
Um pedaço de ouro no caminho das pedras do Sporting
Se há coisa que a vida nos ensina é que o que parece certo, adquirido, rapidamente se transforma num cenário diametralmente oposto.
06 Fev 2020 | 08:00
A quem quer que se disponha a liderar o Sporting Clube de Portugal, é bom lembrar que não temos penas, nem somos uma figura do domínio do imaginário! Aqui há Leões!
Reza a lenda que foi o Sporting Clube de Portugal criado para ser "um Clube tão grande como os maiores da Europa". Temos uma massa adepta que, na respectiva escala do país em que vivemos, encontra poucos paralelos por esse Mundo fora, se pensarmos na percentagem da população que apoia o Clube; temos uma história rica em vitórias, em todas as modalidades, e diversos atletas, a quem o Clube proporcionou condições para se tornarem atletas olímpicos, nuns casos, ou para consolidarem o mesmo estatuto, noutros casos; continua o Sporting Clube de Portugal a discutir a primazia nas mais diversas modalidades, quer internamente, quer internacionalmente e todo este cenário nos torna num Clube de referência, seja qual for a perspectiva. Portanto, o Sporting Clube de Portugal é um Clube tão grande como os maiores da Europa. Não obstante, na modalidade desportiva mais popular no país, o Sporting tem passado ao lado de vitórias. Nos últimos 30 anos, o Sporting apenas venceu dois campeonatos nacionais de futebol sénior. E, por se tratar da modalidade mais mediática, o futebol pode ser argumento para nos apequenar, perante terceiros. Mas se os terceiros nos querem fazer pequenos, quando o não somos, é, para mim, consternante que os nossos próprios líderes nos reduzam graficamente a dimensão. O Leão, de há mais de 30 anos a esta parte, tem andado a lamber as suas feridas. E tanto se recolheu para o fazer, que chegou a estar praticamente moribundo. Sucessivamente, tivemos "fracos Reis que fizeram fraca a forte gente". O discurso foi sempre miserabilista, do pobre clube que, sendo grande, afinal, nem era tão grande como os maiores da Europa, nem dinheiro tinha para fazer frente aos seus rivais internos. Chegados a 2013, após um longo percurso de auto-destruição financeira, assistimos todos (e muitos de nós, com absoluta incredulidade) à venda do melhor marcador da equipa, sob o pretexto de o dinheiro servir para pagar salários (afinal, terá servido para qualquer outro fim, que não o apregoado). Isto, num mandato encurtado em que se registaram prejuízos operacionais acumulados de mais de 77 milhões de euros, não considerando o saldo proveniente das transferências, que terá sido negativo na ordem dos 20 a 25 milhões de euros. Bruno de Carvalho e a sua equipa entraram em funções na parte final da temporada 2012/13, sendo desde logo obrigados a tomar drásticas medidas de gestão para impedir o rumo ao abismo que era patente. Esse exercício terminou com receitas na casa dos 32 milhões de euros, para fazer face a uma despesa na ordem dos 66 milhões de euros. Neste campo, nada puderam fazer, que não fosse fazer gestão corrente, até que pudessem influenciar decisivamente a estrutura de custos do Clube e da SAD. A herança, como fiz referência acima, foi na casa dos 100 milhões de euros de prejuízo, havendo, como bónus, salários em atraso da equipa profissional de futebol, incapacidade para pagar o serviço da dívida, a rede de prospecção em colapso por falta de pagamento, sétimo lugar no campeonato e, consequentemente, perda de receitas provenientes da participação em competições da UEFA. Nunca ouvimos um lamento ou uma desculpa para qualquer desempenho miserável da equipa de futebol. E nunca ouvimos tal coisa, em primeiro lugar, porque o Sporting foi capaz de ser segundo classificado, depois do infame e vergonhoso sétimo lugar; em segundo lugar, porque a equipa directiva entrou para trabalhar e focada em resolver o que havia para resolver, por forma a poder construir equipas competitivas no futebol e em todas as outras modalidades. Mesmo com o atribulado e abrupto final de mandato, salpicado com o inexplicável bloqueio de duas candidaturas às eleições pós-destituição, a influência positiva desse trabalho ainda se faz sentir. Com a transferência de Bruno Fernandes, o valor total desta rubrica de receitas, desde a destituição, andará na casa dos 190 milhões de euros. Todas as transferências versaram sobre contratações da anterior administração ou sobre jogadores da nossa formação que se afirmaram na primeira equipa ou que foram recrutados durante o mandato que mencionei. Não obstante, o contraste de discurso é gritante. O Sporting, hoje e na boca dos seus responsáveis, voltou a ser um Clube doente (passe a ironia de ser liderado por um médico), sem dinheiro (apesar da espectacularidade dos números que a própria SAD anunciou para as vendas), sem auto-estima e sem ambições maiores porque o actual Presidente herdou uma "herança" pesada. Imaginemos como seria se herdasse um clube saído de um mandato com prejuízos acumulados de 100 milhões de euros, sem forma de realizar 190 milhões de euros em transferências e sem um contrato de direitos de televisivos da ordem dos 500 milhões de euros. No mandato anterior, o Leão recolheu-se para lamber as suas feridas. Mas, contrariamente ao que sucedia no passado (a que parece termos regressado, entretanto), o Leão não se recolheu para se autocomiserar; o Leão recolheu-se para se restabelecer e para voltar à batalha. E vimo-lhe voltar ao campo de batalha com uma força crescente, garboso, destemido e desafiante. O rugido do Leão fez-se ouvir e nem todos gostaram de o ouvir. O símbolo do Sporting Clube de Portugal não é um animal acocorado, é um Leão rampante! O símbolo do Sporting Clube de Portugal não é uma figura qualquer, é o universalmente aclamado "Rei da selva"! O Sporting Clube de Portugal não é um clube naturalmente doente, é um Clube a quem induziram a doença! A quem quer que se disponha a liderar o Sporting Clube de Portugal, é bom lembrar que não temos penas, nem somos uma figura do domínio do imaginário! Aqui há Leões!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.
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