Caras amigas e caros amigos sportinguistas,
Estes são tempos de muita provação, mas também de reflexão, sobre os muitos fatores que compõem a nossa vida. Esta pandemia acarreta consigo transformações contundentes, para o nosso dia-a-dia, nos tempos vindouros. Mas, para além destas coisas más, ela também vem obrigar a sociedade a repensar muitos aspetos que, sem uma catástrofe destas, estariam eternamente adiadas, por força da dinâmica consumista dos mercados e do status quo de uma sociedade cada vez menos agregada.
Esta pandemia colocou-nos perante o desafio de relativizarmos muitas das nossas prioridades e de corrigirmos muitos caminhos. As sociedades desportivas não ficam alheias a tudo isto. Bem pelo contrário. O desporto é um grande aglutinador de pessoas, e o forçoso isolamento social vem trazer-lhe novos e enormes desafios, perante uma nova realidade durante a qual teremos de viver mais “afastados” uns dos outros. O desporto profissional transformou-se numa maquiavélica indústria que faz circular muitos milhões, com impacto enorme nas nossas vidas e que, nem sempre, sabemos conferir os efeitos nefastos da mesma. Hoje é tempo de pensarmos no que andamos a branquear, sem nos apercebermos.
Há umas semanas trouxe à discussão um artigo intitulado: “E DEPOIS DO COVID-19…?” Nele eu colocava as minhas preocupações, e lançava o alerta para que as sociedades desportivas começassem a redefinir as suas linhas orientadoras, tendo em vista esta nossa realidade. E que isto teria de ser feito de imediato. Quando muitos pensavam que eu estava a ser prematuro, nesta exigência de reflexão e de reorganização, eis que ela aí está com cariz de urgência.
As sociedades desportivas, como muitas outras indústrias, têm que virar-se mais para si e para a sua capacidade interna de produção. Investir, rentabilizar, valorizar, promover e dar prioridade à produção interna tem que ser a chave para a saída desta crise. No caso do Sporting é o voltar a um passado, não muito distante, que nunca deveria ter sido descuidado, ou seja, á aposta inequívoca e prioritária na academia. A busca desesperada de reforços, nos adversários, para além de os fortalecer financeiramente, é também a principal alavanca para a incompreensível inflação dos valores das cláusulas de rescisão dos jogadores.
A formação está no ADN do Sporting e isso é reconhecido mundialmente. Por razões, que por agora não importam, desligámo-nos, desinvestimos e descuidamos esta referência importantíssima. Soubemos formar, mas, regra geral, não tivemos tato para tirar o devido proveito da nossa formação. Muitas vezes vendemos prematuramente e não exigimos o devido valor, pelos ativos por nós formados.
O Sporting tem que voltar a ter uma academia de formação que se compagine com o seu passado. Dela devem sair jogadores para constituir o grosso da nossa equipe principal que, com 3 ou 4 contratações de referência, possam formar uma equipa ambiciosa que lute pelos lugares cimeiros e traga títulos ao Sporting. Assim, não só fazemos uma enorme contenção de custos, não contratando ao desbarato e dando tiros para no escuro, como damos palco à nossa formação, valorizando, nacional e internacionalmente, os ativos formados por nós.
Que esta pandemia seja a força, e nos traga a coragem, para nos colocarmos no lugar certo, de onde nunca deveríamos ter saído.
Temos que aproveitar, e bem, o que sempre produzimos de bom! Não há muito por onde divagar. Penso que este é o caminho que a realidade económica nos reserva e que a boa gestão exige!
Este vírus roubou-nos muito! Mas também nos traz novas oportunidades! Saibamos ter a humildade, a coragem e a inteligência para tal!
Protejam-se! Muita saúde para todos e saudações sportinguistas.
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