critério e planeamento. Estamos desejosos que arranque. Vamos ter grupo com qualidade, ambição, competência, e por trás de tudo isso uma fantástica estrutura invisível. Vamos estar preparados e vamos à luta com tudo”. Será verdadeiramente Silas o mau da fita?

  Comentários