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OS ADEPTOS VIRAM UMA LUZ
O que este caso nos mostrou com clareza foi a irracionalidade volátil do adepto. O que não pode nunca falhar é a justiça e o quarto poder – a imprensa.
Imagem de destaque20 Ago 2020, 09:51

O poder, a informação e o seu momento são uma mistura perigosa e quase indestrutível. Uma sociedade livre e democrática depende da credibilidade da sua justiça e de uma comunicação social incisiva e corajosa. Vivemos tempos diferentes ao nível das fontes de conhecimento, da velocidade das mesmas e da facilidade com que se controla e manipula o que nos chega.

Citando o Neurologista e Neurocientista António Damásio: “As pessoas não se apercebem de que as tecnologias de comunicação originaram uma capacidade de entrar na nossa mente, de monopolizar a nossa atenção e de intervir nos nossos juízos”.

Desde que me conheço que leio sobre o facto de Portugal ser uma país benevolente com os casos de corrupção. De não ter praticamente cidadãos condenados por corrupção nas prisões nacionais. De a justiça portuguesa não conseguir punir os mais poderosos ou quem está em cargos de poder. De a classe política fechar os olhos e viver bem com o status quo. De a comunicação social investigar pouco. De termos cada vez mais comentadores que são caixas-de-ressonância de interesses. No futebol não é diferente.

Ainda hoje os adeptos do F.C. Porto falam sobre a sua história desde a década de 80 ignorando os áudios que todos ouvimos, os vídeos que todos vimos no youtube, as declarações dos vários intervenientes à época ou a decisão do tribunal relativamente às “escutas ilegais”. O apito dourado não passa de uma lenda no imaginário dos adeptos rivais.

Mais recentemente tivemos no S.L. Benfica uma série de situações que demonstram objetiva e tristemente o quanto os valores e a honestidade valem para uma grande maioria dos adeptos: quase nada. Será a responsabilidade deles? Enquanto a equipa ganhava e era do conhecimento público como funcionavam as cartilhas com os comentadores, as lamentáveis declarações aquando da morte do Marco Ficini, o modus operandi das claques ilegais, a conivência com as claques ilegais que entoavam cânticos e exibiam faixas que celebravam a morte de adeptos rivais, o caso dos E-mails e o seu conteúdo, o caso E-toupeira, a Operação Lex, o caso dos Vouchers, a investigação sobre a lavagem de dinheiro ou o caso Mala Ciao – para os adeptos do clube rival não havia problema nenhum. Os nossos altos representantes da nação iam sentar-se na tribuna da luz e a comunicação social, com raras exceções, nunca investigou ou procurou saber mais. E sabemos bem o poder que uma notícia no ar tem versus o que é pouco noticiado. Na última época a bola bateu no poste e Jorge Jesus foi anunciado como treinador. Desta vez parece que foram os adeptos que viram uma luz. Já questionam e dizem o óbvio: Luís Filipe Vieira “não pode sair da Presidência”. Só tenho pena que ninguém lhes pergunte o porquê dessa afirmação. Que ninguém faça essa pergunta publicamente e a quem teve e tem responsabilidade para que nada tivesse sido feito nos últimos anos. O brutal investimento que está a ser feito não é problema nosso, mas devia ser um alerta. Não pelo facto de se investir em ano de eleições, mas pelos valores, contornos e situação mundial com uma possível segunda vaga do Covid-19. O que este caso nos mostrou com clareza foi a irracionalidade volátil do adepto. O que não pode nunca falhar é a justiça e o quarto poder – a imprensa.

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