A Resenha da Vizinhança: O Dia em que o Leão Rugiu e o Vizinho Chorou
O moçambicano Geny voltou a lembrar-nos que um carrasco ganha hábitos – um golo aqui, um drible ali, e o Benfica a implorar por piedade
25 Abr 2020 | 10:53
0A todos eles, desde os meninos e meninas de sete anos aos mais velhos à porta da profissionalização, a minha simpatia e solidariedade, pedindo que não desistam.
Com o confinamento a que todos estamos sujeitos e a consequente paragem de todas as competições, fiquei a pensar no que estaria a ser a vida das milhares de crianças que, de repente, ficaram afastadas do que, provavelmente, mais gozo lhes dá nesta fase da vida, dos que sonham com uma vida profissional na área: praticar desporto. Em concreto, os meninos e meninas dos sete anos, 11 ou 12 anos, que tinham nos seus treinos ao final do dia, os momentos não apenas de descompressão das aulas – e porque não dizê-lo, da vida em geral –, mas de alegria pela reunião com os amigos da equipa, dos ensinamentos dos treinadores e da convivência em grupo, que lhes aguça o espírito de entre-ajuda e de solidariedade, como só um desporto colectivo é capaz de proporcionar. Parti, assim, para uma espécie de “conversas confinadas” com quem é especialista na sua área, entrando em contacto com o professor Luís Dias, ex-coordenador do Pólo EUL do Sporting, função que desempenhou durante seis anos, a que junta aos 25 anos como Sócio. O Pólo EUL congrega 12 equipas com mais de 200 crianças, assumindo-se como o verdadeiro berço da formação leonina e que recentemente, como de resto todos os outros emblemas, terá sentido na pele a abrupta suspensão da actividade, afectando desde logo todos os habituais torneios de Páscoa, nos quais se inclui o mítico Torneio da Pontinha e do qual o Sporting foi pentacampeão, destronado na época passada pelo FC Porto. Muitos outros seguiram e seguirão pelo mesmo caminho, como o Santarém Cup, o Torneio das Marinhas de Esposende, o Coelho Verde de Castro Daire, Fornos de Algodres, Miranda Corvo, Vila Real de Santo António, Góis, numa interminável lista de autêntica dor de alma para organizadores e participantes. “Muitos desses clubes tinham nessas provas uma importante fonte de rendimento, com significativo peso nos seus orçamentos. Mesmos as próprias câmaras municipais, agora com outras preocupações ao nível da saúde pública, não irão poder ajudar como antes faziam”, começou por explicar Luís Dias, mais inclinado para o aspecto económico da questão. No entanto, do ponto de vista desportivo, o assunto torna-se ainda mais sério. “É muito cedo para medir consequências de tudo o que está a acontecer, mas não tenho a mínima dúvida que deverá haver repercussões impactantes do ponto de vista da evolução e desenvolvimento de uma geração. Não a curto prazo, mas daqui a quatro ou cinco anos”, atirou. Isto porque, se os cuidados com o futebol profissional podem evitar males maiores com constantes controlos e testes – um ambiente em bolha em que sempre viveram, quando comparado com os restantes escalões e equipas amadoras –, a realidade para baixo é bem mais dura. “Não nos podemos esquecer que é, precisamente, o que está para baixo, que é a base de sustentação do futebol profissional, numa perspectiva de longo prazo”, continuou Luís Dias. “Os campeonatos estão parados e não sabemos se irão regressar na próxima época. Acredito que só seja realmente seguro, do ponto de vista do contágio, voltar a competir quando houver uma vacina. O futebol, tal como qualquer modalidade colectiva, tem muito contacto e não vale a pena abdicar-se das saudações iniciais se assim que o árbitro apita há toda uma dinâmica que é, por si só, transgressora de todas as normais de segurança pedidas pela OMS. A bola é, ela própria, um perigoso veículo transmissor! Com crianças ainda é pior: pode, cada uma, ter a sua garrafa de água, mas quando menos se espera estão dois ou três a beber da mesma, para não falar do crescimento exponencial do factor de contágio nas respirações mais ofegantes pela prática de exercício físico, tão perto uns dos outros”, atirou. Gastar energia a subir e descer as escadas do prédio É um tempo de provação para todos, mas também de superação. Esta semana, vi um vídeo dos ginastas e treinadores do Acro Clube da Maia e de como estão a contornar este confinamento. Uma das