A dois anos de festejar o seu centenário, a história do Jornal Sporting está invariavelmente recheada de episódios que relatam a grandiosidade do emblema que representa. Sempre olhei para o emblemático periódico do nosso Clube, a par do Museu, como um repositório das glórias alcançadas pelos atletas mas vividas por todos, com uma equipa à semelhança das restantes que representam o leão rampante, não sendo este um adjectivo qualquer. Podia substituir-se a palavra por outra que se deseje, mas que nunca representará realmente o nosso símbolo.
O objectivo do mais antigo jornal de clubes do Mundo continua tão vivo e actual como no dia em que o Boletim saiu à rua, com o preço facultativo de dois escudos. “A razão de ser”, como então foi escrito na 1.ª página, continua, 98 anos depois, tão certo e real como então. A missão de informar a família leonina do que se passa no Clube, à falta de espaço e, muitas vezes, cobertura alargada da imensa actividade que pulsa não apenas de Alvalade, mas também da Academia, do Pólo EUL, mais recentemente do Pavilhão João Rocha, e de todos os campos, pistas, rinques, estradas, quadras, tapetes e outros palcos onde actuam com esforço, dedicação e devoção todos aqueles que envergam a listada verde e branca.
Sou o primeiro a admitir que este período de pandemia dificulta muito o trabalho de recolha de material que possa ser utilizado na edição seguinte. Foi precisamente por essa razão que a nova direcção do Jornal, liderada por André Bernardo, optou por transformar o semanário numa publicação quinzenal, eventualmente de forma a facilitar a produção do número seguinte.
Não sei se foi por esquecimento ou intencional, mas a verdade é que o último número que saiu para as bancas (n.º 3776) deixou cair a palavra Jornal que sempre marcou a marca da própria publicação, adulterando o cabeçalho. Talvez tenha sido melhor assim. Das 32 páginas da edição, metade (16) diz respeito à monotemática capa que, como eucalipto, seca qualquer outro assunto que lá venha dentro. Tem sido assim, aliás, desde há umas edições, transformando a 1.ª página numa espécie de magazine e que esconde outros motivos de interesse publicados.
Passa ao lado da reportagem que surge nas páginas 26, 27 e 28 sobre o regresso aos trabalhos do futebol profissional com a aposta na formação e declarações dos jovens chamados por Rúben Amorim. Já para não falar do fecho da edição (30 e 31) com o hóquei em patins e o primeiro aniversário da conquista do título europeu.
Concentremo-nos, pois, na metade da publicação (da página 9 à 24) que fala da “Visão Estratégica para o Futuro”, quando este Conselho Directivo já vai a meio do seu mandato. Não vou esmiuçar o conteúdo dessa “Visão”, pois cada um tirará as suas conclusões. Quero apenas realçar dois pontos que acabam por resumir o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no Clube e não apenas no Jornal, sendo este um reflexo do que se passa em outras áreas.
O primeiro, logo no editorial: “Construção de um destino que tem que ser feito de mãos dadas, em colaboração e solidariedade, porque o todo é mais do que a soma individual das partes”. De mãos dadas em colaboração e solidariedade é o que mais se tem visto no trabalho desenvolvido. Unificador, como tão bem tem estado patente. A ironia do destaque do editorial termina com a seguinte frase: “O Sporting CP de amanhã será a consequência das decisões de hoje”.
O segundo ponto, relacionado com o primeiro, dá para perceber o caminho trilhado (VER AQUI, página 10 do PDF).
Referem três pilares invisíveis que sustentam o quarto, que não é o Sócio, mas a interacção com o Sócio. Sinceramente, não percebo a insistência na invisibilidade numa organização que vive tão melhor quanto mais transparente for. Talvez seja o mesmo manto invisível que cobre o caso da divulgação dos resultados da auditoria; que cobre as contas da Fundação Sporting relativas às contribuições feitas a partir dos 0,5% do IRS (assunto já abordado no Leonino por Carlos Vieira); que cobre o protocolo, no valor de dois milhões de euros, que previa a abertura do mercado chinês ao Sporting (seja lá o que isso for); que cobre as informações que o presidente admitiu revelar dos 11 anos que já tinha no futebol: “Eu vi com os meus olhos muita coisa que não vai poder continuar”, declarou, então como candidato.
Há uma coisa que não ficou invisível aos meus olhos: a diferença entre o que era o Jornal Sporting e o panfleto propagandístico que esta semana saiu para as bancas.
*O autor escreve sob a antiga ortografia
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