Já que ninguém fala, falo eu
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20 Fev 2021 | 11:01
0Estamos mais perto de conquistar um campeonato do que estivemos nos últimos tempos e isso é ofuscado pelo jogo do quem é quem.
Onde vai um, vão todos… Há muito tempo que queria usar esta mítica frase proferida por Rúben Amorim e que, quase miraculosamente, fez maravilhas pela união sportinguista, ainda que dentro dos limites possíveis.
Mas hesitei durante algum tempo usá-la, pois, na verdade, a união sportinguista é algo que tem muito que se lhe diga. Somos os melhores adeptos do mundo, não haja dúvida disso, mas também somos únicos, o problema é que ser únicos nem sempre é um adjectivo positivo.
Também somos os únicos que estamos sempre “em guerra”, somos os únicos que nunca estão satisfeitos com nada (e, neste ponto, nem seria uma coisa negativa, se fosse sempre pelo grau de exigência), enfim, somos os únicos que nos podemos destruir, pois mais ninguém, externamente, o poderá fazer.
Quando era pequena e comecei a ir à bola pela mão do meu pai (quantas e quantas histórias destas não ouvimos já que começam assim), o estádio de Alvalade era uma coisa mágica, especial, um ritual que aproximava família, amigos, conhecidos… todos em prol de uma paixão comum. Vibrava-se a cada vitória, sofria-se a cada derrota… Olhávamos nos olhos uns dos outros e entendíamos o que cada um estava a sentir, fosse nas alegrias como nas tristezas.
Já no início da idade adulta, sonhava muito com o dia em que seria eu a levar o meu filho ao estádio pela primeira vez, como iria ser, o que iria sentir e como é que lhe iria transmitir toda esta paixão e achava que iria ser tão fácil como a mim: bastava entrar pela primeira vez no estádio e ele iria perceber.
Contudo, os anos, as mentalidades ou o facto do futebol ter virado um negócio, não sei, criaram facções, divisões, guerras, quezílias, todos querendo saber mais ou ter mais razão que os outros e quem não estivesse a favor de uma determinada posição, estava automaticamente contra.
É difícil transmitir paixão aos filhos hoje em dia, mas não creio que seja pela falta de resultados desportivos (eu, por experiência própria, sempre fui do Sporting e, no entanto, a primeira vez que festejei um campeonato, tinha já 16 anos). O que é difícil explicar é como é que tanta gente que tem amor a um clube pode insultar-se diariamente, discutir, chegar ao ponto de cortar relações, quando têm tantos motivos para se unir e, dentro do possível, convergir esforços e opiniões para construir algo melhor.
E atenção que apenas uso a palavra união à falta de melhor termo, pois não acredito em tal fenómeno, pelo menos no universo Sportinguista, a história ultimamente tem mostrado que é algo, provavelmente, mais difícil de alcançar do que um campeonato nacional, mas já disse e repito, que gostava que todos nós, Sportinguistas, tivéssemos noção.
Noção de que a cada vez que nos insultamos, os adversários regozijam, a cada vez que nos atacamos, o Sporting enfraquece, noção de que apesar das nossas diferenças, é possível trabalhar juntos, para alcançar o resultado que todos queremos: o melhor Clube do Mundo, em todas as vertentes.
Provavelmente é um pouco utópico, eu sei, leva tempo, é preciso esforço, dedicação e devoção, mas isso, todo e cada Sportinguista sabe e tem dentro de si capacidade para tal. Estamos mais perto de conquistar um campeonato do que estivemos nos últimos tempos (sem euforias nem falsas esperanças, mas com noção de que é uma realidade que pode muito bem acontecer) e isso é ofuscado pelo jogo do quem é quem.
Mais do que sofrer pelo Clube, os Sportinguistas são hoje exímios em catalogarem-se uns aos outros, bastando para isso que alguém dê uma opinião, para que venham logo uns tantos apontar o dedo como sendo de uma categoria ou outra.
Não nos consigo reconhecer neste tipo de atitude, para mim só existe uma categoria: os Sportinguistas. E tendo ou não motivos para reclamar das atitudes de quem governa o Sporting, nada justifica o insulto gratuito de um Sportinguista a outro.
E não aceito, como nunca aceitei, que haja uns mais Sportinguistas que outros e que, à falta de argumento, se puxe dos galões da antiguidade como Sócio, para diminuir a opinião de um consócio.
Todos temos uma opinião e todos temos direito a poder expressá-la sem receios de represálias, insultos ou agressões. Já dizia Voltaire: “Posso não concordar com o que você disser, mas defenderei até à morte o seu direito em dizê-lo”.
Durante as minhas crónicas no Leonino, já fui chamada de “brunista”, para, logo na semana seguinte, ser chamada de “varandista” e para, ao longo de tantas outras semanas, existir sempre alguém que tem um “ista” para me chamar (mera constatação de um facto, que até me divertiu, sem choradeira de qualquer espécie).
E isto tudo porque emito uma opinião pública que, numa semana agradará a uns e, noutra semana, agradará a outros. Caros amigos, o único “ista” que aceito ser chamada é Sportinguista, tal como todos vocês certamente o serão, ainda que não concordem comigo ou eu com vocês.
Mas, o meu desejo mais profundo é que, em Maio, com pandemia ou sem ela, vos possa encontrar a todos no Marquês e que possamos todos sorrir uns para os outros e festejar como há muito já merecemos, porque como é óbvio, se for um para o Marquês, iremos todos.
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