mensagens que retive era inspiradora: “Este vírus pode condicionar-nos a liberdade, mas que nunca nos tire a vontade de vencer”. Preocupam-me as fragilidades do ponto de vista psicológico. O desporto não tem apenas a vertente do exercício físico, tão importante à saúde, mas também o de libertar a mente, de nos tornar mais fortes. A velha história da mente sã em corpo são, ainda que neste contexto haja a necessidade de se juntar a convivência entre os pares, de uma história que se escreve com a ajuda de todos. “Há dias falei com uns pais que me confidenciavam que o filho, para gastar energias, subia e descia várias vezes as escadas do prédio, já que moravam num sexto andar. É, de facto, complicado para crianças estarem confinadas em espaços pequenos. Talvez fosse altura de os pais serem um pouco mais condescendentes quanto àquele velho hábito de tudo se transformar numa bola para dar toques e, nestes casos, andar a fazer fintas às cadeiras da sala. Bolas de espuma não afectam muito a mobília, mas há quem o faça com bolas de ténis, laranjas, limões. O talento tem destas coisas e necessidade também vai permitir maneiras alternativas de manter a forma, ainda que para as práticas de jogo colectivo seja bem mais complicado”. Não está a ser fácil e o futuro a curto prazo pode não trazer boas notícias. Luís Dias recorda os casos de infectados que recuperaram, mas que voltaram ao grupo dos COVID-19 positivos, já para não referir a possível segunda vaga pandémica que poderá voltar a limitar-nos a esta realidade distópica que atravessamos. “A própria comunidade científica ainda não tem respostas para as grandes dúvidas que subsistem e que nos limitam desta maneira. Foram-nos pedidos 15 dias de confinamento e já vamos no terceiro período de igual tempo fechados em casa. É muito provável que o regresso não seja para breve, estando a próxima temporada em risco. Pelo menos até haver uma vacina”, concluiu. Trago à memória o encontro anual das Escolas Academia Sporting, que reúne milhares de crianças no relvado principal de Alvalade, num sonho de todos tornado realidade. Penso no gabinete psico-pedagógico do Sporting, do seu responsável Miguel Sampaio, e nas psicólogas Aida Ramos e Nádia Tavares, e no decisivo trabalho que poderão ter no apoio nesta fase de realidade tão dura. “Os mais novinhos têm a vida toda pela frente e, certamente, terão um carácter mais resiliente que os mais velhos. São os sub-15, sub-17 e mesmo os sub-19 que poderão ser alvo das maiores preocupações e no impacto que esta paragem poderá ter nas afirmações das suas carreiras a curto prazo”. A todos eles, desde os meninos e meninas de sete anos aos mais velhos à porta da profissionalização, a minha simpatia e solidariedade, pedindo que não desistam. Como diz sempre o Bruno Nogueira, nos seus directos diários do ‘Como É Que o Bicho Mexe’: “Aguentem firmes que vai correr tudo bem”.
*O autor escreve sob o anterior acordo ortográfico
A Resenha da Vizinhança: O Dia em que o Leão Rugiu e o Vizinho Chorou
O moçambicano Geny voltou a lembrar-nos que um carrasco ganha hábitos – um golo aqui, um drible ali, e o Benfica a implorar por piedade
Já que ninguém fala, falo eu
Quando é que isto vai mudar? Vi campeonatos a serem decididos com a mão, Taças da Liga, vi clubes a serem levados ao colo e pessoas a serem condenadas por corrupção em benefício de clubes... Só neste País!
Grandes, mas inevitáveis novidades…
Troca no comando técnico nesta fase iria seguramente desfocar a equipa e também aqui, no meu entender, os interesses do Clube estão a ser salvaguardados
A Resenha da Vizinhança: O Dia em que o Leão Rugiu e o Vizinho Chorou
O moçambicano Geny voltou a lembrar-nos que um carrasco ganha hábitos – um golo aqui, um drible ali, e o Benfica a implorar por piedade
30 Dez 2024 | 18:25
0Já que ninguém fala, falo eu
Quando é que isto vai mudar? Vi campeonatos a serem decididos com a mão, Taças da Liga, vi clubes a serem levados ao colo e pessoas a serem condenadas por corrupção em benefício de clubes... Só neste País!
20 Dez 2024 | 18:47
0Grandes, mas inevitáveis novidades…
Troca no comando técnico nesta fase iria seguramente desfocar a equipa e também aqui, no meu entender, os interesses do Clube estão a ser salvaguardados
02 Nov 2024 | 17:40
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