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À MULHER DE CÉSAR…
Porém, o que poderia ser uma boa notícia para os que defendem a entrada de mulheres em lugares cimeiros nos organismos do desporto rapidamente se tornou um enormíssimo amargo de boca.
Imagem de destaque04 Mai 2020, 09:00

Remata o provérbio que não lhe basta ser séria, tendo também de o parece (1).

Os poderes do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol são sobejamente conhecidos, assim como as consequências das decisões proferidas nesta sede (2). Se o Sporting Clube de Portugal não é o único clube a ter razões fundadas de queixa, o que parece certo é que, ao longo dos anos, têm sido inúmeras as deliberações emanadas deste órgão com impacto nas competições que o prejudicaram, quando não deliberadamente, pelo menos por omissão.

Ora, na semana que findou, Cláudia Santos, deputada pelo PS e que já terá desempenhado funções de Presidente na Comissão de Instrução e Inquérito da Liga, foi anunciada para presidir ao Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, substituindo José Manuel Meirim (3).  Tal intenção foi, aliás, já suportada num parecer da Comissão de Incompatibilidades da Assembleia da República, órgão esse a que, importa não esquecer, Cláudia Santos pertence, ainda que com funções de suplente. Para os que não a conhecem, trata-se de uma professora universitária de Direito Penal da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (4).

Porém, o que poderia ser uma boa notícia para os que defendem a entrada de mulheres em lugares cimeiros nos organismos do desporto (e do futebol, em concreto…) rapidamente se tornou um enormíssimo amargo de boca. Se uns criticam a manifesta confusão de esferas entre o poder político e o desporto, como sucedeu com Marques Mendes, outros apontam-lhe uma (ainda mais grave) nítida falta de objectividade na apreciação.

A título de exemplo, Mário Figueiredo, antigo Presidente da Liga, divulgou um conjunto de factos que, a serem verdade, tornam evidente a ineptidão para o cargo (5). E isto, uma vez mais, com total independência do que se possa achar do mandato deste, porque o que têm em comum estes depoimentos é a expressão da manifesta simpatia da deputada pelo  Benfica.

Os exemplos, portanto, sucedem-se, sendo, por isso, estranho que ninguém afecto ao Sporting Clube de Portugal tenha vindo relembrar episódios passados com a mesma, ainda que à data investida das funções de Presidente da Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga Portuguesa de Futebol. Para os que não se recordam, o seu afastamento da dita Comissão surge, em 2016, na sequência de uma tentativa da sua autoria de tentar interditar o estádio do Sporting, fundada numa interpretação do regulamento disciplinar que não só não foi subscrita pelos restantes membros do dito órgão, como também não mereceu o apoio do Presidente, Pedro Proença. Antes disso, outras decisões polémicas tinham tido o seu punho, seja a abertura de inquérito a Slimani, seja principalmente o arquivamento liminar dos vouchers e as agressões de Samaris.

Se há coisa em que as pessoas que se têm feito ouvir estão de acordo é, preocupantemente, na simpatia que esta docente universitária manifesta pelo Benfica, o que não é desmentido pelo castigo que, a seu tempo impôs, e que apenas determinou que fosse recebida no estádio por Luís Filipe Vieira.

Se não é tanto o passado que está agora em causa, embora este possa ser relevante, o que importa é o futuro que é expectável vir a existir. Mas, diga-se o que se dizer e até pelo mesmo passado, Cláudia Santos não é a pessoa para aquele lugar. Mesmo sendo mulher. Se calhar, principalmente por causa disso, já que às mulheres, como se sabe, se exige sempre mais.

1 – Uso este título, não ignorando a concepção machista que lhe subjaz, pelo trocadilho entre Carlos César, Presidente do Partido Socialista, e Cláudia Santos, deputada pelo mesmo partido. Deixo, contudo, ressalvado que, quanto a mim, tanto César como todos os deputados devem ser e parecer honestos.  Principalmente, como é o caso, quando integram, ainda que como suplentes, a Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados.

2 – Passíveis de serem consultados em www.fpf.pt.

3 – Por seu turno, nesta dança de cadeiras e tanto quanto se sabe, o antigo Presidente passará a assumir as funções de assessor jurídico da Direcção da mesma FPF.

4 – Faculdade de Direito onde, pelos relatos que são feitos, aproveitava as aulas que ministrava para criticar duramente decisões jurisdicionais relativas a outros clubes, cujas condutas vai agora (também…) apreciar.

5 – Não se podendo perder de vista episódios igualmente deprimentes ocorridos durante o mandato deste, como seja o de reuniões com Presidentes de Clubes em bombas de gasolina, após ter sido dada ordem de fechar as portas da Liga Portuguesa de Futebol, ao que, segundo reza a história, a conduta da própria Cláudia Santos não terá sido alheia.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

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