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EM BUSCA DO PROGRAMA ELEITORAL PERDIDO. UM TRABALHO PARA INDIANA JONES
O powerpoint agora apresentado não é mais do que rascunhos medíocres de consultores medíocres. Sete pilares do programa eleitoral desapareceram do novo documento.
19 Mai 2020, 09:00

Já muito se disse e escreveu sobre o powerpoint que surgiu nas bancas na passada quinta-feira. Para mim, aquilo não são mais do que rascunhos medíocres de consultores medíocres que qualquer aluno de licenciatura em Gestão conseguiria produzir com indubitável maior qualidade.

Neste meu artigo visto-me de Indiana Jones e vou em busca dos pilares desaparecidos. Já nem vou pela mesquinhez das referências, ainda à data de hoje, dos 10 anos que passaram (onde se incluem dois anos da atual Direção) ou de dizerem à boca cheia que é um plano fantástico e que seria exequível, não fosse a COVID-19. Então, mas não foi agora apresentado? Por que carga de água não fizeram um documento com os riscos e oportunidades (sim, que também as há) que derivam desta crise.

Pois bem, hoje é só sobre os já referidos “pilares desaparecidos”. Cruzando o programa eleitoral sufragado em setembro de 2018 e o que agora se publica, identificam-se sete pontos, agora missing in action:

  1. Líder no futebol. Surgem duas vezes no documento estratégico (!?) as expressões “liderar” e “liderança” e só referentes à discussão pública sobre uma alegada vontade em melhorar o espetáculo desportivo. Julgo que a piada se faz sozinha;
  2. Ecletismo ímpar no Mundo. A expressão “ecletismo” não surge uma única vez. Fala-se das Modalidades como estando associadas a falhas alegadamente graves em termos de organização, mas depois louva-se os títulos recentemente ganhos. Da mesquinhez à glória em meia dúzia de parágrafos. Há mínimos de honestidade intelectual, por favor.
  3. Sócios, a Família Sporting. Nos powerpoints passa a ideia do Sócio e Adepto como cliente. Não é. Essa tem sido a falha durante anos. O Sporting é um Clube de Sócios e um agregador de Adeptos. A manifesta incapacidade de perceber as dinâmicas associadas e o poder (e responsabilidade associada) que transportam os milhões de adeptos originam coisas como esta peça de publicidade pindérica. Além disso, alguns dos itens que constavam neste ponto do programa eleitoral são de uma risível inconsequência. Onde estão os 200 mil sócios? Ainda para mais num ano de renumeração dos mesmos. Será por isto que saiu Miguel Cal? Onde está o programa na Sporting TV em que o Presidente responde a sócios? Esta é daquelas fáceis, fáceis. Até poderia escolher os sócios a dedo. Mas não se passa nada. Manifesta falta de respeito pelos Sócios e Adeptos.
  4. Núcleos: o Sporting no país e no mundo. Lá está. Não surge uma única vez a referência aos núcleos no documento. Ainda fui ver se na nova versão do Jornal Sporting a expressão surgia e sim, surgia, mas somente no texto escrito pelo Presidente do Grupo Stromp.
  5. Património por explorar. “Património” surge zero vezes. “Explorar” surge zero vezes. Vá lá, o vocábulo “por” surge nove vezes, mas acho que não conta. Quando estive na Direção do Sporting, discutia-se muitas vezes a necessidade de se melhorar a qualidade dos acessos por exemplo ao wi-fi ou à existência de novos painéis e vídeo-walls. A pergunta era sempre: e como se monetiza isso? Ou seja, o que ganha o Sporting em termos financeiros com isso? Nós vimos o Estádio cheio, com as pessoas a ver excelentes jogos. Dêem-me uma equipa de futebol, andebol, futsal ou outra, competitiva. Quero lá saber do wi-fi. Quero ganhar. Ser campeão. Além de que, todos os experts em tecnologia (daqueles a sério) nos diziam que o 5G vai revolucionar os acessos a dados. A ver vamos.
  6. Sporting solidário. Os vocábulos “solidário” ou “solidariedade” surgem, também, zero vezes. Curiosamente, numa fase em que a Fundação Sporting tanto tem feito e comunicado, deixar de parte esta componente é de uma infantilidade tremenda e de um egocentrismo exacerbado das personagens que construíram este panfleto. Pior. No programa eleitoral o subtítulo deste ponto é “Serei o Presidente da união de todos os sportinguistas”. Este é um dos maiores falhanços desta Direção.
  7. Zero suspeição. Este ponto nem era um dos pilares. Era o epílogo do programa eleitoral. E este considero um dos outros grandes falhanços e representa a falta de carácter destes dirigentes. Desde a inexistente divulgação das declarações anuais de rendimentos de todos os membros dos órgãos sociais do Clube e dos administradores da SAD que sejam remunerados à apresentação de contas consolidadas (ou das contas da Fundação, ou da Sporting Plataformas, ou de todas as outras entidades do Grupo Sporting) ou mesmo das propostas de regulação das competições ou da Liga de Clubes. Ou ainda da relação profissional com os adversários, que tem sido, visivelmente, incompetente. Tudo falta. A suspeição existe. Por culpa própria.

Assim, se os Sócios do Sporting elegeram órgãos sociais que se apresentaram com um programa que agora é inutilizado, sem respeito pela democracia, então estes dirigentes não têm legitimidade para apresentar um documento manhoso, fraco e tendencioso. Isto merece um rotundo voto de censura numa futura Assembleia Geral. Assim como se deveria solicitar a apresentação do grau de cumprimento do programa eleitoral destes dirigentes. E esta solicitação até deveria partir do Conselho Fiscal e Disciplinar ou ser intimada pela Mesa da Assembleia Geral que representa os Sócios do Sporting Clube de Portugal. E não me venham com a Covid-19. Já perderam a confiança que o comum dos Sócios depositou em vós.

E, já agora, Indiana Jones porquê? Por causa do chicote. Uma chicotada psicológica destes dirigentes lavava-nos a alma.

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