André de Serpa Soares
Biografiado Autor

18 Set 2020 | 09:00

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André de Serpa Soares

O que acontece é que as autoridades olham para os adeptos de futebol com uma enorme condescendência e paternalismo, como uma espécie de “cidadãos de segunda”, tolos e irresponsáveis.

Escrevo esta crónica quando ainda nenhum de nós sabe se o Sporting CP vai mesmo estrear-se este sábado, com a recepção ao Gil Vicente, em jogos oficiais da época 2020-2021, ou se o jogo terá de ser adiado devido aos casos positivos de Covid-19 em ambas as equipas.


O que sabemos sem qualquer dúvida é que, se o jogo se realizar, vai ser sem público nas bancadas e estaremos condenados a segui-lo pela televisão. Isto, ao mesmo tempo que vemos concentrações de pessoas no Santuário de Fátima, na Festa do Avante, nas Feiras do Livro, em espetáculos variados.

O argumento é de que as pessoas têm um comportamento diferente num estádio de futebol, pior e mais desregrado, presume-se, do que nas salas de cinema, no teatro ou num espectáculo de música. É um péssimo argumento.


Porque, no futebol, o comportamento das pessoas face à pandemia tenderá a ser exatamente o mesmo que elas têm em qualquer outro lado,  incluindo nas suas casas, escolas, ou no trabalho. Quem tem comportamentos responsáveis, vai mantê-los nos estádios de futebol. Quem não tem, não os tem seja onde for, salas de cinema, de teatro, ou espetáculos musicais incluídas.

Os estádios de futebol, na verdade, têm uma vantagem sobre outros locais; são ao ar livre, a céu aberto. E têm capacidade de lugares sentados, na sua generalidade, para muitos milhares de pessoas. É possível criar distanciamento social, ter pessoas no mínimo a 2 metros umas das outras, e controlar através de stewards o uso obrigatório de máscara, se for o caso, na maioria dos estádios de futebol. Bastará reduzir a 30 por cento, ou algo semelhante, a lotação máxima dos estádios, por exemplo.


Todos devemos respeitar os cuidados e regras para evitar o contágio. É nossa obrigação, enquanto cidadãos, para nossa proteção e para a proteção dos que nos são queridos e de todos os outros com quem vivemos em sociedade, cumprir todas as recomendações das autoridades de saúde.

O que acontece é que as autoridades olham – continuam a olhar – para os adeptos de futebol com uma enorme condescendência e paternalismo, como uma espécie de “cidadãos de segunda”, tolos e irresponsáveis. Não são, não somos, pelo menos em grau maior que em outros “grupos” da sociedade. Na verdade, a “comunidade” de adeptos do futebol é tão heterogénea como a própria sociedade em si.

Com todo o cuidado, cumprindo todas as regras, com muito maior precaução por parte dos que fazem parte dos grupos de risco, temos de voltar à vida. Voltar à vida, à nossa vida, dos sportinguistas, também inclui poder voltar a Alvalade.

Limitem a lotação dos recintos desportivos. Imponham regras e deixem os clubes definir os critérios de acesso. Deixem-nos ir ao futebol, como deixam outras pessoas ir assistir ao que mais gostam, seja isso o que for.

Porque há muitos adeptos do futebol, a maioria, que sabem comportar-se e são responsáveis. Para a maioria dos adeptos do Sporting que conheço, por exemplo, nunca ocorreria associarem-se e apoiarem grandes devedores da banca incumpridores, pessoas investigadas no âmbito de inúmeros processos crime, incluindo o de corrupção sobre o aparelho judiciário, suspeitos de batota desportiva, ou mesmo condenados na prática de crimes, para presidir ao nosso clube.

Sabemos comportar-nos e queremos voltar a gritar golo nas bancadas de Alvalade.

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