Novo projeto para compreender os riscos associados às apostas desportivas entre os jovens

Que as apostas estão a crescer não é grande novidade para ninguém. Basta olharmos para a TV e vermos publicidades em horário "prime" a casinos e casas de apostas. Basta olharmos para as camisolas dos clubes para vermos os patrocínios. Outrora ocupados por bancos, companhias aéreas, hoje em dia as camisolas são ocupadas por casas de apostas. E o que é que isso significa? Bem, significa que é um mercado em crescimento e, sobretudo, com muito dinheiro para investir. Desde 20 reais de bônus sem depósito até outros tipos de bónus, não faltam incentivos para os apostadores fazerem as suas "tips".

Ainda assim, há um grupo que gera principal preocupação e são eles os jovens. Os jovens são facilmente influenciáveis e devem estar bem cientes do que são as apostas desportivas e tudo o que elas implicam. Como em tudo na vida, se for feito com moderação não é um problema. Um copo de vinho não é um problema. Duas garrafas talvez já possa ser. O mesmo acontece com as apostas. E é aqui que entre o Conselho da Europa, ao lançar uma iniciativa para lidar com estas preocupações. 

Compreender o problema

O projeto surge numa altura em que a indústria global do jogo deverá atingir os 300 mil milhões de dólares em receitas até 2028, o dobro dos 150 mil milhões de dólares registados em 2019. À medida que o jogo online e a cultura dos videojogos continuam a evoluir, o mesmo acontece com os riscos associados. Uma pesquisa apresentada na conferência de Roma realçou a extensão alarmante do problema.

De acordo com estudos recentes, as perturbações do jogo podem afetar até 26,4% dos adolescentes que participam em plataformas de jogo online. Além disso, 16,3% dos jovens que participam em apostas desportivas também apresentaram sinais de problemas relacionados com o jogo. Estas estatísticas pintam um quadro preocupante da extensão do problema e enfatizam a necessidade de uma acção imediata tanto a nível nacional como internacional.

O Impacto do Jogo na Saúde Mental e Física

As consequências para a saúde mental e física do excesso de jogo e de apostas são significativas, especialmente entre os adolescentes. Os especialistas na conferência sublinharam a necessidade de os decisores políticos considerarem o impacto mais amplo do jogo na vida dos jovens. A Dra. Orsolya Kiraly, investigadora da Universidade Eotvos Lorand de Budapeste, salientou que, embora apenas uma minoria de adolescentes apresente sintomas semelhantes aos da dependência, as consequências podem ser graves. Estas consequências incluem conflitos familiares, problemas de saúde física e distúrbios do sono, que podem agravar ainda mais problemas de saúde mental, como a ansiedade e a depressão.

A integração de características semelhantes às do jogo nos videojogos, particularmente a inclusão de "caixas de saque" e outras compras no jogo, tornou ainda mais difícil diferenciar entre jogo e jogo. Como resultado, os jovens podem nem sequer reconhecer que estão envolvidos em comportamentos semelhantes aos do jogo. Esta sobreposição entre o jogo e as apostas tem complicado os esforços para desenvolver políticas claras e eficazes para lidar com os riscos de apostas entre os jovens.

A necessidade de uma melhor transparência dos dados

Um dos principais pontos levantados durante a conferência foi a importância de uma melhor transparência dos dados. Os especialistas enfatizaram que as pesquisas atuais sobre o jogo entre os jovens são insuficientes e muitas vezes carecem de dados fiáveis, o que dificulta a compreensão da extensão total do problema. Sem dados precisos, os decisores políticos não conseguem elaborar estratégias informadas que abordem eficazmente os riscos e os danos associados ao jogo e às apostas.

Simona Pichini, especialista do Instituto Nacional de Saúde de Itália, salientou que o desafio não é apenas sobre a recolha de dados, mas também sobre a forma como a questão é percebida pelos adultos e jovens. Existe um fosso significativo entre a forma como os problemas de jogo são compreendidos pelas diferentes gerações, sendo os jovens menos propensos a reconhecer ou a procurar ajuda para problemas relacionados com o jogo. Esta lacuna geracional complica o desenvolvimento de intervenções direcionadas e campanhas de sensibilização.

O papel do desenvolvimento de políticas

Resumo? São precisas mais politicas de prevenção. Olhemos para o Brasil que lançou recentemente uma super fiscalização para perceber que tipo de promessas as casas de apostas em futebol faziam sobre os bónus. A primeira medida? Todos os casinos têm de colocar explicitamente os requisitos de bónus para não existirem informações erradas e falsas promessas.

A nível Europeu, o projeto vai começar por reconhecer e confirmar se existe um problema. Só depois passarão para a ação, mas o objetivo é criar diretrizes para todos os estados membros. O primeiro passo passará por reforçar as casas de apoio ao jogo e garantir que a publicidade é justa e transparente para não induzir ninguém em erro. Temos de esperar por mais desenvolvimentos.