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MAIS UMA SEMANA DE SPORTING SEM FUTEBOL
Portanto, em face do descrito, pergunto: querem mesmo um investidor maioritário na SAD, que não o clube? Será que é a visão empresarial que vai trazer o sucesso que nos tem fugido?
Imagem de destaque21 Mai 2020, 16:00

Julgava eu que o Sporting era um clube tão grande quanto os grandes da Europa. Em mais um manifesto lapso de expressão, por parte do Presidente do Sporting, fiquei a saber que o Rúben Amorim, só daqui a três ou quatro anos, estará num dos melhores clubes da Europa.

Este princípio que, para minha surpresa, se encontra enraizado num significativo número de adeptos, já havia dado sinais de vida, aquando da especulação em torno de Bruno Fernandes. Desde a enorme satisfação de o ver num grande europeu (que não o Sporting) até ao “não podemos cortar as pernas ao Bruno”, deu para apreciar que o superior interesse do Sporting é algo de muito volátil e pouco definido. Se é que interessa a alguém, para mim o importante é ter os melhores jogadores que podemos ter, por tanto tempo quanto os consigamos manter. Não tenho prazer nenhum em ver os nossos melhores atletas com as camisolas de outras cores. Prefiro que joguem com a nossa camisola. Isso melhora as possibilidades de sucesso e traz gente ao estádio.

Vivem-se tempos de dificuldade em que a solidariedade tem de ocupar lugar. Porém, nunca imaginei ver um Presidente do Sporting preocupado (e determinado) em demonstrar tamanha solidariedade quanto a que o Dr. Frederico Varandas manifestou para com o West Bomwich Albion, no caso do Matheus Pereira. Se estamos a dirimir argumentos com Braga e Sampdoria, em nome da defesa do interesse do clube, não entendo a manifestação de solidariedade para com o WBA, que pediu uma prorrogação de prazo para exercer a opção de compra sobre Matheus Pereira. Isto, depois de notícias darem conta de declarações de pessoas ligadas ao clube inglês, que diziam que o preço acordado era uma pechincha. O Sporting abdicou de um activo desportivo cuja qualidade não é igualada por ninguém do plantel e abdicou de poder ficar com um activo valorizado no mercado mais abonado da Europa. Tudo isto me parece confuso.

E a confusão propaga-se com a justificação sobre…Wang. O chamado gato escondido com rabo de fora. Ora não há dinheiro, ora já há…só pode ser outro mal entendido.

Como gosto de formação, foi com alguma curiosidade que tentei perceber o caminho do futuro. Para além do elogio ao que tem sido feito para a melhoria da nossa formação, foi mencionado que os próximos plantéis têm que ter um número significativo de jovens da formação.

Em relação ao primeiro ponto, confesso a minha surpresa quando vejo uma notícia de jornal que dá conta da saída do Director da Academia, Miguel Quaresma, por, alegadamente, estar em desacordo com algumas medidas em implementação. Naturalmente, mais surpreso fiquei quando, hoje, li uma notícia sobre a possibilidade de o mesmo Miguel Quaresma, afinal, não estar de saída mas, tão só, em transição para uma função no futebol profissional. Junte-se a este caso as demissões anunciadas na estrutura dos órgãos sociais e…é um pouco confuso, todo este cenário.

Fico contente pela escolha do novo Director, o Prof. João Couto, que é alguém com passado (e presente) de relevo no futebol de formação. Da listagem de 18 ou 19 jogadores que mencionei na semana passada, creio que todos eles passaram pelas mãos do Prof. João Couto, que conquistou 2 títulos nacionais de Juniores B, desde o seu regresso ao Sporting. Mas mais importante que os 2 títulos foi o número impressionante de atletas com potencial que ele teve oportunidade de trabalhar e entregar em condições de poderem evoluir positivamente, a caminho do plante principal.

Em relação à segunda ideia de se formarem plantéis com forte acervo de formação, lembro o que já escrevi: o compromisso é com a competitividade e a formação é uma ferramenta que pode ajudar, desde que dela se faça bom uso. Se a ideia for colocar 10 ou 12 atletas de formação só para preencher quotas, receio que se esteja a frustrar o objectivo de formação de um plantel forte e, pior do que isso, a abrir a porta para, mais uma vez, alguém se lembrar que a formação está a anos luz dos outros rivais ou que não é com miúdos que se lá vai. Portanto, uma boa ideia que precisa de uma óptima execução.

