"O CRISTIANO CHORAVA QUANDO PERDÍAMOS"
Antigo lateral brasileiro falou sobre a chegada ao Sporting CP e sobre Cristiano Ronaldo
Redação Leonino
Texto
29 de Março 2020, 15:57

César Prates jogou no Sporting CP entre 1999/2000 e 2002/2003, tendo sido campeão nacional por duas vezes, além da conquista de uma Taça de Portugal e de duas Supertaças. O lateral direito fez 116 jogos com a camisola verde e branca e marcou três golos. O brasileiro deu uma entrevista ao UOL, onde contou como chegou ao Sporting CP.

“Quando cheguei ao Sporting CP eles tiveram que estipular o valor do meu passe, e ao estipular o valor eu fiz um contrato de seis meses também lá. E o que aconteceu: eu disputei a final da competição e com três meses da estreia eu fiz golo, 1-0 e foi golo meu. O lateral não passava do meio-campo e eu acabei fazendo os dois setores, eram os duelos com os extremos e eu ajudava, então, mudou todo o estilo de jogo. O Campeonato Português era uma loucura, porque os portugueses gostam de estudar o futebol, e eu cheguei com uma característica diferente, marcando e apoiando, eu não falhava atrás e ainda chegava na frente, eu tornei-me o melhor assistente da equipa. Então, o que aconteceu, mudou tudo, o Sporting efetuou a minha compra e eu nem sabia”, disse.

Depois a conversa mudou para Cristiano Ronaldo, jogador que estava a começar a aparecer na equipa principal dos leões.

“Sim, eu acompanhei tudo, ele estava lá connosco, era um menino que tinha 16 anos na época, eu tenho 10 anos mais do que ele. Ele tinha 16 anos, era um menino, e eu tinha 26 anos, era um período que ele estava lá. Ele era um menino que gostava de aprender desde cedo, então juntou a fome e a comida, porque eu também gostava de aprender e ele gostava de aprender. Conversava muito com ele. Eu era próximo, quando eu ia cobrar livres, ele estava sempre junto. Foi muito interessante o convívio com ele”, disse, antes de explicar que ajudou Ronaldo a aprender a bater livres.

“A equipa tinha dois batedores, era eu e o André Cruz. Para aprender a bater com o pé esquerdo, o André Cruz tinha uma característica, a minha característica era diferente, a minha batida na bola era diferente. Por ser destro, eu ensinava, ajustava o corpo dele, mostrava onde se posicionar para poder alcançar os dois lados da baliza para poder bater, tanto do lado direito ou esquerdo do guarda-redes, o tempo de partida quando o juiz apita, partes para a bola e surpreendes o guarda-redes, o ventinho da bola, como ajustar a bola por baixo de como, vai virar a bola também… São detalhes que eu aprendi com o Dorinho, no Internacional. O Dorinho foi jogador do Internacional, ele quem me ensinou isso aí e eu fui passando para frente. A fase que ele estava ali connosco, nós ganhamos o título no primeiro ano, e no segundo ano houve a transição, mudou o treinador e não era uma fase boa do Sporting, aquele ano nós só fomos campões da Taça de Portugal. Ele era torcedor do Sporting, com 16 anos, às vezes indo para o banco de suplentes, estava sendo amadurecido, então ele chorava, chorava, porque nós perdíamos e a equipa não estava numa fase boa. Estava sempre por perto passando a mão na cabeça ajustando ele, ajudando ele”, contou.

Fotografia da UEFA.

Por fim, ainda sobre Cristiano Ronaldo, César Prates contou como o jogador se tornou, na sua opinião, o melhor do mundo.

“Olha, o Cristiano foi exemplo de uma obsessão focada e a minha carreira também foi isso. Se eu não tivesse a obsessão focada por aquilo que eu entendia, que era usar toda a minha força e velocidade e a aliar com técnica e com sabedoria dentro de campo para jogar bem posicionado, eu não teria chegado a lugar nenhum. O Cristiano foi essa obsessão focada e o que eu dou para ele é os parabéns. Ficamos felizes que ele tenha chegado ao lugar que ele me falou um dia que chegaria. Tem uma coisa que ficou muito clara para mim foi aquilo que eu ouvi do Cristiano, talvez poucas pessoas ouviram, depois ouviram publicamente ele falar, mas eu pessoalmente, estando com ele naquele dia e eu ouvi ele falando assim: ‘que ele iria se tornar o melhor jogador do mundo’. É uma loucura, vimos ele transformar-se no melhor jogador do mundo. Entre ele e Messi, o Messi é um talento, nasceu para aquilo, mas o Cristiano não, ele nasceu com uma condição, um dom para jogar futebol, e ele se tornou nessa obsessão focada um jogador de alto nível. E é por isso que o considero o melhor do mundo. O talento já está em ti, no caso o Messi, o dom está dentro de ti também, mas tem outros casos que é preciso desenvolver. Eu aprendi na minha vida a desenvolver as coisas, por exemplo, eu estou aqui na minha casa, eu estou com o violão, tenho o meu sistema de som aqui, a minha família toda toca e canta, todos os meus tios, avós e o que acontece? Eu não, eu só queria o futebol, mas chegou um tempo que eu desenvolvi isso que estava dentro de mim, eu tinha o dom para tocar e para cantar, e o que eu fiz? Desenvolvi, com o Cristiano foi a mesma coisa, não é como alguns que não fazem técnica vocal, não fazem nada e já acontece, não, eu desenvolvi isso e com o Cristiano foi isso. Entre ele e o Messi, o Messi nasceu com aquilo, não se vê que ele treina normalmente, e o Cristiano não treina normalmente, o Cristiano chega antes e sai depois”, finalizou.

  Comentários