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BEZOS E VARANDAS
Como se de uma viagem ao Espaço se tratasse, hoje, quem for ao Google e fizer a busca por "Cidade Sporting”, não verá a inauguração de há quatro anos, mas sim vários links para a notícia de há 4 dias.
Imagem de destaque24 Jul 2021, 10:16

Em 1961, Yuri Gagarin, ao serviço da Agência Espacial Soviética, fez o primeiro voo no espaço, tendo completado uma volta completa ao planeta Terra. Nesse tempo, Portugal ainda era uma ditadura e a guerra da independência de Angola estava a iniciar-se. Nos EUA, John F. Kennedy acabara de ser eleito e lançado o repto à Nação americana de colocar um “homem na Lua até ao final da década”.

Este era o cenário de então, onde o feito de Gagarin surgia como algo de verdadeiramente extraordinário para a evolução tecnológica da Humanidade. Longe estariam de pensar que, passados 60 anos, uma ida por uns minutos ao “espaço”, de quatro pessoas, pudesse ser referenciada como “notícia” e fosse capaz de causar tanta excitação pueril.

Estou certo que essa reação pueril não existiria se a encabeçar a viagem não estivesse Jeff Bezos, supostamente o “homem mais rico do mundo”. Numa jogada propagandística de limpeza de imagem, Bezos conseguiu tirar da primeira página da busca do Google as notícias negativas sobre a sua gestão da Amazon, sobre não pagar impostos e sobre a forma como trata os seus empregados e os impede de irem à casa de banho ou de criarem um sindicato.

Mas o mais preocupante é como a imprensa e canais de TV caem nisto. Aqueles que deviam ser o “quarto poder”, servem de megafone a esta jogada de marketing comunicacional, apagando a memória de Gagarin e de outros verdadeiros heróis da conquista do espaço, que o fizeram por razões científicas e tecnológicas e não por razões “turísticas” e de negócio. Como teria sido bonito que, nesse dia, tivessem passado documentários sobre a vida de Gagarin ou sobre a corrida ao Espaço que EUA e URSS tiveram, informando e formando muitas mentes, deixando claro que eventos verdadeiramente disruptivos tinham acontecido há 60 e 50 anos, permitindo que, hoje, exista uma estação espacial internacional permanentemente habitada onde se faz pesquisa científica. Optaram e mal pela espuma dos dias.

Curiosamente, no mesmo dia Frederico Varandas teve o seu momento Bezos e numa atitude propagandística quis-nos fazer crer que “que a Cidade Sporting dava os primeiros passos, inaugurando uma pista de atletismo e uma artéria verde que ligava o Estádio ao Pavilhão”.

Também aqui os Órgãos de Comunicação Social não fizeram o seu trabalho, nem mereceram o epiteto de “quarto poder”, pois não foram capazes de fazer o contraditório necessário e que é a sua obrigação.

Não podem estar esquecidos que, há 4 anos, o ex-Presidente Bruno de Carvalho fez a inauguração, com o mesmo Fernando Medina ao seu lado, da Cidade Sporting, que incluía o Pavilhão João Rocha, vários campos sintéticos, o passeio da fama, a rotunda do Leão e que permitia ligar o Estádio ao Pavilhão. Mas a verdade é que, hoje, quem for ao Google e fizer a busca por “Cidade Sporting”, não verá a inauguração de há quatro anos, mas sim vários links para a notícia de há 4 dias.

Tal como Gagarin foi “apagado” por Bezos, também Varandas conseguiu “apagar” Bruno de Carvalho, mesmo recorrendo a uma pista de atletismo que não existe e dando primeiros passos para lado nenhum. E nem vou debruçar-me sobre o discurso que acompanhou tão solene momento, pois sou de opinião de que se não fosse no mínimo infeliz, incorreto no seu conteúdo e factualmente contra a história do Sporting e da vontade dos seus fundadores, não teria sido necessário tantas pessoas desdobrarem-se em justificações por essa internet fora. A mesma internet que vangloria uma “obra de fachada” e mais uma oportunidade perdida para unir o Sporting.

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