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DO ACERTO DE AMORIM À INTERVENÇÃO DE VARANDAS
Será que Varandas quis, com esta comunicação, começar a preparar o caminho face a um possível revés pontual, em virtude da sua decisão arriscada de recurso do chamado caso Palhinha?
Imagem de destaque12 Fev 2021, 12:39

Se bem me lembro, a primeira vez que ouvi um treinador do Sporting a usar a expressão “jogo a jogo” terá sido Octávio Machado algures por volta de 96/97. Embora nessas temporadas não estivéssemos a lutar pelo campeonato, numa equipa que não tinha a qualidade das equipas da primeira metade da década de 90, estávamos a dar sinais de união e luta em todos os jogos.

Passaram-se anos e, em 99/2000, Augusto Inácio falava de cada jogo como “uma final” tentando focar em cada jogo, em cada vitória, o objetivo a perseguir. Entre Sportinguistas, no final de cada jogo, era no que se falava, “que mais uma final estava ganha” e assim continuou até ao fim do campeonato.

Passaram-se mais anos e, em 13/14, Leonardo Jardim fazia o mesmo e focava-se no jogo seguinte, e, a cada flash interview, lá vinha a pergunta, sempre a mesma, se “após mais uma vitória iria assumir a candidatura ao título?”. A resposta, e bem, era sempre a mesma. Foco no próximo jogo.

Eis que estamos em 20/21 e Rúben Amorim assume a mesma postura. Há alguma outra forma de comunicar e pensar? Há, mas não seria a correta e já vou explicar porque é assim. Para além do mais, parece-me que Amorim não está a esconder qual é o objetivo final, mas apenas a fazer o que deve para o atingir, tal como para subir de um rés do chão para o primeiro andar não se vai de um só passo, mas sim de degrau em degrau.

Quem estuda as questões da motivação de equipas que trabalham por objetivos, como são exemplo as equipas de vendas, sabe que se deve trabalhar com micro objetivos, em microciclos, como as vendas mensais, ou as visitas semanais a clientes, todas estas medidas com o objetivo final de se realizarem os objetivos anuais. Quem trabalha nestas áreas sabe que o objetivo final seria impossível de atingir se o horizonte temporal para trabalhar, motivar e manter todos alinhados fosse de um ano, e apenas no fim do mesmo fosse medido e controlado o trabalho da equipa.

Sem existirem os objetivos intermédios haveria um desfocar ao longo do ano em virtude de ser muito difícil o nosso comportamento ser regular e constante numa série longa.

Curiosamente, nas formações de gestão de equipas e sua motivação, recorre-se frequentemente a exemplos do desporto, sejam as técnicas com que os maratonistas se superam, quando se veem perante aquela barreira dos 31/32 km que parece inultrapassável a cada corrida, seja com o que dizem os grandes treinadores às suas equipas que ao intervalo estão “a perder por muitos”.

Invariavelmente as respostas dos maratonistas são que só pensam em conseguir “dar o próximo passo”, e o seguinte, e o que vem a seguir ao anterior. Assim como, as respostas dos treinadores são que o foco é “marcar um golo”. Ou seja, a motivação é sempre conseguir realizar a ação seguinte e nunca o final da corrida ou do jogo.

O que podemos daqui concluir é que, na teoria, Rúben Amorim está a fazer o correto, tal como os outros exemplos que dei, em outras épocas, o fizeram.

Como está tudo a correr bem, e Rúben Amorim está a comunicar corretamente, não consigo compreender a intervenção de Frederico Varandas no final do jogo em Barcelos, pelo menos à luz do que parece ter sido um deitar “água na fervura” das aspirações a ganhar o campeonato, pois em momento algum foi esse discurso realizado pela equipa técnica, jogadores e até por nós, adeptos, que estamos bem escaldados de outras épocas.

Sendo assim, como interpretar aquelas declarações? Será que a mensagem principal era a que “os adversários são muito fortes dentro e fora de campo” – sublinhado meu?  Se sim, será que o que Frederico Varandas quis com esta comunicação foi começar a preparar o caminho, e a mente dos Sportinguistas, face a um possível revés pontual, em virtude da sua decisão arriscada de recurso do chamado caso Palhinha?

Espero que não, e que este tenha sido apenas um deslize comunicacional e não outra coisa qualquer que venha a contrariar o acerto de Rúben Amorim.

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