COISAS QUE NEM NOS LIVROS DO ASTERIX!

Pedro Geada

14 Set 2020 | 09:52

É impensável que o Sporting, presidido por alguém que é médico, com serviço prestado no Hospital Militar durante o estado de emergência, seja eliminado de uma competição europeia sem jogar.

Foi frustrada a expectativa, de ontem, vermos o Sporting jogar e reconquistar o Troféu Cinco Violinos, passados três anos. Foi reportado na imprensa que vários jogadores do Sporting teriam testado positivo para COVID-19. Quase em simultâneo também foi noticiado que o Gil Vicente, adversário do Sporting na 1ª jornada, também tinha vários casos positivos (1). Toda esta situação vem, assim, demonstrar que nenhuma SAD pode facilitar, quer em termos de definição de procedimentos, quer em termos de garantia e verificação do seu cumprimento, devendo há muito ter determinado, imposto e zelado por regras de conduta suficientemente claras e rígidas, quase militares, para este período excecional, para salvaguarda dos seus jogadores, tanto na perspetiva humana, como na perspetiva de ativos da SAD. Se no caso da Liga NOS, os regulamentos são omissos sobre como resolver a atribuição de pontos por jogos não jogados por casos positivos, em termos de UEFA já ficou bem claro que quem tiver casos de COVID 19 arrisca-se a perder por falta de comparência, como aconteceu ao KF Dritra, seguindo na prova o Linfield (2). Relembre-se pois que, em virtude do 4º lugar obtido, o Sporting tem um jogo decisivo no Estádio Jose Alvalade, a uma só mão, já no próximo dia 24 de Setembro contra o Viking/Aberdeen. Recorde-se que Frederico Varandas afirmava em Maio, em tom triunfal, que ele próprio tinha dado a confiança ao Governo para a retoma do futebol pois “tenho uma visão mais técnica e científica acerca da covid-19 do que Pinto da Costa ou Luís Filipe Vieira” (3). É impensável que o Sporting, presidido por alguém que é médico, com serviço prestado no Hospital Militar durante o estado de emergência, seja eliminado de uma competição europeia sem jogar. No jogo de ontem, quem já não iria participar era Marcos Acuña, que, ao que tudo indica, reforçará o Sevilha, de Julen Lopetegui, vencedor da Liga Europa 19/20. Sendo ainda incertos quais os valores finais da transferência do internacional argentino, sendo a sua avaliação de 12M€ no Transfermarkt (4), fechando-se assim um capítulo de mais uma situação de duvidosa gestão de ativos (5), menorizando a capacidade negocial, em desfavor do Sporting. Outro capítulo que se encerrou na semana passada foi o folhetim do pagamento de Rúben Amorim ao Braga, um dia depois da apresentação do Relatório e Contas da Sporting SAD. Para finalizar esta situação de lose-lose para o Sporting, como tinha reiterado a 7 de Setembro (6), nada como, a 8 de Setembro, a eloquência da capa do Jogo (7): “Relatório e contas regista um Rúben Amorim de lucro”… No passado Sábado, os portugueses foram ultrajados por António Costa, Primeiro-Ministro da República Portuguesa, ao fazer constar que apoiava publicamente um personagem que é arguido por fraude fiscal (8) e poderá estar brevemente, a juntar ao seu vasto currículo com a Justiça, uma acusação na operação Lex (9), envolvendo corrupção de magistrados. O personagem é Luis Filipe Vieira que pretende perpetuar-se na presidência de um clube. Se já não bastava a componente judicial, o mesmo personagem é dos maiores devedores ao Novo Banco, banco intervencionado pelo Estado Português, confirmando-se, recentemente, um prejuízo ao mesmo de 225 milhões de euros através da sua empresa Promovalor (10). É pois inaceitável esta promiscuidade entre o poder politico e Luis Filipe Vieira, promiscuidade essa que começou há cerca de dez anos, com encontros de personalidades do “regime” (11), desde banqueiros a comendadores colecionadores de arte, com um ex-primeiro ministro arguido na Operação Marquês no centro das operações, bem como ex-ministros das finanças, salvos do suplício de ter de comprar bilhetes (12). Como é que o anfitrião desses encontros, num mero estádio de futebol, terá ganho ascendente sobre políticos e magistrados é algo de surpreendente merecendo, per si, ser gravado um filme sobre o assunto, para memória futura. De todos os quadrantes choveram reações de repúdio e condenação por esta atitude de “enfeudamento” dum Primeiro-Ministro a um personagem tão pouco recomendável. Mimetizando o imortal introito das obras de Uderzo e Gosciny (13) : Todos? Não! O Sporting Clube de Portugal não reagiu. Mais estranho se torna quando, também a semana passada, se soube que o Novo Banco (mais uma mera coincidência) emprestou 28 milhões de euros para Vieira gerir (14), conferindo-lhe assim uma vantagem competitiva face aos demais clubes, contrastando com a postura que o Novo Banco teve recentemente com outro clube (15). Se quem muito fala pouco acerta, quem cala consente!

Diretor Leonino

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