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OS HOMENS TAMBÉM CHORAM
A gestão incompreensível da Direção do Sporting empurraram Bas Dost para o estrangeiro por tuta e meia.
Imagem de destaque31 Jan 2020, 07:55

Sempre achei aquela ideia de que os homens não choram vagamente patética.

Por isso, quando os noticiários televisivos mostraram há poucos dias uma Deputada britânica do Parlamento Europeu em lágrimas depois da aprovação do Brexit, fiquei com pena que não houvesse um plano mais alargado mostrando toda a consternação que isso causa, a mulheres e a homens. Estou seguro que Jorge Sampaio (grande sportinguista!), a quem a Cidade de Lisboa prestou há alguns dias mais uma merecida homenagem pela visão estratégica que impôs na Câmara de Lisboa na primeira metade da década de 1990, não deixaria de verter umas lágrimas se lá estivesse.

Nos mesmos noticiários choraram também Luiz Phellype e Bruno Fernandes. Compreende-se os motivos de ambos.

Luiz Phellype está a viver no Sporting a grande oportunidade da sua vida de futebolista. Depois de um percurso em clubes com outras ambições e dimensão, foi contratado para uma função que não era de cabeça de cartaz e ele sabia-o. A gestão incompreensível da Direção do Sporting e dos treinadores que contratou empurraram Bas Dost, autor de quase 100 golos ao serviço do Sporting, para o estrangeiro por tuta e meia. A mesma gestão esqueceu-se de contratar alguém de nível equivalente e até da medida elementar de inscrever Pedro Mendes. E aí estava a tal oportunidade da vida de Luís Phellype. O drama é que uma paragem de uma época implicará que talvez nunca mais se repita uma oportunidade como esta e Luís Phellype sabe-o. Aquelas lágrimas exprimiam isto tudo.

Esperemos que Luiz Phellype regresse em condições e que possa ter todas as oportunidades do Mundo e que seja o Sporting a proporcioná-las. Talvez não como cabeça de cartaz e como figura principal na linha da frente. Mas pela forma como procurou minorar as limitações que tem, pelo esforço e a humildade mostradas, merece certamente que o Sporting continue a investir nele.

As razões por que Bruno Fernandes chorou – e nós com ele – são, é claro, muito diferentes. Todos percebemos que sai para sempre, não apenas do Sporting mas das competições nacionais de futebol. Por agora, para continuarmos a vibrar com a sua qualidade e a sua personalidade vamos ter de nos tornar adeptos do Manchester United.

Em boa verdade, Bruno Fernandes já há muito que estava deslocado no campeonato português. Só a visão de Jorge Jesus o pôs na rota do Sporting, quando já fazia carreira em Itália. Só a sua honestidade e verticalidade (e a ação de Sousa Cintra) levaram a que ficasse no Sporting depois dos tristes acontecimentos da Academia, quando outros, menos perspicazes, decidiram aproveitar a ocasião para rumar para clubes desmerecedores da sua qualidade. Bruno Fernandes ficou, valorizou-se e sai pela porta grande. Sairia sempre pela porta grande, mas uma coisa que nunca saberemos é quão grande seria se as circunstâncias fossem outras. Como seria se o Sporting lutasse por títulos de campeão nacional e os conquistasse? Se aparecesse regularmente na montra da Liga dos Campeões? Se fosse uma equipa em que, a par de Bruno Fernandes, houvesse mais quatro ou cinco com o mesmo nível que lhe permitissem jogar ainda mais solto, menos vergado pelo peso da responsabilidade de ter de ser ele a resolver quando tudo falha? Talvez o ranking das transferências de futebolistas portugueses fosse um pouco diferente…

Pela sua mentalidade ganhadora, pela sua qualidade e raça, pela sua personalidade forte e liderante, Bruno Fernandes vai certamente triunfar e talvez não se fique pelo Manchester United que, no contexto inglês, está com problemas de afirmação com algumas semelhanças aos do Sporting.

Uma última palavra sobre tema a que voltaremos: o encaixe financeiro do Sporting, depois de todas as contas feitas, será muito razoável. Este e outros encaixes já ocorridos inviabilizam qualquer alibi que se pretenda invocar no futuro quanto à situação financeira do Sporting e à sua capacidade para encurtar distâncias em relação aos rivais, particularmente o Benfica.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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