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O COMBOIO DA DÍVIDA
Acenar com o resultado positivo das contas do primeiro trimestre, para esconder uma situação de tesouraria alarmante? Os Sócios merecem mais transparência e honestidade.
Imagem de destaque14 Nov 2021, 09:00

A SAD apresentou as contas do primeiro trimestre e o resultado é positivo, em grande parte devido ao prémio da Champions. São 27 milhões de euros registados nos Proveitos, mas a verdade é que não se pode olhar apenas para aquilo que são os Resultados do Exercício, tem que se olhar, também, para aquilo que é gestão financeira do Sporting.

Esse exercício obriga a usar não só os Resultados, mas, também, o Balanço e o Mapa de Cash Flow. Uma análise “às contas” tem de ser baseada nestes três documentos obrigatórios.

É um facto que o resultado melhorou, e muito, mas não podemos esquecer que estes 27 milhões do prémio não se vão repetir nos próximos trimestres e, portanto, se não houver vendas de jogadores e mantendo este ritmo, muito provavelmente vamos acabar o ano com cerca de 5 milhões negativos.

Muito sinceramente, não acredito que essas vendas não venham a acontecer. E não acredito porque se olharmos para o Balanço e em concreto para a conta de Clientes e para a conta Caixa/DO, veremos que temos apenas 13 milhões de euros. Mas, pelo contrário, se olharmos para a conta de Fornecedores de curto prazo, vemos que temos a pagar 67 milhões de euros.

Só daqui temos uma ideia daquilo que é o fundo de maneio do Sporting, completamente negativo e extremamente preocupante, pois é de conhecimento público que o Sporting não liberta os meios financeiros necessários para cobrir as necessidades do próprio ano. Assim sendo, menos o fará para cobrir as dívidas passadas.

Se, por outro lado, olharmos para o Mapa de Cash Flow, veremos que o Sporting, neste último trimestre, perdeu muitos milhões de euros, ou seja, pagou muito mais do que recebeu e no final do dia ficou quase sem dinheiro em Caixa. Sendo esse dinheiro é fundamental para pagar aos nossos fornecedores, aos atletas, etc, então percebemos que o cenário é muito menos florido do que o positivo anunciado.

Combinando a leitura dos diversos documentos, conclui-se que, ao contrário do que foi noticiado, não são 211 milhões de necessidades que o Sporting tem para pagar até ao final do ano. Entre “deve” e “haver”, serão cerca de 140 milhões de euros, de qualquer das formas um número enorme.

A pergunta que se coloca é: como vamos conseguir fazer frente e este “comboio da dívida” que está aí a chegar? Esta foi a pergunta que eu fiz na AG da SAD ao Francisco Salgado Zenha.

Nós, enquanto portugueses, já tivemos intervenções do FMI e sabemos bem que quando os credores batem à porta não há nada a fazer: levam tudo à frente e tem de se apertar o cinto e vender os anéis.

Afirmar que “está tudo bem com as Contas” é altamente irresponsável! Bem sei que todos nós queremos é que o Sporting ganhe o bicampeonato, mas a verdade é que se não vendermos, já no mercado de Inverno, muito dificilmente conseguiremos pagar os salários dos jogadores e pagar a dívida que temos a fornecedores, principalmente aos clubes, “pormenor” directamente ligado ao licenciamento para as competições da UEFA.

No meu entender, esta Direção devia falar a verdade aos Sócios do Sporting, em vez de colocar o Miguel Braga a dourar a pílula, dizendo que tudo é maravilhoso e que as contas estão bem, porque não estão.

Muito provavelmente terão que acontecer vendas e não apenas de um só jogador, porque para fazer 140 milhões, seriam precisos três “Bruno Fernandes”. Por isso, ou se descobriu alguma impressora do Banco Central Europeu no Estádio ou, então, não estou a ver como é que é possível não vender em janeiro.

Para além de pagar a Fornecedores, não nos podemos esquecer que também há que pagar aos Atletas e outros fornecimentos externos, isto tudo numa situação em que esta Direção já adiantou o prémio da Champions, tendo-o já gasto quase por inteiro, e tem dois anos de direitos de TV já adiantados e gastos.

As duas vitórias contra o Besiktas deram 5,4 milhões, a entrada de dinheiro das Gamebox, dos Camarotes e Bilheteira, quanto muito, rondará os 15 milhões, isto para fazer face a 50 milhões de custos com o pessoal nos próximos 3 trimestres.

O novo Empréstimo Obrigacionista, terá como grande finalidade pagar os juros e devolver aos investidores o dinheiro anteriormente investido, ou seja, só o valor adicional que se consiga angariar é que será “dinheiro fresco”. Esta é a situação de défice de tesouraria que enfrentamos.

É neste cenário que temos de questionar a política de contratações que esta Direção encetou com a compra de apenas 50% dos passes dos jogadores. Por exemplo, no caso de Pote, estivemos a fazer aquilo que convencionou chamar de “valorizar o ativo”. A esse nível, o trabalho foi excelente, mas quem vai recolher metade desse trabalho não é o Sporting. Ou seja, andamos a pagar os salários na totalidade, valorizamos o jogador e, depois, quem lucrará mais não será quem fez o trabalho.

A meu ver, essa política é completamente errada e devia fazer os Sportinguistas refletirem, ainda para mais quando sabemos que “o comboio da dívida está a chegar” e temos metades de passes para o tentar parar.

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