
Um pedaço de ouro no caminho das pedras do Sporting
Se há coisa que a vida nos ensina é que o que parece certo, adquirido, rapidamente se transforma num cenário diametralmente oposto.
26 Jun 2020 | 09:28
Acredito que os sócios no geral gostariam de ter um Brunismo moderado. Que situe o Clube nas conquistas, combata e supere os rivais e retome e aplique como estratégia de expansão o slogan do Sporting.
Após uns artigos esporádicos que tive o grato prazer de ver aqui publicados, começo hoje uma colaboração semanal no Leonino. Quero desde já saudar a equipa, desde o Publisher, Director, jornalistas, comentadores, mas também deixar uma palavra de agradecimento aos leitores sportinguistas que são a razão de ser dos nossos textos. Preocupa-me muitíssimo a divisão que assistimos no Clube que se agudizou e extremou a níveis intoleráveis desde Setembro de 2018. A mesma tem raízes profundas e é preciso perceber as razões que nos trouxeram até aqui e de onde surgiram estas duas correntes tão distintas e antagónicas quanto ao modelo e à forma da participação dos sócios nos destinos do Clube. Para que o histórico Sporting CP, tal como o conhecemos, possa sobreviver e voltar a crescer, é fundamental que uma destas visões de clube suplante definitivamente a outra e que a minoria que restar seja absorvida pacificamente pela maioria. No próximo acto eleitoral será este o grande debate. Que modelo de Clube queremos? O mandato de João Rocha fica para a história, mas o final do mesmo, para quem se recorda, foi difícil e conturbado. Enfrentou críticas e uma oposição de sectores importantes do Clube. Pela sua personalidade vincada e sendo um homem que projectou uma visão de clube assente no ecletismo, no crescimento da base de sócios, na massificação e dispersão territorial (ex.: sportinguíadas), suportado por títulos nacionais e internacionais podemos considerá-lo de alguma forma como populista. Sucedeu-lhe um respeitável, mas apagado, Amado de Freitas e dois anos mais tarde, com total surpresa, com uma campanha “fora da caixa” e mediática, quebrando as “regras” instituídas, chega à presidência o despachante Jorge Gonçalves. Propunha uma nova forma de gestão, assente numa figura carismática e com peso popular. Passariam a ser os sócios comuns a decidir os grandes temas da governação do Sporting CP. Uma das principais bandeiras (além das unhas do leão) de Jorge Gonçalves, precisamente querendo acabar com uma certa oligarquia que existia no Clube, foi extinguir o Conselho Leonino. Recordo-me de ter ido à minha primeira Assembleia Geral, com milhares de sócios, no Pavilhão dos Desportos, que ditou o fim do mesmo. Jorge Gonçalves, como sabemos, durou pouco e sucedeu-lhe Sousa Cintra. O mandato deste também poderá ser considerado populista, pelas suas intrínsecas características comunicacionais. Tentou combater o sistema, fez uma notável campanha de implantação e criação de Núcleos para afirmar o Sporting CP como um Clube presente em todo o Continente e Regiões Autónimas. O presidente Cintra não recuperou o Conselho Leonino. Entendeu constituir um Conselho Consultivo, mais curto do que o anterior Conselho Leonino e segundo me transmitiram por nomeação dos seus representantes pelo próprio presidente do Conselho Directivo. Quando José Roquette chega ao poder, a mentalidade e o modelo de governance mudou. O Conselho Leonino é restabelecido como Órgão Social e com assinalável peso político. A dinastia de José Roquette, pese embora a aparência democrática, afastou os sócios comuns das decisões. Só os grandes gestores e a “alta finança” podiam almejar participar e decidir os destinos do Sporting CP. Com o avolumar do passivo bancário, tornava-se cada vez mais inacessível chegar à presidência e, claro, só com a anuência da Banca é que os presidentes do Sporting CP eram indicados e posteriormente eleitos. O meu interesse pelo dirigismo desportivo surge apenas no acto eleitotal de 2011. Até então a minha preocupação centrava-se apenas naquilo que deve ser a vivência do sócio. As quatro linhas, as pistas e os pavilhões. Ora nessas eleições apareceu um candidato com um discurso claro de ruptura, contra o sistema vigente. Afirmava um modelo de participação massificado dos sócios, uma mentalidade agregadora e focada nas vitórias em todas as modalidades e com um discurso populista a que hoje apelidamos de Brunismo. Em 2013, quebrou-se finalmente com 17 anos de Roquetismo e com essa dinastia que se pretende perpetuar. A tal oligarquia que combateu João Rocha, que ficou horrorizada com Jorge Gonçalves e que tolerou só até determinado momento Sousa Cintra. Os apoiantes do Roquetismo querem o Sporting de Lisboa. Um Clube elitista, desejavelmente com poucos sócios (mas entre eles com poder decisório) e com as bancadas ocupadas por adeptos e simpatizantes. Para os primeiros não faz sentido nem querem um Clube grande em termos de sócios nem popular. Querem focar-se no futebol de 11 sénior masculino e abandonar a maioria das modalidades. Confesso que foi apenas a partir de 2013 que me apercebi desta estratificação no Sporting CP. Curiosamente não é uma estratificação