Nos últimos tempos observa-se, por muitas latitudes, hipóteses de regressos de ex-futebolistas ao Sporting, casos de Adrien (1), Ruben Semedo (2), João Mário (3) e, até envergonhadamente, de Podence (4). Será tentador animar os sócios e adeptos com a memória da época de 15/16 e o grande futebol praticado por essa equipa, apelando à faceta emocional e saudosista que tanto (e tantos!) cultivam nos Sportinguistas. No entanto, a racionalidade aponta para um facto: é que estes atletas apenas tiveram um rendimento desportivo superlativo sob o comando de Jorge Jesus. Sem a sua orientação, todos tiveram carreiras e desempenhos medíocres, mesmo com vencimentos bastante superiores aos que auferiam em Alvalade. Dado que o Euro 2020 se transformou em Euro 2021, percebe-se que os jogadores e seus agentes procurem um clube hospedeiro que lhes garanta a titularidade, de forma a que possam cumprir os seus objetivos pessoais de serem selecionados. Este é um tema a acompanhar de perto, num contexto de restrição financeira e verificar se o Sporting pensa, de forma autónoma, na sua política desportiva, rejeitando ser um “hostel” de passagem, a caminho do Euro.
Tal como vaticinado na semana passada (5), ao invés do Sporting que anunciou esta semana o lay-off da maioria dos seus trabalhadores, Porto e Benfica continuam sem o fazer, mesmo com os problemas de tesouraria que a atual pandemia acarreta. O temor que profissionais e estruturas não rendam a 100%, se não receberem a 100%, é também, per si, um sinal dos tempos no que diz respeito à indústria do futebol, onde a força motriz das pessoas que a compõem é o dinheiro.
Neste congelamento, entre pagamentos e recebimentos, que existe em todas as atividades económicas, tivemos, esta semana, o folhetim do não pagamento da rescisão de Rúben Amorim, ao Braga. Como nota prévia, duas considerações: primeira, é absolutamente espantoso como o Sporting, independentemente de quem o dirige, consegue sempre chamar os holofotes para si; segunda, sendo um clube em que dirigentes e personalidades proclamam, durante décadas, princípios e valores superiores aos demais, frequentemente se encontra envolvido em situações de carácter bem mundano. Desconhecendo-se os pormenores do contrato celebrado entre as partes, estranha-se a narrativa em que o Braga, só passado um mês, tenha verificado que o pagamento não foi efetuado.
Tal como no caso Doyen, o Sporting optou por manter o dinheiro nos seus cofres, de forma a poder gerir problemas de tesouraria. Se, em ambos os casos, os dirigentes optaram por salvaguardar os interesses do Sporting, a gestão da comunicação, desta vez, foi desastrosa. No caso Doyen, foi posta em causa, com sucesso, a existência de fundos, resultando na proibição dos TPO’s (6), com repercussão mediática nacional e internacional. Ao invés, tivemos agora um Francisco Zenha, sobranceiro e displicente, numa entrevista à Sport TV (7), num discurso impreparado, onde se pôs a jeito para detratores, internos e externos, lhe colarem, com o Sporting por arrasto, a imagem de caloteiro (8).
“À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta” é um dos ensinamentos basilares, baseado num célebre episódio histórico, ocorrido com Júlio César (9), para quem ocupa cargos com visibilidade pública. Dado que Varandas se encontra ausente da Presidência efetiva do Sporting, algures em Olisipo (10), combatendo legiões do bárbaro Covid-19, Zenha prestou-se, assim, perante os Sportinguistas e o resto do País, ao papel de Pompeia Sula, esposa de quem Júlio César se viria a divorciar.
2 – https://www.abola.pt/nacional/2020-04-14/sporting-ruben-semedo-com-a-porta-aberta-em-alvalade/839524
3 – https://www.zerozero.pt/news.php?id=282431
4 – https://www.zerozero.pt/news.php?id=282814
5 – https://leonino.pt/opiniao/interrogacoes-criticas/
6 – https://www.jn.pt/desporto/tas-confirma-fim-dos-fundos-no-futebol-6213275.html
9 – https://pt.wikipedia.org/wiki/Pompeia_(esposa_de_Júlio_César)
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