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DIAS NEGROS DA HISTÓRIA DO SPORTING
O dia mais negro da história do Sporting ocorreu quando Rui Mendes foi morto no Estádio Nacional, associado à forma deficiente como a justiça e as forças políticas trataram o caso.
02 Jun 2020, 09:00

Frequentemente perguntam-me qual o impacto do suposto dia mais negro da história do Sporting CP na realidade do Clube, em termos do seu ânimo, e dos seus Sócios e adeptos, e da sua saúde financeira. Ainda na passada semana, numa pequena entrevista ao Observador, afirmei que os impactos financeiros eram mitigáveis e que o Clube é tão grande e resiliente que ultrapassaria o momento do ataque a Alcochete. O facto é que esse momento ficará na história e certamente será relembrado durante vários anos.

Assistimos na passada quinta-feira ao encerramento de um processo que julgou cerca de quatro dezenas de pessoas que foram indiciadas como sendo culpadas de vários crimes. Fui testemunha por duas vezes, em diferentes momentos do mesmo. Sempre disse que no período de cinco anos e pouco que estive na Direção do Sporting nunca, em momento algum, assisti a algo que pudesse configurar qualquer tipo de ilegalidade por parte de qualquer dos membros dos órgãos sociais ou de qualquer comportamento menos ético por parte dos membros do Conselho Diretivo que acabaram por sair no dia 23 de junho de 2018. Sei, do fundo do meu ser, que o processo de destituição de que fomos alvo, se baseou, fundamentalmente num envenenamento da opinião pública e, principalmente, após a rescisão do então capitão de equipa de futebol sénior do Sporting Clube de Portugal e, consequentemente, de outros colegas seus.

Tenho escrito e até dito (a primeira vez na entrevista que dei à SIC a 13 de julho de 2018) que o dia mais negro da história do Sporting ocorreu quando Rui Mendes foi morto no Estádio Nacional, associado à forma deficiente como a justiça e as forças políticas trataram o caso. E é este o meu sentimento. Isto, conjugado com a falta de vergonha que os atuais dirigentes do Sporting utilizando e manipulando os factos de um evento como o do ataque a Alcochete, para justificar a sua inépcia e incapacidade para cumprir o mandato que propuseram aos Sócios. Já sei a lengalenga. Daqui a dois anos vão recandidatar-se os amiguinhos de escola todos, dizendo que os maus resultados dos quatro anos anteriores se deveram ao ataque a Alcochete (os primeiros dois anos) e à COVID-19 (a segunda metade do mandato).

O dia em que ocorreu o ataque em Alcochete também foi negro para mim e para todos os meus colegas de Direção, quando Sportinguistas e figuras importantes da Nação assumiram um conjunto de ideias que arrasaram toda a nossa competência e todo o trabalho meritório que tínhamos vindo fazer. Foi a primeira vez que um local alvo de alegado “ataque terrorista” nunca foi, julgo que até hoje, visitado pelas altas instâncias da Nação. Lembro-me do imediatismo em que estas personalidades surgem quando caem avionetas, quando há terras e casas queimadas e pessoas mortas (e até aí dizendo que se fez tudo o que podia ter sido feito, sem responsabilidade de qualquer envolvido, para depois verificarmos as dezenas de arguidos que hoje temos, por exemplo, resultantes do incêndio de Pedrogão). E quando se dá ainda uma palavra de conforto e se disponibilizam apoios. Nada disso aconteceu. Pegaram no Presidente do Sporting, insultaram aqueles que com ele ficaram até ao fim de um mandato legitimamente conquistado e ainda hoje vêm desonestamente afirmar de que não houve condenados porque não houve provas. Isto é a tragédia da nossa Justiça que reflete aquilo que são os seus cidadãos.

Aquele também foi um dia negro. Que nos impediu de prosseguir o nosso trabalho e de combater os nossos reais adversários. E que trouxe prejuízos incomensuráveis ao Clube. E que demonstrou a paixão dos portugueses em geral, e de alguns Sportinguistas em particular, por autos-de-fé.

De resto, o João Duarte, o Ricardo Gonçalves, o Diogo Leitão e o Pedro Geada já escreveram, e bem, sobre a decisão judicial da passada quinta-feira. Não posso concordar com a Mariana Ferreira. É preciso falar, discutir, pressionar para que as coisas sejam analisadas com equilíbrio e sem “envenenamentos”. Se tal não acontecer, não se está a fazer um bom serviço à democracia. E temos de debater com os “nossos” e com os “outros”. E trazer à discussão aqueles que, como o Pedro Figueiredo escreveu no seu artigo “A triste realidade Brechtiana” (1), julgam que não é nada com eles e que, no fim, sempre era, e, depois, já foi tarde.

E que no fim do debate, nos sintamos, no caso em apreço, todos, Sportinguistas.

Não quero acabar sem mencionar a saudade que me deixa o nosso campeão Maurício Hanuch, com quem tive oportunidade de conversar em 2018, pois ele tinha abraçado a profissão de agente desportivo, depois de terminar a sua carreira futebolística. Um bom homem!

Tendo mencionado acima o Pedro Figueiredo, quero-me despedir dele referindo a honra de com ele ter trabalhado e o prazer que tive em ler, aqui no Leonino e não só, textos de uma qualidade inigualável. Godspeed!

1 – https://leonino.pt/opiniao/a-triste-realidade-brechtiana/

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