Passou menos de uma semana desde que a nossa vida mudou de uma forma drástica. Da vertigem de constantes solicitações ao confinamento nas nossas casas, haverá todo o caminho que teremos que fazer antes de podermos voltar, com tranquilidade, às ruas e ao convívio social nos moldes em que nos habituámos. Às vezes, a felicidade faz-se de coisas simples e nada como estarmos temporariamente desprovidos delas para que aprendamos a dar-lhes valor.
Entretanto, enquanto não se controla esta pandemia, quase todos nós, pelo menos os que estão a encarar isto com a seriedade que merece, estamos confrontados com novos desafios, entre os quais avulta aprendermos a viver com um certo distanciamento físico e quase que reduzidos aos contactos virtuais. Ironicamente, no exacto momento em que estamos dependentes dos meios digitais, talvez seja este o momento para se repensarem os valores básicos, já que o exemplo italiano e as suas consequências não nos têm impedido de repetir os mesmos erros. Nos últimos dias tem sido notícia a inconsciência de uns tantos que podem matar muitos mais e cujo impacto na proliferação da dita pandemia e, em consequência, na economia não pode ser desconsiderado.
Deixo, aqui, um primeiro apelo: cumpram as regras do designado isolamento social. Se não por respeito a vocês mesmos, pelo menos por respeito aos demais, em especial os que têm arriscado a vida para minizar as perdas.
Acresce que, como facilmente se depreende, o que se seguirá é uma inevitável crise, para a qual teremos que estar preparados. Neste momento de incertezas, há uma certeza com a qual podemos contar: se o nosso Clube estava vulnerável até agora, não ficará melhor depois. E é essa certeza que nos deve fazer unir no estrito propósito do que sejam os melhores interesses do Sporting Clube de Portugal.
Vem isto, também, a propósito da sentença do processo de Rafael Leão. Independentemente dos vários rumores que circulam a propósito do processo de rescisão deste jogador, aquilo sobre o que podemos e devemos reflectir são os factos. Tenho lido os mais variados comentários sobre a dita decisão sem que encontre grande correspondência com o que consta nela. É, aliás, um velho hábito português – e que se manifesta com particular acuidade no Sporting Clube de Portugal – sendo as redes sociais um depósito de teorias, sem qualquer apego à realidade.
Ora, tendo o processo tido um desfecho feliz, já previamente anunciado e comentado aqui no Leonino (LER AQUI), importa que se assinale o que não tem sido dito. E o que não tem sido dito é que o tribunal julgou verificados incumprimentos que reputou de graves. O que salvou o Sporting neste processo foi uma troca de mensagens entre o jogador e Bruno de Carvalho, invocada pelo próprio Clube, presumo que já presidido por Varandas, em que o primeiro evidenciou não ter ficado afectado pelo que sucedeu em Alcochete, e o facto de ter tirado férias entretanto, mantendo o vínculo ao clube.
Estes dois factos, associados ao facto de se tratar de uma relação contratual especial, permitiram ao Tribunal concluir que inexistia o que chamamos impossibilidade de manutenção da relação contratual e foi, apenas, por tal que Rafael Leão foi condenado. Se por ventura a dita troca de mensagens não tivesse ocorrido ou se Rafael tivesse resolvido o contrato no imediato, muito provavelmente o juízo seria outro.
Daqui o que temos forçosamente que concluir é que o que se passou não se pode voltar a repetir porque há lições que não podem deixar de ser aprendidas. Principalmente quando temos (e vamos a) tempo.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.
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