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PROTOCOLOS À LA VARANDAS OU COMO SE DESBARATA A MARCA SPORTING CP
O abandono a que se vota tudo aquilo de bom que a anterior direcção fez só prejudica o Clube. Admito que seja por desconhecimento e manifesta impreparação.
Imagem de destaque03 Jul 2020, 11:00

Na semana em que celebramos 114 anos, a grande notícia foi termo-nos afastado de Salvador ampliando a distância higiénica para este e consolidando o terceiro lugar que nos dará acesso directo (do mal o menos) à fase de grupos da Liga Europa.

Pese embora a época calamitosa que os outros dois grandes têm feito, que inclusive já custou a saída do treinador do SLB e quase a do FCP, continuamos ainda assim a nove pontos do segundo classificado. Num dia emblemático para o nosso Clube e mesmo sem o contributo de Jovane Cabral, a equipa soube apresentar outras soluções e conquistar mais uma vitória. Óptimo!

Constato com evidente satisfação que o trabalho feito durante os cinco anos e meio que estivemos no clube deu frutos visíveis, que os jovens promovidos à equipa principal são muitíssimo bons e sobre a formação, do que foi feito e da situação actual, irei falar proximamente.

Na sexta-feira dia 26 de Junho fui surpreendido por uma notícia de página inteira do Record que versava sobre um Protocolo assinado com uma associação (academia) de futebol em Washington. O sítio de internet do Sporting CP também deu destaque e Varandas apressou-se desde logo a brindar-nos com mais uma das suas tiradas.

Ora, o mesmo Record em 25 de Maio de 2014 anunciou um Protocolo celebrado pela Fundação do Sporting CP para promover jovens desfavorecidos da formação do Clube que, não tendo a oportunidade de jogar ao mais alto nível, pudessem entrar e ser financiados por uma bolsa de estudos em universidades nos Estados Unidos. Seria o nosso contributo para a responsabilidade social, indicando jovens que vão ficando pelo caminho e que assim canalizariam o seu talento para a via académica. Celebrou-se na altura um acordo com uma empresa que tinha conhecimento específico nesta área e o Sporting CP assinalaria os atletas. É preciso perceber que o Sporting CP não tem a capacidade de fazer uma triagem das melhores escolas secundárias dos Estados Unidos, que por sua vez dão acesso às melhores universidades americanas. Do ponto de vista curricular também não sabe quais as disciplinas que os alunos devem apostar para aceder às ditas universidades. Essa triagem é feita em Portugal por empresas especializadas nessa área como por exemplo a Sports4me,entre outras.

A razão do meu espanto prende-se desde logo com o facto de andarmos a perder tempo com parcerias que não trazem absolutamente nada ao Sporting CP e a desbaratar a nossa marca em acordos com academias de terceira linha como há aos pontapés na América. Do currículo do responsável do Sporting CP, Diogo Saldanha da Gama, no projecto ou, como se refere o Record,  o “globetrotter do método” sei que representou durante anos o rugby do SL Benfica com um tal de Diogo Amaral (Tusta) e que esteve na “famosa” academia do Qatar – Aspire – de onde saiu esse guru da preparação física e da unidade de performance de Varandas, o já “saudoso” Rabbani.

Para quem não sabe, o Sporting CP celebrou a 1 de Outubro de 2014 uma parceria estratégica com os New England Revolution, detida pelo Kraft Group que é também dono dos New England Patriots(melhor equipa de futebol americano) e jogam no fantástico Gillette Stadiumem Foxborough. Juntos demos passos muito interessantes e aqui sim a parceria merecia uma atenção redobrada da actual direcção. A lógica subjacente que motivou a nossa estratégia e a celebração do acordo, dá-se pelo facto de na região (Boston) viver a maior comunidade portuguesa nos Estados Unidos, com mais de 700 mil portugueses registados em consulado e onde a exposição da marca Sporting CP pode mais facilmente ser alavancada pela nossa gente. Tive o cuidado de manter até 2018 um contacto próximo com o Presidente dos New England Revolutione com o respectivo Director Desportivo, sempre com o propósito de incrementar a relação. Logo, tendo o Sporting CP uma parceria com uma das marcas mais fortes do Soccernos Estados Unidos, onde a comunidade portuguesa está inserida e ávida de poder apoiar não vejo qual a razão de irem para Washington onde a marca Sporting CP não tem a mesma visibilidade, onde residem poucos portugueses e onde a prospecção e recrutamento da dita academia não tem interesse nenhum para nós. Passe o exagero era a mesma coisa que estarmos a anunciar uma parceria estratégica com os Águias de Alpiarça.

Aliás, não sendo um barómetro, esta parceria gerou um tal entusiamo por aquelas bandas que a página do Facebook da Washington Youth Soccer teve a enormidade de 31 likes…

Quando Varandas refere “este acordo vai reforçar ainda mais a nossa estratégia do que é o nosso modelo de desenvolvimento desportivo” está tudo dito. Prefiro dar uma gargalhada a corar com vergonha alheia.

Ainda quanto a Protocolos, quisemos ser exigentes e antecipar-nos à nossa concorrência interna. Em Março de 2015, celebrámos uma parceria com o F91 Dudelange que na altura gerou alguma surpresa. Este clube, semi-profissional tem sido regularmente o campeão do Luxemburgo, país cujo um terço da população é portuguesa e onde o estreitar e aprofundar da relação pode projectar a nossa marca mais uma vez alavancada pela nossa comunidade.

Nos últimos dois anos, o Dudelange apurou-se para a fase de grupos da Liga Europa e tem dado visibilidade ao futebol do Luxemburgo a nível de clubes e da selecção. Mais um exemplo que da parte de Varandas não tem existido nenhum esforço para restabelecer a relação e aproveitar para o Sporting CP um parceiro disponível e leal no centro da Europa.

Finalmente, relembrar que também quanto a Angola, em Janeiro de 2015 foi celebrado um acordo com o maior, mais titulado e forte Clube do País, o 1ª de Agosto, o clube dos militares. Entre outros aspectos de uma ampla parceria vieram para o Sporting CP os jogadores Ary Papel e Gelson Dala.

A Marca Sporting CP deve apostar nos mercados onde tem fortes comunidades portuguesas ou relações históricas para desenvolver como é o caso de Angola.

O abandono a que Varandas vota tudo aquilo de bom que a anterior direcção fez só prejudica o Clube. Admito que seja por desconhecimento e manifesta impreparação. Só assim se explica recorrer aos PowerPoints de Cal, às academias Aspire e ao refugo das ligas amadoras dos Estados Unidos que em nada acrescentam valor ao conhecimento que temos em Portugal e aos ainda resistentes e valorosos recursos humanos que temos em Alcochete.

Renovo o apelo que já fiz a Varandas. Já que não sabe nem percebe, ao menos pergunte!

Viva o Sporting Clube de Portugal!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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