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O AMBIENTE VIRTUAL EM CHOQUE (OU NÃO) COM A REALIDADE
O problema é que no mundo do futebol reina um ambiente mafioso no qual a maioria dos intervenientes apenas o vê como a galinha dos ovos de ouro.
Imagem de destaque10 Set 2020, 09:00

Durante muitos anos joguei um jogo que simulava toda a envolvente e gestão de um clube de futebol. As decisões a tomar no dia-a-dia do clube iam desde as funções de um CEO, de um diretor para o futebol ou de treinador. Com o passar dos anos e a evolução do jogo começaram a aparecer novas áreas onde tínhamos atuar com competência de forma a conseguir atingir os objetivos: gestão da comunicação e a entrada de um novo player no mercado de transferências, os empresários.

Num mundo ideal e honesto a semelhança do ambiente virtual do jogo com a realidade seria praticamente idêntica. Atualmente faz todo o sentido que a comunicação ganhe importância a cada dia que passa. Com o aparecimento das novas tecnologias da informação, a forma como os consumidores querem estar informados mudou. Tudo tem de ser mais rápido, mais direcionado e específico e a tolerância ao erro é cada vez menor. A informação em si está intimamente ligada à forma como o consumidor, neste caso o adepto, se vai conectar ao clube, sentir-se envolvido ou participar ativamente no seu dia-a-dia. É um cocktail entre informar, criar ligação com quem nos segue e aumentar o valor da marca. Tendo sempre em conta que muda o paradigma dependendo se estamos a falar de quem comunica ou de quem recebe essa comunicação.  Serve esta introdução para dar dois exemplos atuais para a dificuldade que é simular a realidade virtual com a nossa própria vivência. Seja por esquemas não programados ou por erros sistemáticos. Não vivemos num mundo ideal e honesto quando a informação que nos chega do nosso rival do outro lado da segunda circular provém de cartilhas organizadas, de comentadores supostamente isentos que só lhes falta estar de cachecol ao pescoço ou, o mais grave de tudo, notícias e peças que são elaboradas e difundidas de forma a manipular a opinião pública. Por outro lado, temos o exemplo do nosso Sporting que continua a cometer os mesmos erros em praticamente todos os comunicados ou declarações que os impedem de criar ligação com os adeptos e conseguir traze-los para a luta do dia-a-dia.

Num mundo ideal e honesto eu entenderia o aparecimento e a necessidade dos empresários de futebol. O problema é que no mundo do futebol reina um ambiente mafioso no qual a maioria dos intervenientes apenas o vê como a galinha dos ovos de ouro. Enriquecer à custa do futebol é normal e o sonho de muita gente. O problema é quando se põe única e exclusivamente os intuitos pessoais de uma forma pouco ética e lícita para atingir as ambições de cada um. Os negócios do Wolverhampton e do Porto com o Fábio Silva como ponto de partida foram só mais um prego num caixão que já se perde de vista. O futebol e as contratações/valor dos jogadores são uma área demasiado imensurável. Tudo o que envolve a avaliação desportiva e financeira de um atleta é demasiado vaga. É demasiado fácil inflacionar, camuflar ou justificar um valor pago por um jogador. Quando temos agentes no mercado que ganham à comissão por se fazer ou não certos negócios fica à vista a promiscuidade e vergonha que são certas transferências.

Quando se jogava o simulador de futebol no computador era muito tentador fazer batota. Criar perfis de treinadores para perder jogos, contratar ou vender jogadores a preços irreais ou desligar o jogo a meio de forma a poder repeti-lo. Ao contrário do que ingenuamente pensávamos, ao fazermos isto estávamos a ter práticas parecidas com as do mundo real. O famoso carrossel de jogadores teve o seu início em meados da década de 90 em computadores caseiros de jovens adolescentes, sendo que o mais famoso praticamente – Jorge Mendes – apenas o replicou com os clubes reais.

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