Pedro Figueiredo
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22 Fev 2020 | 09:38

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Pedro Figueiredo

CARTÃO PRETO, CARTÃO BRANCO

De um cartão preto saltamos, felizmente, para um cartão branco. Literal. Atribuído por enorme fair-play ao Dinis, jogador da equipa de benjamins de futsal do Sporting Clube de Portugal.

As primeiras 24 horas do episódio que envolveu o abandono de campo de Moussa Marega, na sequência dos insultos racistas de que foi alvo por adeptos do Vitória de Guimarães, e acima de tudo as repercussões à escala planetária que o caso conheceu, são bem esclarecedores do estado a que há muito tempo está enterrado o futebol português. Nos casos que envolvem intolerância de raiz preconceituosa, como este em que a cor da pele esteve na origem da extraordinária decisão do avançado maliano do FC Porto, não há mas nem meios mas. É condenável em toda a linha. Por maior vergonha alheia que o episódio possa ter provocado em todos os verdadeiros amantes do futebol – e do desporto em geral –, a grande machadada poderá chegar no day after. Isto porque, muito provavelmente, os castigos que possam resultar deste marco histórico não encontrarão eco na dimensão que atingiu. Apesar de as autoridades judiciais terem já identificado algumas das pessoas através de imagens, espera-se que a justiça desportiva faça igualmente o seu trabalho. No entanto, percebe-se já pelas declarações do presidente da Liga Portuguesa e do presidente do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol que as respectivas sanções disciplinares estão limitadas aos actuais regulamentos, aprovados pelos próprios clubes. Aqui, sublinhem-se os perigos da auto-regulação. Uma das razões para o crescente descrédito das instituições do futebol português está intrinsecamente ligada à sensação de impunidade que gozam alguns prevaricadores. Por exemplo, quantas condenações existem para os incontáveis casos de assobios de very-light protagonizados pela mesma franja de estúpidos – para utilizar a terminologia do presidente do FC Porto –, que acredita ser possível inferiorizar o adversário com louvas a um homicídio no mais emblemático recinto desportivo do país? De que vale a condenação social generalizada se não existem punições que, pelo menos, façam pensar os estúpidos mais abusadores na vez seguinte, tendo na memória um, dois ou mesmo três jogos à porta fechada? Marega, sem nunca o ter desejado, certamente, conquistou, por mérito próprio, o título de porta-estandarte da mais recente luta contra o racismo no futebol. Esteve longe de ser o primeiro caso, não será com certeza o último, mas a atitude do avançado em abandonar o relvado serviu de despertador. E todo o Mundo ouviu-o. Alguém, algum dia, teria de dizer basta. Nélson Semedo, então jogador do Benfica e alvo dos mesmos insultos precisamente no mesmo estádio, já veio publicamente admitir que, se fosse hoje, teria seguido o exemplo do jogador do FC Porto. De um cartão preto saltamos, felizmente, para um cartão branco. Literal. Atribuído por enorme fair-play ao Dinis, jogador da equipa de benjamins de futsal do Sporting Clube de Portugal, num jogo precisamente frente ao eterno rival, no Pavilhão João Rocha (PJR). Num lance de suposta grande penalidade, por alegada mão na bola, o jovem leãozinho dirigiu-se ao árbitro da partida explicando-lhe que o corte tinha sido com a cara e que a mão do seu adversário não teve qualquer influência na jogada. O juiz do encontro aceitou a versão do Dinis e reverteu a sua decisão, pelo que acabou por se transformar num episódio que só pode fazer transbordar de orgulho não apenas os Sportinguistas mas qualquer adepto, independentemente do clube. À semelhança do que tinha acontecido na semana anterior com o exemplo de Rafael Silva e dos seus apaixonados festejos no derby de basquetebol. Aliás, o PJR, ainda que na sua infância dentro da esperança de vida, tem já um belo número de episódios desta natureza. Recorde-se que em Outubro de 2017, no derby de voleibol, o médico leonino Miguel Costa ajudou na assistência prestada ao atleta benfiquista, Ary Neto, originando até o agradecimento por parte do clube da Luz. Não vou tão longe como Martin Luther King, ao dizer que “Temos de viver todos como irmãos ou morreremos todos como loucos”. Basta aderir ao paradoxo de Karl Popper na necessidade de haver intolerância aos intolerantes.


O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.


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