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O LODO DE SEMPRE
De facto não temos padres para as nossas missas.
09 Jul 2020, 09:00

Ser árbitro de futebol confere uma enorme sensação de poder. É uma responsabilidade que deve ser exercida com isenção e imparcialidade. Até há um ano não exista o VAR e todas as decisões tinham de ser tomadas no momento e sob a pressão dos jogadores, dos treinadores e do público. Durante a semana todos eles têm familiares com quem falam, a influência de dirigentes ou as ameaças anónimas. Admitia-se que em alguns casos o subconsciente atuasse com mais força. Habituei-me durante demasiados anos a ouvir justificações para autênticos roubos com estas atenuantes, mas o tempo em que os árbitros decidiam apenas em décimos de segundo, sem direito a repetição do lance ou de um mau angulo de visão já lá vai. Deixar passar um penálti escandaloso ou um fora de jogo deixou de ser apenas uma grande humilhação para quem tomou a decisão. O VAR trouxe não só mais justiça e verdade ao jogo, mas é também um meio que nos vai permitir com clareza separar os árbitros honestos, os incompetentes e os desonestos. Esta introdução deve ter em conta os fatores que foram apimentando as vitórias dos nossos rivais nos últimos, muitos, anos como as viagens ao Brasil, os cafés com leite, os pedidos de alteração de nota, as subidas de carreira com um e-mail ou os jantares regados a champanhe na forma de voucher.

O Sporting empatou em moreira de cónegos e saltam à vista quatro ideias. Rúben Amorim tem muito trabalho pela frente, estamos numa espécie de pré-época antecipada, a equipa precisa de reforços que venham a ser reais mais-valias e o lodo que é o futebol Português continua tão lamacento como é seu apanágio.

São várias as áreas onde o Sporting tem de ser mais competente, de forma a crescer e consequentemente a ser mais competitivo. O clube tem de conseguir transmitir aos adeptos uma sensação de ilusão de que é possível ganhar títulos. Passar para o exterior uma imagem de força. Enquanto isso não acontecer, ninguém nos vai levar a sério. Os adversários, tanto no campo como nos bastidores, não nos vão respeitar e as entidades do futebol, em particular o sector da arbitragem, vão continuar a tratar-nos de forma diferenciada. Énecessário trabalhar significativamente melhor a nível desportivo – construção de plantel, mas também nas zonas de influência do futebol e na forma como se vai chamar a si os adeptos para essa luta diária. Seja como mero sócio de bancada ou no local onde cada um, dada a sua situação social, pode manifestar a sua indignação.

Fomos demasiado incompetentes inúmeras vezes ao longo dos últimos trinta anos, mas tal como no passado, não é devido ao facto de termos jogado pouco futebol em Moreira de Cónegos que não devemos protestar e denunciar a vergonhosa atuação do Tiago Martins. Não podemos é apenas fazê-lo avulso. Deve haver uma estratégia coerente e constante. As balas devem ser disparadas contra um sistema e não apenas após um resultado negativo. Há erros mais graves do que outros. Há erros que se consegue entender que haja uma abertura para a dúvida. E depois há o lance do puxão ao Coates. Um penálti evidente, que não devia deixar a mais pequena dúvida até ao padre mais religioso da paróquia. Não pode ser aceitável que o Tiago Martins faça uma arbitragem deste nível. E já sabemos que da parte de quem dirige e nomeia os árbitros a punição será continuar a apitar jogos na Liga Portuguesa como se nada tivesse acontecido.

Os nossos rivais têm sido o espelho do que de pior têm os portugueses. A corrupção, os jogos de interesses e os favorzinhos são admissíveis desde que a favor dos nossos. Desde que o clube ganhe, os apertos de mão, os sorrisos e a pose para a fotografia vão sempre imperar. Aquele orgulho provinciano de estar ao lado do poder e de quem ganha, que se sobrepõe aos valores que defendem sem vergonha na cara para os outros.

Uma coisa é a avaliação que se fará à época que está a terminar e outra é a luta que devemos fazer para o exterior. Todos juntos, somos poucos. A maior força do Sporting manifesta-se quando lutamos como um todo contra os inimigos exteriores, mantendo sempre um espírito critico, construtivo, informado e atento para dentro.

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