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RÉPLICA A UM SPORTINGUISTA
A minha tese base é de que o Sporting Clube de Portugal é um dos clubes que mais adeptos tem em Portugal por causa do modelo democrático e popular que tem vingado, e não apesar dessa realidade.
31 Mar 2020, 09:00

Na espuma dos dias que me tem obrigado a escrever semanalmente de uma forma reativa ao que vai sucedendo no nosso Clube, e até mesmo no país, não tenho tido oportunidade de fazer uma análise crítica a textos e comentários que versam sobre temas que considero importantes estudar. Hoje pretendo regressar a um texto escrito por Nuno Saraiva, em fevereiro passado, sobre a recusa do Dr. Rogério Alves, Presidente da MAG, ao pedido de assembleia geral destitutiva dos órgãos sociais do Sporting Clube de Portugal, em decisão em que, como está escrito e se confirma, o mesmo foi juiz em causa própria¹. Para além de nutrir pelo Nuno Saraiva uma forte amizade, conquistada a partir do momento em que o mesmo foi trabalhar para o Sporting, tenho por ele um imenso respeito profissional e intelectual. É das pessoas com quem mais prazer me dá discutir o Sporting e muito mais coisas, ou não tivesse sido o Nuno um excelente jornalista e dirigente em redações de órgãos de comunicação social.

No seio dessas discussões veio à baila o assunto sobre o qual o Nuno escreveu, intitulado, não sei se por decisão do próprio, se da redação da Tribuna Expresso, “Sporting. A incompetência é justa causa para destituição? Então, 80% das direções foram incompetentes”. Não sendo nem eu nem o Nuno formados na área da sociologia, tal não nos tem impedido de tentar aprofundar o nosso conhecimento na área, ainda para mais porque, atualmente, nos vamos encontrando numa das casas da Sociologia em Portugal – o ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa -, eu como aluno de doutoramento, o Nuno como seu quadro superior, desempenhando funções na Reitoria.

A minha tese base é de que o Sporting Clube de Portugal é um dos clubes que mais adeptos tem em Portugal por causa do modelo democrático e popular que tem vingado, e não apesar dessa realidade. O facto é que uma grande maioria dos Sportinguistas percecionam que têm sempre uma palavra a dizer sobre o seu Clube, sendo ouvidos, apoiados ou criticados, o que tem vindo a permitir que, mesmo sem os títulos que a grande maioria reclama como importantes vencer (designadamente no futebol sénior masculino), a dimensão humana do Sporting Clube de Portugal se mantém e extravasa as suas fronteiras. E, isto mesmo, apesar de uma falange reduzida de sócios que assume, por costelas de antepassados que estiveram na origem do Clube, ter mais direitos que os restantes sócios que democraticamente se associaram, mas que não parecem ser benquistos por aqueles. A este propósito, sugiro a visionação da série “The English Game”, que estreou recentemente na Netflix, em que, do conflito entre as elites e as classes operárias, no Reino Unido do século XIX, a partir de um jogo criado por aquelas, surgiu o que hoje é denominado por “The Beautiful Game”.

Regressando ao nosso Sporting, que tanto deve às origens britânicas, e reportando-me às realidades estatutárias que, podendo apelidar-se como irregulares ou melhoráveis, são as que permitem ao Sporting porfiar como a maior coletividade desportiva em Portugal. Ou não fosse a base dos Estatutos, na sua criação mais contemporânea, obra do falecido e ilustre Sportinguista e ex-Presidente da Mesa da Assembleia-Geral do Sporting Clube de Portugal, Miguel Galvão Teles, a quem muito pouca gente (sequer se alguma) pode apontar algum defeito.

Em artigos futuros gostaria de ir analisando alguns dados que, lá está, o malfadado enclausuramento covidiano permite.

A suivre².

Cuidem-se.

¹ – https://tribunaexpresso.pt/opiniao/2020-02-12-Sporting.-A-incompetencia-e-justa-causa-para-destituicao–Entao-80-das-direcoes-foram-incompetentes–por-Nuno-Saraiva-

² – Esta nota final é para relembrar o autor francês Boris Vian que escreveu um dos melhores romances do século XX, “A espuma dos dias”.

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