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NUMERUS CLAUSUS
É certo que a renumeração foi posterior ao lançamento de uma campanha de recuperação de sócios mas não atender às consequências de lay-offs e do desemprego parece-me demasiado frio.
Imagem de destaque20 Jul 2020, 09:29

Jorge Jesus regressa à que foi a sua casa, dando algum fundamento às teorias que afirmam que estava tudo combinado, não desde Alcochete, mas desde o prévio acordo feito no Juízo do Trabalho do Barreiro, no âmbito do qual era representado por Rogério Alves, processo esse que o opôs ao Sport Lisboa e Benfica e que, tanto quanto foi noticiado, terminou com um estranho acordo em que este último cedeu em tudo o que havia por ceder. Não tenho grande coisa a dizer excepto que me parece fazer aqui sentido relembrar a velha máxima segundo a qual é impossível estar bem com deus e com o diabo. Mesmo quando os diabos são vermelhos. Principalmente quando o são. Posto isto, tal como a SIC provou nos últimos dias, não se deve confiar em quem salta facilmente de um lado para o outro da barricada, deixando contratos por cumprir e não honrando a palavra dada. Nos últimos tempos, o dinheiro vale quase tudo mas a dignidade, segundo creio, – ainda – continua a valer mais.

Ao mesmo tempo, começam a discutir-se, fora da sede própria, eventuais alterações aos Estatutos. Se as mesmas foram já versadas no Congresso denominado “Sporting Com Rumo”, o Record, aparente órgão de comunicação oficioso do Sporting, voltou a dar o mote, recolhendo opiniões sobre o mesmo assunto. Não mudo de opinião consoante os elementos que estão na Direcção em cada momento e, também aqui, entendo que tal discussão deve ser feita na sede própria, podendo, para o efeito e como ponto prévio, promover-se um inquérito aos sócios sobre as mesmas. Era o que se impunha porque, se a antiguidade é um posto em matéria de número de votos, já não é quanto à possibilidade que deve ser dada a todos no sentido de proporem novas soluções.)

O Sporting Clube de Portugal, tal como já anunciara, procedeu à renumeração dos sócios, apresentando como critério eliminatório a falta de pagamento de quotas há mais de dois anos.

Assim que a mesma foi anunciada e não desconhecendo que é prática fazê-lo de 5 em 5 anos, pareceu-me que o timing, ignorando completamente a época de pandemia que se vivia – e ainda vive – e que foi usada como fundamento para o adiamento do congresso do Sporting CP e para a Assembleia Geral, era o errado. É certo que a renumeração foi posterior ao lançamento de uma campanha de recuperação de sócios mas não atender às consequências de lay-offs e do desemprego parece-me demasiado frio. Sei bem que a dita operação foi justificada com um apego à verdade e ao rigor mas, se para a realização do órgão máximo se pode esperar, não vislumbro o que possa justificar esta inusitada pressa.

No meu caso concreto, subi cinquenta mil números, o que, longe de ser motivo de orgulho, me fez olhar para esta iniciativa com maior preocupação. Contudo, não alinho em qualquer dos lados extremistas que sobre esta questão se têm pronunciado. Desde logo, pelo meu caso concreto, consigo ter a percepção de que não foram, apenas, os sócios que entraram com Bruno de Carvalho, ou com mais propriedade, nos seus mandatos, que deixaram de pagar, como tenho lido amiúde nas redes sociais. Obviamente, a falta de pagamento é transversal e, pelos próprios critérios avançados, não teve em consideração os sócios que cancelaram o pagamento de quotas no pós-destituição.

Por seu turno, não posso, também, subscrever os moldes em que terá sido feita a anterior renumeração, em que, segundo se diz, apenas foram eliminados os sócios entretanto mortos, mantendo-se todos os demais.

O que é certo é que, se sempre fui a favor de serem apresentados números correctos, também me parece que o momento não era o mais adequado para uma operação destas. Quer a incerteza sobre o futuro de cada um de nós perante as consequências de uma pandemia que persiste em manter-se activa, quer o afastamento imposto da assistência nos estádios impunham que se esperasse mais uns meses antes de se procurar impor pagamentos.

Por outro lado, não se diga sequer que esta medida favorece o Clube. Numa época de crise já generalizada mas em que todos os sinais indicam um agravamento pós-Setembro, a apresentação de um número substancialmente encolhido de sócios não parece um sinal promissor para os patrocínios e é um sinal erróneo da dimensão do Clube.

Relembre-se que, bem ou mal e até agora, o Sporting Clube de Portugal estava no top 10 dos clubes com mais sócios, pelo menos na listagem do site Finance Football, posição que abandona agora. Ninguém sensato pode achar que é igual apresentar um clube com cerca de cento e cinquenta mil sócios do que outro de dimensão muito mais exígua.

Numa altura em que todo o dinheiro que possa entrar releva, cito o Professor Keating, do eterno filme O Clube dos Poetas Mortos: “Na vida, há tempo para se arriscar e tempo para se ser cauteloso, e um homem sensato sabe qual é o momento certo para cada uma dessas coisas”.

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