Em Setembro do ano passado, o Presidente, para justificar algumas opções (caras) no mercado de transferências, puxou da carta do “seria fácil, podíamos ter comprado um avançado por 10 ou 12 milhões mas preferimos investir esse dinheiro na Academia”. Estamos em Maio de 2020 e André Bernardo anunciou o Sporting vai investir 10M€ na Academia. Será que, em 2021, vamos ouvir a mesma conversa de “vamos investir 10M€ na Academia”? O meso André Bernardo deu conta de um novo plano estratégico. Confesso que não acompanho muito os problemas relacionados com colchões, computadores e cadeiras verdes. Mas não tenho como perceber que, a meio do mandato, haja um novo plano estratégico. E como vejo tantas alterações, em tantas áreas, pergunto-me: será que tem estado tudo mal?

Mais uma vez fiquei preocupado que não consiga ver no Presidente alguém que tenha vindo para resolver problemas. Aparentemente, os primeiros 2 anos de mandato são justificados com a “herança”; os próximos 2 serão justificados com a pandemia. É um infortúnio para o Dr. Frederico Varandas encontrar estas dificuldades inultrapassáveis e, consequentemente, é um infortúnio para todos os sportinguistas que o Clube ande de ano zero em ano zero. Esperemos que não seja até ao zero final.

E o zero final podia muito bem ser a venda da SAD. Durante anos, ouvi repetido o perfeito disparate de “belenização do Sporting”. Afinal de contas, tendo em consideração o historial de cisão entre clube e SAD, vivida nos azuis do Restelo, pode não ser um disparate tão grande a comparação.

Sobre este tema da SAD, vamos lá pôr algumas coisas em perspectiva. Diz-se que o Sporting precisa de um investidor para poder voltar a ser campeão. Um investidor que ponha lá dinheiro. Esquecendo as regras do “fair-play” financeiro, vamos fazer este pequeno exercício:

– o Sporting declarou, na última época desportiva, receitas de 75M€, sendo certo que gasta mais do que isso para o futebol;

– o investidor teria que pagar pelas acções da SAD e “herdar” o passivo da mesma;

– vamos supor que, para se ser campeão, o Sporting tem que gastar 150M€ por ano; ou seja, o investidor teria que pôr do bolso dele 75M€, sabendo que, nessa primeira época, o resultado de exploração seria muitíssimo deficitário e sem garantias de ganhar o campeonato;

– se, porventura, o investimento redundasse num terceiro lugar e o investidor tivesse que voltar a pagar, do seu bolso, outros 75M€, para outro resultado de exploração negativo, já estamos a falar de 150M€ de encargos para retorno financeiro nulo (sem falar no custo de aquisição e nas responsabilidades para com o passivo, que agravariam o défice de tesouraria).

Ora, nesta conjuntura, que tipo de investidor estamos à espera de atrair, sem perspectivas de curto alcance quanto a…lucros?

Mesmo que o Sporting se tornasse num obstinado actor do mercado de transferências, vendendo inúmeros jogadores por valores suficientes para colmatar o défice de exploração, isso significaria que os melhores jogadores estariam, permanentemente, na montra e numa plataforma giratória. Isso não reduziria a nossa perspectiva de ganhar títulos?

Vamos supor que o investidor encontra uma fórmula mágica de obter retorno financeiro, sem que isso dependa do sucesso desportivo. Isso serve o propósito de ver um Sporting ganhador?

A ideia da SAD foi vendida sob a bandeira de “o Sporting não pode depender da bola que bate na trave”. A ideia é boa mas o bom senso não depende da forma societária escolhida. Depende da qualidade dos executantes da ideia. Também foi dito, por ocasião da transferência de Alan Shearer para o Newcastle United (à data, a maior transferência do Mundo), que o Sporting, se escolhesse o caminho da SAD, estaria em condições de, nos anos próximos, poder pagar valores dessa grandeza por atletas de alto gabarito. 24 anos volvidos, todos sabemos do fracasso histórico do Clube no futebol.

Portanto, em face do descrito, pergunto: querem mesmo um investidor maioritário na SAD, que não o clube? Será que é a visão empresarial que vai trazer o sucesso que nos tem fugido?

 

*O autor escreve sob a antiga ortografia

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