Manuel Matos dos Santos
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08 Mai 2025 | 11:21

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Manuel Matos dos Santos

Se há coisa que a vida nos ensina é que o que parece certo, adquirido, rapidamente se transforma num cenário diametralmente oposto.


A presente época do Sporting ficará marcada na história como uma montanha-russa de emoções, altos e baixos, dificuldades e resistência. A inesperada e conturbada saída de Ruben Amorim – o treinador que devolveu o Sporting aos títulos e à estabilidade – foi o primeiro abalo sísmico numa época leonina que parecia inabalável. A escolha de João Pereira como sucessor revelou-se, em pouco tempo, um equívoco que pela primeira vez colocou tudo em causa.


Num contexto exigente, onde o sucesso recente criara expectativas elevadas, nem João Pereira nem os jogadores do Sporting conseguiram (re)encontrar a sua identidade, tal e qual um apagão – de rotinas, de ideias, de saber. A falta de experiência de um treinador principal, aliada à pressão que era dar continuidade ao sucesso da equipa, traçou a inevitabilidade de um destino que desde cedo se começou a adivinhar.


No mercado de inverno, enquanto os rivais reforçavam os seus plantéis com ambição, o Sporting optou, talvez por não ter os mesmos meios financeiros, por uma política conservadora. A exceção, com resultado, foi a contratação de Rui Silva, guarda-redes de qualidade inquestionável, mas que, sozinho, não podia resolver os problemas estruturais da equipa. A ausência de reforços para posições críticas expôs ainda mais o grupo a um desgaste físico que se foi tornando cada vez mais evidente, encontrando reflexo em deslizes e na perda da confortável vantagem pontual que havia garantido.

Se o panorama já era delicado, as constantes lesões tornaram-no quase dramático. Jogadores que constituíam a espinha dorsal da equipa, como Pedro Gonçalves, Morita, o capitão Hjulmand, Geny Catamo, Daniel Bragança, Nuno Santos, Eduardo Quaresma, o desde o início crónico e problemático lesionado St. Juste, João Simões, e o próprio Gyökeres, passaram longos – muitos deles, permanentes – períodos afastados dos relvados, forçando Rui Borges a derivações e improvisações constantes. A falta de rotatividade e de soluções, tanto em campo como no banco, tornaram-se gritantes, sobretudo em fases decisivas da época.

A equipa precisava de mascarar as suas oscilações e debilidades físicas e exibicionais. Sim, precisava de uma máscara. Por entre o caminho das pedras, brilhou um triturador: Viktor Gyökeres. O avançado sueco, que lidera agora a corrida a bota de ouro da Europa, com mais 10 golos do que o segundo classificado, Mohamed Salah, foi e é o verdadeiro pilar de sustentação da equipa. A sua capacidade física, inteligência tática, faro e sede de mais e de mais, tal e qual um tubarão na perseguição ao rasto de sangue, transformaram-no num dos melhores jogadores que já alguma vez passaram pelo Sporting e, talvez, no melhor das últimas décadas a atuar no campeonato português.

Gyökeres não se limitou, como se pouco fosse, a marcar e a assistir: jogou, fez jogar e arrastou a equipa com ele às costas, dando assim esperança à nação leonina ao manter viva a chama de um bicampeonato que, de outra forma, já há muito se teria dissipado. O seu contributo transcendeu as estatísticas – foi também emocional, representando um símbolo de luta, resistência e perseverança num ano em que era difícil encontrar mais contrariedades.

Aqui chegados, ao derby dos derbys, na improvável final das finais de uma longa maratona, continua tudo muito equilibrado. Por um lado, parece-me que nesta fase o Benfica se encontra mais fresco e rotinado em termos coletivos. Por outro, o Sporting tem o pedaço de ouro, Gyökeres, capaz de criar espaço na profundidade e de empurrar a equipa para a frente, convidando ao aparecimento do detalhe, do desequilíbrio, de constituir o fator diferenciador – o golpe final – apenas alcançado pelos raros predestinados.

Mais: por um lado, o Sporting joga sabendo que uma vitória pela margem mínima lhe garante a conquista da Liga Portugal Betclic, tendo ainda consciência de que um empate continua a ser um resultado positivo na medida em que permitirá que dependa apenas de si e de uma vitória na última jornada para se sagrar campeão. Por outro lado, o Benfica joga na Luz, no seu palco, junto dos seus adeptos, sendo que procurará utilizar essa circunstância para hostilizar a turma de Alvalade.

Será todo este caminho das pedras do Sporting o mote para a revalidação do título? Não sabemos. É essa a magia do futebol, pautado pelo impasse, drama, desenlace e, por fim, tristeza ou felicidade.

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Manuel Matos dos Santos
Manuel Matos dos Santos

Um pedaço de ouro no caminho das pedras do Sporting

Se há coisa que a vida nos ensina é que o que parece certo, adquirido, rapidamente se transforma num cenário diametralmente oposto.

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