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UM SILÊNCIO ENSURDECEDOR
Enlamear o Sporting como forma de colocar, a todo o custo, a direcção em causa parece ter-se tornado no único desporto apreciado por um conjunto de adeptos. E, também aqui, lamento mas não vale tudo.
27 Abr 2020, 09:00

Tem-se discutido a crise sob muitas perspectivas, agora também virando-se a atenção para os Clubes e SAD’s que, nuns casos, iniciaram processos de renegociação e, noutros, optararam pelo lay-off. A crise não se limita, como é óbvio, a Portugal, mas, aqui, é capaz de ser mais grave do que conseguimos antecipar¹. A pouco e pouco, quase a conta-gotas, vamos tendo notícias de jogadores, de clubes mais pequenos, sem salários e dependentes de ajuda de terceiros para prover necessidades básicas, enquanto nos debatemos com a ausência de tomada de decisões, como seja o da eventual continuidade do campeonato ou os moldes em que tal possa vir a suceder².

Segundo um conhecido comentador, isto é, sem qualquer confirmação oficial, o campeonato será reiniciado em Junho ou Julho mas as exactas consequências desta paragem e, essencialmente do que a determinou, ainda estão por ser aferidas. Não estou absolutamente certa que jogos à porta fechada sejam a solução para um desporto de massas e que se vive no estádio mas, com grande probabilidade, é o único caminho possível, permanecendo por esclarecer as exactas condições de segurança dos atletas.

O que parece certo é que, entretanto, a crise tem chegado a todos, incluindo ao Futebol Clube do Porto, que adoptou caminho idêntico ao do Sporting e iniciou um processo negocial para a redução de salários dos atletas.

O vazio de notícias para além da COVID-19 não foi, contudo, o bastante para que os ecos da peça do New York Times sobre as estranhas relações do Benfica, entre outras com a Justiça, se estendessem ao território nacional³. No nosso jeito tão português, preferimos rirmo-nos sobre o insólito de um funcionário judicial se dedicar a consultar processos alegadamente em troca de camisolas, um grupo de juízes marcar jogos no relvado principal da Luz ou, no limite, numa mediática instrução, um dos juízes ter publicações em redes sociais de gosto mais do que duvidoso e justamente sobre o Benfica. Sendo certo que se afastou do dito processo, a questão que permanece (e que, já agora, vejo pouco debatida…) é sobre a confiança que uma jurisdição pode suscitar quando, sempre que se trata do Benfica, a propensão para existirem estranhezas é elevada.

Entre nós, ou seja, junto dos adeptos do Sporting, o caminho seguido também não foi o de procurar furar este manto de silêncio sobre o Benfica. Ao invés, continuamos a preferir digladiar-nos intra muros, procurando-se transformar entraves ou mesmo derrotas do Clube em vitórias de uma invocada facção. Se era evidente desde o início que, pelo menos, dois dos jogadores trazidos pela equipa de Varandas não serviam, não consigo perceber a manifesta satisfação que a notícia de que não regressam pode suscitar. Do mesmo modo, a pelo menos aparente recusa de uma instituição financeira em avançar receitas com a venda de Bruno Fernandes, independentemente do que se possa achar da razoabilidade da mesma antecipação, foi recebida quase com aplausos, uma vez mais como se entraves ao Sporting pudessem significar a vitória de alguns.

Enlamear o Sporting como forma de colocar, a todo o custo, a direcção em causa parece ter-se tornado no único desporto apreciado por um conjunto de adeptos. E, também aqui, lamento mas não vale tudo.

Uma vez mais, se estranho alguns silêncios, em especial quanto ao Benfica, outros seriam de ouro.

1 – Por exemplo, Miguel Poiares Maduro abordou esta temática, deixando antever a possibilidade de diversas insolvências de SAD’s por estarem privadas das principais receitas, numa entrevista dada ao Jornal Económico. Aventando a possibilidade de a FIFA conceder um apoio significativo aos clubes, Poiares Maduro referiu o que parece óbvio: as épocas de crise são aptas a gerar maior corrupção. Era também sobre isso que se deveria ponderar, conhecida que foi uma conversa bizarra que importa uma acusação grave de corrupção a um clube português.

2 – Sendo que no Sporting Clube de Portugal o silêncio é ensurdecedor, em especial quanto aos sócios com Gamebox, os quais não mereceram sequer uma comunicação explicativa do que se prevê fazer.

3 – Podendo ser lida em https://www.nytimes.com/2020/04/22/sports/soccer/portugal-benfica-football-leaks.html

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

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