Nesta pré-época só temos notícias de dívidas a terceiros ou jogadores a sair. Todos os dias. E esta intoxicação é fatal.

O futebol é hoje jogado para lá das quatro linhas. É um chavão, mas que insiste em ser atual. Mais do que o treino, a capacidade de ter bons jogadores e treinadores, todo o processo que envolve o jogo, uma equipa também ganha nos bastidores, na forma como comunica e na força que demonstra. Sobre os bastidores este país assiste incrédulo a todo e com uma indiferença gritante.

Sobre o resto, ou seja, a forma como se comunica (também inclui os bastidores), o nosso Sporting continua a não entender que o campeonato começa no verão. É a pré-época que também nos dá dinâmica ou não, que empolga ou frusta expetativas. E é tão fácil, mas tão fácil criar dinâmicas positivas e negativas. Exemplos? As contratações ou supostas contratações de jogadores. Agosto é um mês de férias por excelência dos portugueses (quem consegue ter férias). É um mês de maior predisposição para acompanhar estes temas das contratações, dado que até nem jogos existem para nos distrairmos. Assim, por cada possível contratação do Sporting, o desfecho previsível é acabar num dos rivais. Posso falar de Nuno Santos e Taremi, por exemplo. Mas sabemos bem que são muitos os casos. Sporting interessado no jogador X. Jogador X custa Y. Sporting faz proposta. Proposta do Sporting ainda não satisfaz Clube Z. Benfica ou Porto entram na jogada. E aqui ou acaba num dos rivais ou o Sporting acaba por pagar mais. Normalmente, a primeira opção. Eu sei que o mundo do futebol é complexo. Também sei que existe imprensa, existem agentes de jogadores. É uma indústria. E as armas que temos, bem é a nossa própria comunicação. Ora, para tal temos dois caminhos. Ou agimos ou reagimos. Ficar parados é que não. Agir obriga a saber o que dizer antes. Exige estratégia. O silêncio poderia ser se os resultados ajudassem. Não é o caso. Saber que existem sempre expectativas de bons reforços e, como tal, conseguimos comunicar antes sobre a nossa real capacidade, reagir pode ser a desmentir rapidamente todos estes possíveis jogadores. Pinto da Costa ainda demonstrou, esta semana, de forma perfeita, como se faz.

Eu sei que o segredo é a alma do negócio. Também sei que bons negócios dependem de muitas variáveis, mas é preciso ter a noção de que a massa adepta lê jornais e compreende que nesta pré-época só temos notícias de dívidas a terceiros ou jogadores a sair. Todos os dias. E esta intoxicação é fatal. Na nossa expectativa, mas também comercialmente. Bem sei que o mundo atual é uma tremenda incerteza, nem os lugares no estádio estão garantidos na próxima época, mas bons reforços ajudam e muito a criar ondas positivas em torno da equipa. É que só fomos campeões nos últimos 20 anos com reforços a sério. Relembro Schmeichel e André Cruz, mais João Vieira Pinto e Mário Jardel. Nomes que nos fizeram sonhar, mas sobretudo que nos deram alegrias.

Os campeonatos começam a ser conquistados na pré-época. É que se não nem ao Natal chegamos.