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O QUE PREJUDICA O SPORTING TEM DE NOS DIZER RESPEITO
E, na ausência de condenação, eles passeiam-se por aí, impunemente, tantas vezes armados em grandes e impolutos “senhores” e a ousar dar lições aos outros.
Imagem de destaque30 Out 2020, 11:10

O Sporting tem vivido nas últimas décadas num processo de autodestruição, motivado por poucas vitórias naquilo que é o coração do clube, o futebol sénior masculino, incompetências várias, más ou péssimas gestões, falta de dinheiro e guerras internas. Em tudo isto, estamos como na história do ovo e da galinha, não sabemos o que surgiu primeiro. Mas este é um jogo de causa e efeito que leva a outra causa e a novo efeito, num círculo vicioso que consome o foco e a energia do clube e dos sportinguistas.

Sim, sou daqueles que entendem que o mais importante é concentrar as energias naquilo que depende de nós, fazer tudo melhor e de forma mais competente dentro do Sporting, ter capacidade de superação e de fazer mais, com menos que os nossos rivais. Deixar queixas e lamúrias, fazer como os felinos, que, quando estão feridos, recolhem-se, isolam-se, recuperam todas as suas forças, para voltarem com a garra plena de predadores temidos.

Por esta razão, pouco me interessa o que se passa nos nossos rivais. Por norma, estou-me completamente a borrifar. É do Sporting que eu gosto, é ao Sporting que pertenço enquanto associado, é essencialmente o Sporting que me interessa.

Gosto do fenómeno desportivo em geral, fui atleta federado de andebol e de hóquei em patins, acompanho várias modalidades e competições. Prezo, como sempre prezei enquanto praticante, o fairplay, o desportivismo, a luta leal e com regras pela vitória. A competição é algo que está na nossa natureza humana, e é através dela que nos superamos, indo para lá do limite das capacidade físicas e tantas vezes psicológicas que julgaríamos possíveis ao corpo humano. Mas os recordes do mundo são consecutivamente batidos, os super-atletas sucedem-se uns aos outros, novas estrelas em todos os desportos nascem todos os dias. É a competição que nos traz esse factor de superação.

Isto tudo para dizer que só me interessa o que acontece com os rivais quando as acções destes influenciam e alteram o que devia estar apenas entregue a uma luta desportiva leal. Falo e falarei dos rivais, sempre que as suas acções ou omissões adulterem resultados, contribuam para desnivelamentos e desigualdades de tratamento e prejudiquem o Sporting.

Respeito as decisões judiciais e valorizo muito o facto de vivermos num Estado de Direito democrático, que nos defende e protege. Por isso, quando num processo judicial alguém não é acusado ou condenado, temos de reconhecer essa condição. Mas isso não obriga a que ignoremos todos os factos.

Ouvimos todos as escutas que envolviam dirigentes do Porto. Todos lemos emails que envolviam altos responsáveis do Benfica. Todos remetem para batota, para obtenção de favores, de vantagens, senão ilegais, seguramente arredadas de qualquer noção de ética.

Sabemos que, durante décadas, o Porto controlou aquilo que foi apelidado de “sistema”, e que foi em cima desse controlo que construiu a sua longa hegemonia no futebol português.

Sabemos que, depois, foi o Benfica que ergueu esse sinistro edifício de tráfico de influências, os emails são inequívocos, e foi através desse método que se reergueu o clube, que foi capaz de reconquistar uma relativa supremacia nas competições nacionais.

Tudo isto foi investigado, tudo isto desencadeou processos judiciais que, no caso da teia do Benfica, ainda estão em curso.

Devido a questões formais, que fazem com que não sejam aceites os principais meios de prova, tanto nas escutas que envolviam Pinto da Costa e outros dirigentes do Porto, como nos emails que implicam diretamente Luís Filipe Vieira e altos responsáveis do Benfica, consigo entender que não existam sentenças judiciais que confirmem tudo o que sabemos, condenando com a gravidade devida os responsáveis.

E, na ausência de condenação, eles passeiam-se por aí, impunemente, tantas vezes armados em grandes e impolutos “senhores” e a ousar dar lições aos outros. Mas todos sabemos o que eles fizeram e fazem. Todos sabemos do que eles são capazes. Todos sabemos, ainda que tantos se empenhem em branquear.

“Um bandido é um bandido”. Quando um bandido actua para seu benefício, alguém é sempre prejudicado.

Quando os nossos rivais são beneficiados pelas teias de influência que construíram em todos os níveis da sociedade, das polícias ao aparelho judicial, passando pela comunicação social benevolente e com alicerces bem firmados em poderes desportivos e políticos coniventes, isso prejudica o Sporting. E o que prejudica o Sporting, tem de nos dizer respeito. É connosco.

Por isso, pouco me interessa o que se passa nos outros clubes. Mas não posso deixar de saudar todos os que votaram para pôr fim a duas décadas que, ainda que com alguns sucessos desportivos, só envergonham um dos nossos maiores rivais.

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