social no sentido clássico. Pode até ficar-se com a ideia de que há uma luta de classes no Sporting CP, mas tal não corresponde à verdade. Com evidentes excepções, o Roquetismo é composto por um conjunto de pessoas sem peso social específico, sem feitos desportivos ou empresariais a assinalar, mas que gravitam à volta do Clube, retiram dele proveito, aí querem estabelecer o seu feudo e ter importância. Alguns inseriram-se no Grupo dos Stromp, outros promovem-se nos Cinquentenários, outros há que pululam pelos Leões de Portugal e todos intitulam-se a elite do Clube. Ora, a esta “pseudo elite”, que não confundo nem com o Grupo dos Stromp, nem com os Cinquentenários nem com os Leões de Portugal, juntam-se outros associados que entendem, e estão no seu direito, que o Sporting CP foi deles, é deles e será deles. Os que conheço pessoalmente, e conheço vários, fora este desvario, são gente estimável, mas pretendem um Clube mais pequeno, de acesso reservado em que a sua influência e participação nas decisões do Clube não seja posta em causa. Curiosamente, enquanto dirigente tive ocasião de privar com grandes empresários, políticos e outras personalidades, influenciadores deste País, enormes sportinguistas pelo apoio efectivo e não visível que prestam ao Clube, e que sendo a verdadeira elite não entram nestes jogos e querem o outro Sporting CP. Faço notar que é novamente com um presidente dito populista que o Conselho Leonino se extingue. No período compreendido entre 2013 e 2018 assisti a inúmeras sessões e em nenhuma delas se retirou algo de interessante ou produtivo para o Clube. Pese embora a boa vontade e qualidade dos membros, dos seus conhecimentos pessoais e profissionais, o Conselho Leonino não tinha interesse absolutamente nenhum para a governação do Clube. Deve, portanto, retirar-se a conclusão de que a possibilidade de uma Assembleia Delegada, como hoje se alvitra, é no meu entender um perfeito disparate e não só não é representativa da vontade dos sócios nem de uma instituição democrática, como há o perigo de promover lobbies e grupos de interesses com peso junto da Direcção. A tal oligarquia que teima em permanecer… O facto de termos sido fundados por um aristocrata – José Alvalade – e termos orgulho na nossa história grandiosa, não retira ao Clube a condição de ser do Povo. O Sporting CP grande e popular, o Sporting dos sócios, o Sporting de todos e para todos, que em 2013 restaurou a democracia plena e o sentimento de pertença, da garra e das vitórias, o Sporting CP que vive para ser tão grande como os maiores da Europa e do Mundo, esse é o Sporting CP que eu acredito, pelo qual lutei e pelo qual lutarei para ser restabelecido. O Sporting CP dos mais de 150.000 sócios em que todos temos um papel a desempenhar. Nas nossas famílias, nas nossas empresas, nas associações onde estamos inseridos, nos mais dispares ambientes, desde logo nos Estádios, nas Pistas e nos Pavilhões. É esse exército que unido sobre o único e verdadeiro valor que nos move: as Vitórias, que temos de voltar a reunir. Tenho conversado com muitíssimos sócios por todo o País. Têm saudades do Brunismo. Entenda-se Brunismo como aquele sentimento que viveram de 2013 a 2018 porque essa herança, esse legado que vivi e protagonizei, está vivo e queremos que volte. Um Clube avassalador, mobilizado, vitorioso, que nos encha de orgulho. Por outro lado, os sócios sabem e já deram mostras, por muito injusto que possa parecer, do que não querem. Têm consciência da instabilidade emocional do ex-presidente, da banalização que o mesmo faz a si próprio e à figura institucional que representa a presidência do Sporting CP. Só por simpatia e sentido de gratidão é que, sendo já poucos, ainda há quem o queira de volta. Acredito que os sócios no geral gostariam de ter um Brunismo moderado. Que situe o Clube nas conquistas, combata e supere os rivais e retome e aplique como estratégia de expansão o slogan do Sporting - o Clube de Portugal. Para já, infelizmente para mim e para muitos, os herdeiros do Roquetismo voltaram a governar o clube. A tal pseudo elite, amorfa, pouco trabalhadora, medíocre e por isso insegura e invejosa. O seu expoente máximo é figura proeminente que arrasta a sua verve há quase duas décadas pelos camarotes do estádio, mas sem qualquer conhecimento do fenómeno desportivo, do sentir dos sócios dos quais tem horror e desconhece a exigência pelas vitórias. Quando a dita pseudo elite quer imputar ao Sporting CP, os tais “valores” contra natura do saber estar e da elevação, eu digo-vos que esse é o argumento dos fracos, dos indolentes e daqueles que não sabem nem querem ganhar, porque os valores do Sporting CP são as vitórias e a Glória! Que o Povo volte a governar e esse Povo composto por ricos e pobres, velhos e novos, homens e mulheres, sócios recentes e sócios antigos se mobilize porque todos temos um papel a desempenhar e ninguém deve ficar de fora, inclusive aqueles que pensam e querem o outro modelo de Clube. Viva o Sporting Clube de Portugal!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.
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