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VENDER A ALMA AO DIABO OU DA INTENÇÃO DE SALDOS NA SAD
Não me parece que seja uma altura brilhante para se alienar seja o que for, principalmente no meio de uma crise por força da COVID.
Imagem de destaque11 Mai 2020, 09:00

“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

Cantigo Negro – José Régio

Para o que considero relevar quanto ao Sporting Clube de Portugal, esta semana terá sido pautada pelo anúncio do desinvestimento nas modalidades e, em contra-ciclo, o eventual regresso do Sporting B. Para os que apoiam esta Direcção, a primeira destas foi quase ignorada, ao passo que, para os seus críticos, a segunda não lhes mereceu qualquer aplauso.  Nada de novo num clube onde parte significativa dos adeptos se encontra em trincheiras, estando estes mais concentrados em insultar os outros do que em combater qualquer rival que se lhes apresente (1).

No meio destas notícias, ocorreu uma espécie de debate sobre uma aventada hipótese de venda da SAD leonina. Para os mais distraídos, Tomás Froes deu o pontapé de saída, escrevendo um artigo onde defende a alienação da SAD como único caminho para que o Sporting volte ao primeiro lugar. Entre os vários argumentos que apresentou, avultará a necessidade de uma gestão profissional, sendo que não vejo que este possa ser o único caminho para se a obter. Quanto às restantes vantagens que apresentou, nem as tenho como vantagens e, menos ainda, como certas.

Entre nós, Diogo Leitão também se mostrou favorável à mesma, aventado a hipótese de se encontrar um ou mais investidores, sob pena de considerar que temos que deixar de estar entre os 3 maiores (2).

Em sentido oposto, parece-me que quase isolado, Samuel Almeida escreveu um artigo notável. Em síntese, o mesmo veio apresentar sete grupos de razões para que a proposta de venda da SAD seja recusada pelos sócios, terminando com uma frase que merece ser realçada: “o sucesso na relva, como na vida, não se ganha vendendo a alma” e com um apelo a que o debate se faça sem dogmas e livremente.

Colocada a questão nestes termos, não tenho grandes dúvidas sobre qual é o lado em que me coloco.

Desde logo, não me parece que seja uma altura brilhante para se alienar seja o que for, principalmente no meio de uma crise por força da COVID, agravada pela circunstância de que o que se visa vender não está, como é óbvio, na sua melhor época e forma. Para que tal venda pudesse ser feita com êxito, o caminho da organização teria que ter sido seguido antes, sendo que esta necessidade da gestão profissional é, justamente, uma das vantagens que dizem advir da operação em causa. Pior ainda, como é facto público e notório, não se costumam fazer negócios brilhantes quando se deprecia publicamente o que se visa vender e essa tem sido sempre a sina do Sporting Clube de Portugal.

Depois, as grandes vantagens que se poderiam obter, segundo os seus defensores, são as mesmíssimas que se podem impor no seio de uma qualquer Assembleia Geral, não havendo, para tanto, necessidade de o Clube deixar de controlar o seu principal activo.

Por último, mesmo entre nós, temos o caso dos “dois Belenenses”, cujos litígios me fazem olhar para eventuais vendas com enorme desconfiança. A história está cheia de exemplos de invocados investidores que, no final, “compraram com o pelo do cão” e cuja gestão profissional que anunciaram foi feita no seu exclusivo interesse… No desporto e principalmente fora dele, todos conhecemos casos de “brilhantes gestores” e ainda mais “generosos magnatas” que fugiram à primeira dificuldade ou que demonstraram ter um problema de manifesta confusão conceptual entre o que era património deles e o que era de outros.

Perante isto, parece-me que um leão não se coloca de joelhos, quase à espera de esmola, expondo para memória futura as nossas fraquezas. Muito menos numa folha de um órgão da comunicação social, neste caso o Record.

Que o debate seja feito, principalmente no plano interno e com os dados todos, parece-me bem. Que o sentido da decisão nos vá sendo sugerido sem os elementos todos (e, já agora, sem tentativas prévias de solucionar os problemas por outras vias…) merece a minha oposição.  E, não, não vou por aí.

1 – No Sporting actual, o desporto com mais êxito parece ser a ofensa pessoal. E, quanto a isso, pouco há a dizer ou a registar e, menos ainda, a lamentar, a não ser pelos próprios.

2 – E, aqui, discordo imenso do que escreveu. Antes de se chegar ao que me parece ser uma conclusão precipitada, existirão percursos prévios que, quanto mais não seja pelo amor ao Clube, importa percorrer. Não estamos em saldos.

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