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UM FINAL AGONIZANTE
Percebeu-se pela última entrevista ao canal 11 que o presidente do Sporting parece continuar a viver numa realidade paralela em que tudo o que corre mal não é da sua responsabilidade.
Imagem de destaque23 Mai 2020, 09:00

No seguimento das três demissões verificadas nos órgãos sociais do Sporting, há naturalmente várias leituras que podem ser aferidas. Convenhamos que, dentro da famosa e habitual justificação das razões pessoais (e profissionais), cabe um mar de argumentos que levam ao abandono de um projecto, seja ele qual for. Henrique Monteiro escreveu esta semana no jornal A Bola, e com alguma razão, que ninguém saltaria fora se o barco navegasse em águas calmas e o rumo fosse dentro do previsto ou houvesse um objectivo alcançável.

A saída de Bernardo Simões, de vogal do Conselho Fiscal e Disciplinar, não merece grande comentário, mas o caso muda de figura quando se fala de Rahim Ahamad e, pior ainda, de Filipe Osório de Castro, este último vice-presidente do Conselho Directivo (CD). São, em linguagem de batalha naval, dois tiros no porta-aviões, a que se juntam ao abandono prematuro de Francisco Rodrigues dos Santos e ao fim de linha de Miguel Cal, na SAD.

Estamos a meio do mandato, recorde-se.

Já se percebeu que assim será até ao fim, pela decisão da Mesa da Assembleia Geral (MAG) em considerar que não há razão válida – na livre interpretação do seu presidente, que acabou por arrastar os restantes membros, dos estatutos do Clube – para que os Sócios sejam ouvidos quanto à avaliação do trabalho desenvolvido pelo CD, no rescaldo de duas manifestações significativas de adeptos (certamente muitos deles Sócios) de contestação a muitas das decisões tomadas desde as eleições de Setembro de 2018. Provavelmente, nada fará mudar de ideias a MAG e, portanto, em jeito de senso comum, os Sócios terão de “comer e calar” até nova data para se escolher quem se segue. Até porque, quando dá jeito, o argumento de que os mandatos são para serem cumpridos até ao fim torna-se a verdade insofismável.

Prevejo, assim, um final de agonia para a actual direcção e, consequentemente, para o Sporting e respectiva família leonina. A competência para a gestão do futebol – que parece ser a principal preocupação desta direcção, em detrimento das restantes modalidades –, já ficou bem patente nas três aberturas de mercado de que já beneficiaram, já para não falar na clamorosa falência da principal bandeira de campanha deste elenco directivo, como já foi referido neste espaço na passada semana, que era unir os Sportinguistas.

Aliás, recordo as palavras do presidente na noite em que venceu as eleições: “Mais importante do que a promessa de títulos é que ontem [no sábado] começámos a vencer o adversário mais terrível, que é o Sporting fragmentado. Estou preparado para unir o Sporting. A liderança mais forte é a liderança por exemplo. Se, enquanto presidente, consigo unir os sócios, os sócios também têm de conseguir”.

Que melhor exemplo de falhanço haverá? Mas há. Percebeu-se pela última entrevista ao canal 11 que o presidente do Sporting parece continuar a viver numa realidade paralela em que tudo o que corre mal não é da sua responsabilidade. Nem há sentido pensar-se num Sporting campeão, o que traça um abismo com o que disse na mesma noite de vitória eleitoral: “Não seria justo para os sócios se não dissesse no que acredito e vejo o Sporting a vencer. Vencer é ser campeão e acredito que será no meu mandato. Sinto e sei que vou fazer do Sporting campeão”.

O responsável máximo do nosso Clube ainda não percebeu que numa era digital onde tudo fica mais facilmente acessível para escrutínio, comprometer-se com afirmações com as quais não dependem de si para as ver concretizadas são, para além de perigosamente humilhantes num futuro – que tem sido de muitíssimo curto prazo no seu caso –, como demagogas e vazias de sentido. Considerar que Rúben Amorim, dificilmente, não estará num grande europeu (como se o Sporting fosse pequeno!) num prazo de três, quatro anos, ou ainda que Matheus Nunes irá pagar os 10 milhões “investidos” na contratação do técnico ao Sp. Braga, enquadra-se neste lote de certezas perigosas, “bombas” que até levaram Pedro Sousa a considerá-las ousadas, em plena entrevista, e cujos estilhaços mancharão ainda mais a já muito frágil imagem pública do presidente leonino.

Percebeu-se o desconforto e a explicação pouco credível quando o nome de Wang surgiu na referida entrevista. Registei ainda, com um misto de agrado e estupefação, a referência aos nomes da formação que Amorim pretende lançar na equipa principal. Agrado por já ter defendido neste mesmo espaço que é precisamente esse o caminho que resta ao futebol do Sporting, mas admirei-me pois vêm da mesma formação que o mesmo presidente criticou como tendo sido abandonada no mandato da direcção anterior.

Por último, registar com agrado a promoção de João Couto como director técnico da Academia. Finalmente, um activo valorizado, desejando que tenha o maior sucesso nas suas novas funções, como teve enquanto técnico das equipas de sub-15 do Sporting que orientou ao longo destes anos.

*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

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