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CLUBE DE COMBATE
Ganhar ao Portimonense em casa, com um autogolo, não parece uma proeza que consiga fazer esquecer tudo o resto.
Imagem de destaque10 Fev 2020, 08:00

Infelizmente, o título aplica-se ao Sporting Clube de Portugal. E, infelizmente, o que ocorreu ontem demonstra que se aprendeu pouco ou nada com acontecimentos passados.

Regressámos ao terceiro lugar sem que consiga estar tão feliz com isso como alguns de nós. Ganhar ao Portimonense em casa, com um autogolo, não parece uma proeza que consiga fazer esquecer tudo o resto, incluindo algumas incoerências entre discursos passados e presentes.

Deveríamos, parece-me, estar a discutir as diferenças entre as arbitragens ao Sporting e as que são objecto outros clubes. Poderíamos, por outro lado,  debater a entrevista de Frederico Varandas que, em rigor, nada trouxe de novo. Seria ainda possível estarmos a debater o que, de novo, se soube sobre a morte do adepto do Sporting em 2016 pela mão de adeptos dos No Name Boys, sejam os que conduziram o carro, seja os que passaram por Ficcini sem nada fazer. Não é, porém, nenhum desses temas aquilo que, para nosso mal, nos voltou a trazer para a ribalta.

Um descontentamento com os resultados, resultados estes muito mais abrangentes do que o que (de inegavelmente mal…) se passa no futebol, não pode, contudo e como deveria ser óbvio, justificar tudo. E não justifica hoje como não justificava antes, quando Varandas ainda não era Presidente da Direcção ou, sendo-o, os alvos ainda eram, apenas, outros.

Não há outra forma de o dizer e não é de hoje. O Sporting Clube de Portugal deixou de estar meramente dividido para, a espaços, passar a ser um verdadeiro clube de combate, no sentido estrito do termo. A serem verdadeiras as notícias de ontem (e não há motivo para, até agora, se duvidar…), não foram apenas alguns membros da Direcção que foram agredidos mas também a filha de um deles. E isto, por mais razões que existam para protestos, não é aceitável. Pura e simplesmente, não é.

Uma coisa é o direito das pessoas a se manifestarem. Outra, diversa, é aferir se, tendo o direito, o devem fazer por forma a desestabilizarem a equipa e a incomodarem os demais sócios, designadamente com insultos e ameaças. Ainda uma outra é aceitar-se que os fins justificam todos os meios e, em nome de uma alegada verdade, admitirem-se emboscadas de pessoas, sejam elas quais forem. Se aceito a primeira e não consigo concordar com a segunda, oponho-me de forma veemente à última. Não aceito que existam condicionamentos permanentes sobre pessoas, com ameaças explícitas às mesmas. Mesmo do ponto de vista dos opositores de Varandas, o comportamento em causa é absurdo, uma vez que faz eventuais desiludidos afastarem-se de uma eventual vaga de fundo.

O direito à manifestação e o direito à liberdade de expressão não suplantam outros valores, em especial a integridade física e moral dos demais. E o proclamado amor pelo Sporting não pode perder de vista que, para além dos visados, o principal prejudicado é o clube.

De uma vez por todas, ideias combatem-se, na sede própria e pelos meios adequados, mas as pessoas não se agridem. Não se cospem. Não se ofendem gratuitamente. Em especial, quando uma delas é menor e a qualidade em que terá sido agredida é a de ser filha.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

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