Vivemos tempos novos, tempos de enorme indefinição sobre o que será o mundo pós- COVID, apenas com uma certeza: nada será igual. A nível mundial a recessão será devastadora, iremos atingir recordes de desemprego, as empresas ficarão no geral mais empobrecidas e, como consequência, a população perderá poder de compra, o que abalará de forma tremenda a economia mundial. Será um desafio para todos, para cada um de nós. E esta fatídica, crua, mas verdadeira análise, acabará naturalmente por afetar a indústria do futebol.
Numa análise simplória do futebol português, percebemos que, além das receitas ditas normais, entre bilhética, patrocínios, quotizações, que servem para os clubes pagarem os seus custos de operação, o seu lucro advém da mais valia da venda dos jogadores. No futebol português, eram comprados jogadores em mercados emergentes, com o propósito de os valorizar e saírem para grandes mercados, fazendo assim mais valias.
Paralelamente a isso, na formação, eram desenvolvidos jogadores, também no intuito de, a médio prazo, de se tornarem, primeiro, uma mais valia a nível futebolístico para, posteriormente, darem uma mais valia monetária. Este é o modelo base apresentado por todos os clubes, cada um à sua escala, uns com melhores resultados outros com piores resultados.
Se voltarmos um pouco atrás, a economia antes da pandemia era uma economia forte e pujante, e, mesmo em franco crescimento, os clubes davam prejuízo e os passivos continuavam a aumentar. Assim, é fácil perceber, que, a partir daqui, é necessário muito mais rigor na gestão global de um clube de futebol. Escrevo estas linhas porque sei que não será fácil para nenhuma empresa para nenhum clube de futebol o pós- COVID.
Por saber isso, e por todos termos essa noção, o meu receio é que a narrativa da venda da SAD do Sporting CP, que começo a ouvir repetidamente em alguns fóruns como a única salvação, comece a entrar paulatinamente na cabeça dos Sportinguistas. Interessante pensarmos que muita gente estaria interessada. E será porquê? Qual o propósito de investir? Um investidor tem um propósito, ter lucro. Se a Marca Sporting tem um enorme potencial e, se bem gerido, dará enormes lucros, qual o motivo dos Sócios do Sporting CP para venderem o seu clube, a alguém que a partir daí fará o que entender, sem que nós, a alma do clube, os possamos impedir.
O futuro do clube não poderá passar pela venda da sua SAD, mas sim por competência de gestores capazes de conseguirem, a nível financeiro, darem saúde ao clube, mas não em detrimento da sua competitividade, seja no futebol profissional ou nas modalidades. Temos de exigir ter equipas competitivas, vibrar com as nossas vitórias, mas isso não pode impedir que também estejamos vigilantes em relação às contas do nosso clube.
Estes novos tempos trarão dificuldades, que só serão ultrapassados com excelência a todos os níveis. Excelência essa que nós, enquanto associados, também temos a obrigação de a ter, que terá de estar patente em cada um de nós para não sermos influenciados pelo que se diz ou pelo que se escreve.
O Sporting CP é dos sócios e quero que a minha filha, quando for mais velha, o Sporting CP também seja dela.
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