A FIFA lançou na passada semana um novo projeto editorial – o FIFA Professional Football Journal [1]. Saúdo o lançamento de um concorrente do Leonino, nas horas que muitos dos nossos leitores despendem a analisar textos, artigos, dados, feitos e estatísticas. O futebol tornou-se uma indústria que alia emoção, entretenimento, sucesso económico e um modo de vida desportiva e profissional para milhões de cidadãos.
Neste pequeno artigo gostaria de salientar alguns dos aspetos que surgem referidos no primeiro número:
– Numa peça sobre como a tecnologia 5G irá alterar a experiência do adepto de futebol fica claro o que eu já mencionei num artigo anterior – quem anda a falar sobre instalar redes wi-fi em estádios e pavilhões não percebeu a big picture. Ou então anda a fazer investimentos de tempos idos, iludidos por alguém, interesseiro;
– Numa outra parte do artigo, analisa-se a visão que deve prosseguir a gestão de uma infraestrutura como um estádio de futebol. Claramente que o artigo foi escrito pré-crise COVID-19, o que vai condicionar no presente e futuro (sem data prevista de fim) a forma de gerir os espaços e as pessoas nos mesmos. Julgo que aqui seria importante o Clube desafiar arquitetos, urbanistas, designers e gestores de fluxos, a desenhar novos formas de interação e de maximização de uma experiência de paixão e entretenimento, reforçando o papel que os eventos têm na relação entre Adeptos, Famílias e Clube;
– Noutro espaço surge um artigo muito interessante sobre a importância em criar e difundir bases de dados que permitam o tratamento da informação apurada sobre a formação de jogadores. Julgo que este é um dos aspetos onde tem de existir do lado do Clube um reforço de investimento. Falo da recolha de dados estatísticos que, salvaguardando a necessária proteção dos mesmos, permita criar um histórico ao longo do tempo que permita perceber quais são os fatores críticos de sucesso de um jogador. Importa não esquecer, quanto a mim, que os jogadores fabulosos muitas vezes são os que não se encaixam nos padrões idealizados. No entanto, como é afirmado neste artigo, a FIFA prepara-se para difundir de uma forma generalizada, as melhores práticas e características de atletas. Ou seja, já não há quaisquer segredos, pelo que julgo que a importância que deve ser dada à familiaridade, imagem e marca de uma academia como a do Sporting impede que se cometam atropelos como dizer que se desinvestiu aqui ou ali ou que os antecessores depreciaram a aposta na Academia. Nenhum jovem, ou seu pai ou sua mãe, gostará de saber que o sítio para onde vão não está ao nível dos melhores. Certamente haverá críticas, mas uma das mais importantes deixo-a aqui – se hoje é mais difícil convencer um jovem a escolher a nossa Academia, então dizer-se coisas como os nossos colchões serem velhos e disfuncionais é das afirmações mais desvalorizadoras de um ativo que existem. Por fim, se a informação é poder, ter paciência e trabalhar para que as sementes lançadas gerem fruto bom é essencial para poder exercer esse poder. E reunir as condições para que existam dados, investigação e tratamento dos mesmos, com análise e validação de resultados, é crítico para o sucesso;
– Continuando a leitura crítica desta primeira edição do jornal da FIFA, temos um capítulo intitulado “Reforma do Mercado de Transferências” que, quanto a mim, revela um conjunto de ações fundamentais para trazer mais transparência e seriedade a processos eivados de críticas constantes. Fala-se aqui da criação de uma câmara de compensação no seio da FIFA, que faça todas as transferências de jogadores e correspondentes movimentos financeiros passarem pela mesma. Concordo e subscrevo todas as iniciativas que o façam inclusive a nível nacional, por exemplo através da Liga de Clubes, no caso dos participantes nos campeonatos profissionais e da FPF noutros casos. A segunda reforma mencionada é a da regulação dos agentes e dos empréstimos de jogadores (com limites que impeçam o açambarcamento de atletas por parte dos clubes com maior poderia financeiro). E por fim, declara-se a intenção de fazer um levantamento efetivo dos custos de formação de um jogador para que exista uma mais justa compensação financeira atribuída ao trabalho desenvolvido pelos clubes formadores;
– Para acabar, o jornal reforça a importância do futebol feminino. Quando leio o que está descrito no jornal, recordo-me do erro estratégico que foi a limitação orçamental das equipas do campeonato de futebol feminino, em tempo corrigida (mas o mal está feito). Da minha parte, as críticas que faço nem são quanto ao modelo (usado há anos em diversas competições nos Estados Unidos) mas quanto à incoerência e à criação de um regime de exceção que, apesar de em aparência só afetar, teoricamente, uma só equipa, lançou sinais completamente errados quanto à necessidade de uma legítima equidade.
Reitero o meu conselho para a leitura desta revista que, a tempo, veio sistematizar alguns dos aspetos críticos para o sucesso do lindo jogo que é o futebol.
Deixe um comentário
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.